Raquel Cabaço tem 34 anos e respira atletismo a todo o momento. Não se limita a ser atleta, tendo fundado um clube com o seu nome, onde é também treinadora. Como atleta não profissional, é dona de um rico curriculum desportivo, com muitas vitórias em provas de estrada.
Raquel Cabaço é uma alentejana natural de Évora que desde cedo, ganhou a paixão pelo desporto. Aos 34 anos, é dona de um rico curriculum para uma atleta não profissional, com inúmeras vitórias em provas de estrada. Conhecemo-la no final da Meia Maratona de Setúbal onde foi segunda e muito simpática, mostrou-se logo disponível para ser a próxima “Atleta do Pelotão”.
Mais do que uma simples entrevista para conhecer a atleta Raquel Cabaço, é ume entrevista em que ela nos transmite muitos dos seus conhecimentos sobre a modalidade.
Qual é a sua profissão?
Desempenho funções na Câmara Municipal de Évora como Professora de Atividade Física e Desportiva no âmbito das Atividades de Enriquecimento Curricular no 1º Ciclo do Ensino. Para além disso, sou treinadora de atletismo e personal trainer no Clube Raquel Cabaço e uma das técnicas responsáveis pelo Centro de Marcha e de Corrida de Évora
Há quantos anos treina e como apareceu o atletismo na sua vida?
Desde tenra idade, sempre tive um grande gosto e paixão pela atividade desportiva. Dessa forma, aos meus 13 anos, numa fase inicial em termos do desporto escolar, nomeadamente futebol e andebol, acabando por ser no voleibol o desporto onde tive mais anos e onde obtive mais sucesso, tanto a nível individual, como coletivo.
Para manter a condição física, apesar de estar noutras modalidades, sempre fiz corrida de forma lúdica. Perto da minha residência, existe o Circuito de Manutenção de Alto dos Cucos, sozinha ou com a companhia do meu pai, ia fazer lá alguns treinos, sem qualquer tipo de orientação técnica.
A grande transformação em termos do Atletismo, ocorreu para mim aos 18 anos com o ingresso na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Com a mudança de cidade de Évora para Lisboa, derivado à proximidade do Estádio Universitário, acabei por optar por fazer só corrida. Fazia os meus treinos e assistia a treinos de atletas que já faziam competição.
Dessa forma, foi a primeira grande alteração em termos desportivos, porque além de aliviar todo o stress do estudo, aprendia com os outros atletas, crescendo em mim cada vez mais, a paixão e a motivação de praticar atletismo de competição.
Numa corrida no Circuito de Manutenção de Alto dos Cucos, um olheiro do atletismo veio falar comigo e recebi um convite para ir experimentar um treino numa equipa de atletismo de competição de Évora. Apesar de ser algo que gostava bastante, não aceitei desde logo, porque como estudava em Lisboa, seria difícil conciliar tudo.
Aos 22 anos, voltei a viver em Évora e recebi novo convite para ir experimentar. Lá fui eu alegremente para o meu primeiro treino com orientação técnica. Como correu tudo tão bem, ingressei no Grupo Desportivo Diana e tive o meu primeiro treinador João Ferrão.
Neste momento, sou treinadora e atleta federada no “Clube Raquel Cabaço”.
“Algo que considero extremamente importante, é o acompanhamento próximo e presencial do treinador em relação aos atletas”
Treina quantas vezes por semana?
O número de treinos semanal varia consoante o período da época, se é um período de base, pré-competitivo ou competitivo, bem como a distância-alvo (prova) que naquele momento estamos a fazer a preparação.
De uma forma geral, faço cerca de 11 treinos semanais, o que inclui entre 3 a 4 treinos bi-diários, o volume de quilómetros por semana passa sempre a centena.
Como se deve calcular, uma vez que não sou profissional, um dia de treino normal para mim é acordar às 6:30 da manhã, ir treinar cerca de uma hora, posteriormente ir para o trabalho, por volta das 17:00 fazer o treino da tarde e dar treino às 18:30 aos meus atletas.
São bem conhecidas as necessidades do treino que obrigam os atletas a disporem do tempo necessário para repouso, para a recuperação, aconselhamento médico e o tempo necessário para que as cargas apenas consigam ser corretamente assimiladas pelo organismo.
Tem treinador? Costuma ter algum plano de treinos?
Sim, apesar de eu ser treinadora de atletismo, para mim é algo fundamental termos igualmente um treinador, pelo compromisso que se cria em relação ao treino, porque naquele momento, só pensamos enquanto atletas e isso é uma sensação excelente.
O meu atual treinador é o Professor Orlando de Jesus Semedo Mendes Fernandes, Professor Auxiliar no Departamento de Desporto e Saúde da Universidade de Évora, sendo um verdadeiro especialista na Análise dos movimentos em Biomecânica do sistema músculo esquelético.
O Professor Orlando prepara uma planificação de treino que me permite uma boa progressão na capacidade de rendimento. Deste modo, consigo assim um desenvolvimento harmonioso da força, velocidade e resistência durante todo o ano desportivo. A diversidade de meios e exercícios utilizados é fundamental para criar uma adaptação gradual no organismo com estímulos de treino que devem variar ao longo do ano.
Com os métodos de treino do professor Orlando, alcanço um trabalho constante que visa uma mobilização das fibras de contração rápida, de modo a manter uma boa capacidade de enervação muscular para corridas de diferentes intensidades de esforço.
Algo que considero extremamente importante, é o acompanhamento próximo e presencial do treinador em relação aos atletas. Por vezes, já tem acontecido apesar de no plano de treino, estar um treino em concreto, com o desenrolar do mesmo e das sensações que vou transmitindo, haver ajustes ao treino. Isso faz com tenhamos treinos sempre mais produtivos, para além de que a correr por vezes, cometemos erros que não nos apercebemos e assim são logo corrigidos.
Ter o treinador na sessão de treino, é igualmente um fator motivacional muito importante, até porque o papel do treinador tem sofrido grandes alterações. Por vezes, costumamos dizer que o treinador, é o segundo pai ou o nosso melhor amigo, em que precisamos mesmo de confiar.
“Eu por norma, consigo executar bi diários e treinar todos os dias, mas não podemos esquecer que o descanso e a recuperação fazem parte do treino”
Como concilia os treinos e corridas com a sua atividade profissional?
Não é uma tarefa fácil mas a verdade, é que para mim, é a concretização de um projeto, tanto como atleta bem como treinadora, num processo em que as dúvidas e os momentos de reflexão são constantes.
São rotinas pesadas que no final da semana acabam por fazer parte de um processo de dedicação ao que nos propomos na vida. A prática da atividade física independente da idade, é fundamental para a saúde e para o bem-estar. Costuma-se dizer “Quem corre por gosto não se cansa”.
Segundo os estudos, a capacidade de praticar exercícios físicos com frequência está associada a uma condição ou predisposição genética ligada ao somatótipo (tipo físico) de cada pessoa.
Treinar atletas exige da parte do treinador, uma grande flexibilidade/conhecimento no cumprimento do treino planeado.
“Se quiser correr, corra uma milha! Se quiser experimentar uma outra vida, corra uma maratona” – Zatopek
Quando foi a primeira corrida oficial de estrada? Que achou dela?
Antes de pertencer a um clube desportivo, já tinha feito algumas provas de estrada, no entanto vou considerar a minha primeira prova já como atleta federada e com orientação técnica.
Quando iniciei a minha primrira prova oficial de estrada, 2012, foi um misto de emoções de nervosismo em que vais buscar tudo à tua cabeça (só quem corre compreende). Ainda por cima, vínhamos de provas de corta-mato, não estando dessa forma, tão habituada a correr na estrada, com tantos atletas. Lembro-me de poucas horas de sono, dava comigo a pensar: ‘Não posso comer muito de manhã, tenho que hidratar, não posso fugir do ritmo, espero que os ténis não me aleijem, etc’.
Com o passar das provas, comecei a conseguir encontrar uma satisfação muito grande em competir, o que ajudar a potenciar o bem-estar e a combater a exaustão, a dor, o esforço e o stress anti prova. Apesar de hoje, quando entro na competição, as responsabilidades serem diferentes, porque a nível classificativo e de tempo, as ambições são muito superiores, já não tenho as sensações daquela primeira prova. É igual que enquanto atletas, vamos aprendendo a lidar.
“Competir em excesso é prejudicial e pode atrasar o desenvolvimento natural dos atletas”
Quantas corridas faz em média por ano?
O número de provas que faço por ano depende muito dos objetivos iniciais para essa época. Mas por exemplo, se o objetivo nessa época for realizar uma maratona, o número de provas será muito reduzido.
A preparação para uma maratona é no mínimo entre 3 a 4 meses, depois temos a recuperação pós-maratona, pelo que temos que analisar muito bem o nosso organismo.
Por isso, tem anos que realizo em média cerca de 10 provas por ano, por exemplo uma maratona, três a quatro meias-maratonas, algumas provas de 10 km e se o clube precisar, um corta-mato ou prova de pista.
É muito importante que se perceba que os atletas para melhorarem os seus desempenhos desportivos, necessitam de bons períodos só a treinar. Isso é que vai permitir otimizar as suas capacidades e qualidades, depois com o aproximar da competição-alvo, colocam provas para ganhar o “ritmo competitivo”.
Competir em excesso é prejudicial e pode atrasar o desenvolvimento natural dos atletas.
“O gosto e o prazer que sempre tive pela corrida, continua acentuado em qualquer prova que se concretize, todavia, a “MARATONA” é especial”
Qual a(s) corrida (s) em que mais gosta de participar?
A minha corrida de eleição é sem dúvida a maratona, aquela distância mítica dos 42,195 km, é onde eu mais gosto de correr e de preferência, com muito público a motivar, uma sensação incrível. Adorei cada metro da minha maratona, é a distância que me vejo a fazer a médio e longo prazo, até pelas minhas caraterísticas enquanto atleta.
Para além da maratona, gosto muito de fazer meia-maratonas e provas de 10 km, basicamente a minha preferência acaba por ser a estrada. Gosto particularmente de correr em provas que tenham muitos atletas em que o nível competitivo seja muito alto.
Nós evoluímos é em correr com e contra os melhores, é isso que nos dá aquele boost, que nos faz transcender e superar, seja na competição bem como nos treinos.
O gosto e o prazer que sempre tive pela corrida, continua acentuado em qualquer prova que se concretize, todavia, a “MARATONA” é especial…
E a(s) que menos gostou de participar?
Pessoalmente, não existe nenhuma prova que eu não goste de participar, tendo inclusivamente feitos resultados muito bons, mas o corta-mato não me atrai muito em termos de competição.
Reconheço a sua importância em termos de atletas e dos ganhos para nós atletas, essa é a razão porque ainda faço alguns. No entanto, aquela sucessão de fatores (mudanças de ritmo/direções constantes, sapatilhas de bicos, piso escorregadio etc.), faz com que a minha motivação não seja muito elevada.
Deixo-vos uma frase de Emil Zatopek:
“Se quiser correr, corra uma milha! Se quiser experimentar uma outra vida, corra uma maratona”!
“Para mim, correr é a minha terapia e o meu otimismo é nunca desistir até que o meu cérebro deixe”
Já correu a maratona? Como foi a experiência?
Sim, já tive o privilégio de me sagrar uma maratonista. Até este momento, derivado inclusivamente à pandemia do covid-19, com grande pena minha, ainda só fiz uma maratona.
A estreia foi em 2019 na cidade de Badajoz, posso passar como testemunho que é algo mágico, após certa distância o corpo transcende a mente e um pouco mais adiante, parece que despimos a própria alma…
É uma paixão que chega devagarinho e que te domina por completo…
Posso dizer que a minha experiência foi muito boa, gostei desde logo da própria preparação, o ter que fazer semanas com mais de 160 quilómetros, só me trazia motivação e alegria. Posteriormente, o grande dia foi formidável, desde o público a apoiar, os abastecimentos, o percurso, a classificação e o tempo final.
Fizeram-me querer muito mais e treino a pensar quando volto a fazer a próxima maratona.
Se participa em trails, qual a grande diferença relativamente às provas de estrada?
Nunca participei em nenhuma prova de trail, apesar de já ter sido convidada para esse efeito.
No entanto, a corrida de trails sendo conhecida como uma corrida a todo-o-terreno, em trilhos de montanha, colinas, riachos com subidas e descidas íngremes, não é algo, pelo menos para já, que me atraia muito. Um dia mais tarde, talvez venha a divertir-me nos trails
Qual foi o momento da carreira que mais a marcou?
Já tive momentos que me marcaram na carreira, desde as vitórias no Grande Prémio de São em Évora, Grande Prémio da Cruz da Picada e ter feito pódio nas Meias-Maratonas de Évora.
No entanto, tenho que destacar dois em particular: a minha primeira maratona realizada em Espanha e o outro sem dúvida alguma, foi a minha primeira prova e respetiva vitória, ainda por cima realizada em Évora, correndo pelo Clube Raquel Cabaço.
Sinceramente, espero nunca vir a deixar de correr, acredito plenamente nisso. Sei que todos os processos fisiológicos precisam de energia, mas “o cérebro” é o órgão que mais consome energia, queima num dia as mesmas calorias que correr meia hora. Para mim, correr é a minha terapia e o meu otimismo é nunca desistir até que o meu cérebro deixe.
“A experiência tem-me ensinado que não adianta treinar se o atleta não estiver bem de saúde, assim como se o corpo não estiver preparado para estes ritmos alucinantes”
Costuma fazer exames médicos de rotina?
Os exames médicos para nós atletas federados são obrigatórios, todas as épocas precisamos que o exame médico-desportivo seja considerado Apto, assim como os exames complementares que lá são exigidos.
No entanto, a experiência tem-me ensinado que não adianta treinar se o atleta não estiver bem de saúde, assim como se o corpo não estiver preparado para estes ritmos alucinantes.
Para além dos exames e avaliações médicas, é muito importante fazer análises ao sangue e urina, 2 a 3 vezes por ano. Por exemplo, para nós mulheres das longas distâncias, é muito comum termos o valor de ferro baixo (ferritina sérica), ingrediente na produção de hemoglobina, que transporta o oxigénio dos pulmões aos músculos.
Quando fazemos o planeamento da época, já englobamos os exames e avaliações médicas, afinal é a única medida protetora contra riscos raros, mas, possíveis na prática do atletismo.
“A alimentação é o combustível para o atleta, sem isso, a resistência, força e desempenho geral serão reduzidos”
Na minha carreira no desporto, até este momento não tive que enfrentar nenhuma lesão grave que me impedisse de treinar por um médio ou longo período.
É evidente que quem treina muitos quilómetros todas as semanas e com grande intensidade, sempre tem uma mazela, músculos contraídos, aquilo que chamamos os toques ou as dores do “ofício”.
Para prevenir as lesões aparecerem, alio aos treinos de corrida, treinos específicos de reforço muscular. Dessa forma, o professor Orlando Fernandes faz o planeamento dos treinos de reforço muscular, consoante a carga de treino que tenho semanalmente de corrida. Neste caso, é uma vantagem ele ter um largo conhecimento e experiência nas duas áreas, este tipo de treino permite-me o fortalecimento dos meus músculos, o que me proporciona uma melhor resposta nos meus ossos, músculos e articulações.
Outro tipo de trabalho que é fundamental ser feito é ao nível dos Alongamentos e da Flexibilidade. Nesta área, considerei muito útil para a prevenção de lesões e melhoria da recuperação, fazer uma parceria com a Zen Concept Clinic, nomeadamente com o Dr. Fábio Bazílio e Dra. Fernanda Afonso, em termos dos tratamentos e massagens desportivas.
Tem algum tipo de cuidado com a alimentação?
A alimentação é o combustível para o atleta, sem isso, a resistência, força e desempenho geral serão reduzidos. Para tirar o máximo de proveito da modalidade, é necessário um grande rigor e dedicação em ingerir os melhores alimentos para atletas.
Dessa forma, encaro a minha dieta como uma das prioridades para a gestão dos esforços, seja antes, durante ou após os treinos. Por exemplo, à medida que o meu corpo liberta a energia através do treino/provas, preciso reabastecer todos os nutrientes perdidos, para que não haja uma acumulação de fadiga tão grande.
O treino diário e a recuperação exigem um plano alimentar, por isso sou acompanhada pela nutricionista, Cláudia Minderico.
Se não estivesse no atletismo, que modalidade gostaria de ter seguido?
A corrida faz o meu corpo sentir-se vivo e a minha mente tranquila, não há nada melhor, dos benefícios que a corrida me traz, a união entre o corpo e a mente é, talvez, o maior de todos…
Não me imagino noutra modalidade, nem sei o que teria seguido! A minha convicção: “jamais seria feliz” …
“O atletismo não é visto como uma modalidade em que o atleta tenha um futuro profissional, basta compararmos por exemplo com os apoios que são dados ao futebol”
Que futuro vê para o atletismo em Portugal?
Ao longo dos últimos anos, tem-se falado muito na crise do meio-fundo e fundo, que os resultados são escassos tanto ao nível nacional bem como internacional. No entanto, reparo o grande número, principalmente em termos de atletas femininas que temos neste momento, bem como na enorme qualidade, sinceramente não vejo a crise.
Penso sim, que os atletas deviam ser muito mais apoiados, quer em termos financeiros, bem como em termos de uma estrutura multidisciplinar, em que observassem, analisassem o desempenho e fossem introduzidas melhorias.
O grande problema igualmente é, que o atletismo não é visto como uma modalidade em que o atleta tenha um futuro profissional, basta compararmos por exemplo com os apoios que são dados ao futebol.
Gostava sinceramente que o nosso futuro fosse risonho, que voltássemos a ter aquela paixão, que as próprias televisões transmitissem mais provas de atletismo e que os nossos atletas não fossem só lembrados quando ganham as medalhas em Europeus, Mundiais ou Jogos Olímpicos, mas sim que lhes fossem dadas todas as condições de treino que eles necessitam.
O que mais aprecia no mundo das corridas?
As corridas são uma expressão atlética mais pura que o homem/mulher já alguma vez desenvolveu. No meu Clube “Raquel Cabaço”, somos um grupo de amigos que partilha o gosto pela corrida. A amizade e a entreajuda são nossos lemas da qual temos um slogan: “Sempre juntos e mais fortes”
Promovemos treinos de vários níveis e todos os que pretendem sair da sua zona de conforto e evoluir serão bem-vindos.
A minha visão consiste em permitir a todos, a experiência de correr ou caminhar, usufruindo do apoio de uma comunidade que nunca deixará ninguém para trás.
Sugestões para uma melhor organização das provas?
Os organizadores devem garantir a segurança de atletas e demais intervenientes (juízes, voluntários, público, etc.). Devem ter em atenção detalhes específicos de cada prova. Por vezes, realizam-se provas em que o policiamento é mal gerido e os atletas correm no meio das viaturas automóveis.
Os percursos devem ser bem marcados de forma que não sejam exigidas capacidades de orientação dos atletas.
A verdade é que a concretização de um projeto deste género obriga a que sejamos, acima de tudo, agentes de reflexão, num processo em que as dúvidas são constantes e em que os problemas surgem a todo o momento.
Projetos futuros na modalidade?
Tendo em conta a minha idade biológica, tenho como projeto futuro apostar na distância da maratona.
É importante criar uma variedade de meios e métodos de treino, diversificando quanto possível, para que os atletas estejam sempre motivados.
Bem como, procurar locais de treino agradáveis, em que haja uma vigilância por parte do treinador na qualidade de execução e correções dos exercícios que ajudem no crescimento do “Clube Raquel Cabaço = RC Team”
Quando e como apareceu a ideia de fundar o clube com o seu nome? Quais os seus objetivos?
Em 2019, concluí o Curso de Treinadores de Atletismo Grau I, adquirindo o direito à posse da respetiva Cédula de Treinador de Desporto, passada pela Federação Portuguesa de Atletismo.
A ideia da formação do clube foi derivada a um grupo de pessoas entusiastas e apaixonadas pelo desporto e promoção do bem-estar e uma vida mais saudável. Assim, a 10 de Outubro de 2019 foi fundado o Clube Raquel Cabaço.
Os cinco grandes objetivos do Clube são:
Posteriormente, os Grupos de Competição têm como objetivo a especialização num dos setores do atletismo, visando o rendimento desportivo. Os treinos destes grupos são divididos pelas diversas áreas de especialização.
- Para ser mais atrativo, denominámos as nossas camadas jovens dos Pinguins que contempla dois grupos: o Elementar e o Avançado.
A formação das crianças nestes grupos é multidesportiva, envolvendo o contacto com atividades de Atletismo e Ginástica. Todas as tarefas motoras que nós chamamos habilidades, são mais facilmente aprendidas pelas crianças nesta fase. O confronto com um leque de vivências diversas possibilita uma melhor aprendizagem, permite um harmonioso desenvolvimento das capacidades motoras, aumenta a motivação e fomenta o desenvolvimento das habilidades motoras. O Grupo Elementar destina-se a crianças nascidas em 2011 e 2012 (Benjamins A) e o Grupo Avançado a crianças nascidas em 2009 e 2010 (Benjamins B). - Foi um projeto e um sonho que começámos com o Professor Pedro Rocha, será sempre uma forma de agradecimento e homenagem para ele.
O objetivo principal do Centro passa por promover hábitos de vida ativa e saudável na procura do lazer, na saúde e a melhoria da qualidade de vida da população (habitantes permanentes) através da prática regular da marcha e corrida, bem como envolver e desenvolver mecanismos de cooperação entre diferentes instituições (clubes, associações desportivas, escolas, entre outras) para um projeto municipal no âmbito da modalidade.
No Centro de Marcha e Corrida fazemos uma avaliação física inicial a fim de fazer uma prescrição de treino adequada, numa recolha de dados sobre a composição corporal (peso, IMC, percentagem de massa gorda e percentagem de massa muscular). Simultaneamente, é feita uma avaliação da pressão arterial, da aptidão cardiorespiratória e força/resistência muscular e, ainda, são feitos testes de flexibilidade e avaliação postural. Passando estas etapas, o profissional dispõe de informação suficiente para iniciar a prescrição de um plano de treino eficaz e seguro.
- Já efetuámos algumas atividades junto de Instituições de Solidariedade Social. Neste momento, já temos três atletas com necessidades educativas especiais (duas com Síndrome de Down e uma menina com Displasia Óssea), mas queremos aumentar mais este número de atletas.
Os nossos objetivos neste projeto são: promover a inclusão e a igualdade de oportunidades no acesso a atividades de carácter desportivo, social e cultural, facilitadoras da promoção da saúde e o bem-estar físico, psíquico e social da comunidade eborense, independentemente das diferenças e potencialidades de cada um;
Potenciar práticas desportivas junto da comunidade eborense, alargando desportos tradicionalmente associados a determinados grupos de população, a outros que também possam daí retirar bem-estar e sentimentos de pertença.
- O objetivo é efetuar um acompanhamento mais próximo e adaptado às individualidades e especificidades de cada um, ajudando a potenciar os resultados e a satisfação das suas reais necessidades. Estamos perante profissionais de saúde e fitness que sabem o que é necessário para que fique em forma, sendo ainda excelentes motivadores para que não desista de atingir os seus objetivos.
Neste momento, o nosso objetivo é crescer em número de sócios, atletas e patrocinadores, aproveitando este momento para agradecer a todos os nossos atletas e respetivos familiares, bem como aos nossos patrocinadores Prauto, Zen Concept Clinic e Ferlonga Lda.
Se queremos chegar onde outros não chegam, é preciso fazer tudo aquilo que os outros não fazem
Uma ou duas estórias curiosas acerca das suas corridas?
Uma das histórias mais curiosas, foi passada com um amigo meu. Para enquadrar melhor o meu amigo, é um rapaz robusto atlético e com muitas capacidades para praticar atletismo, só que para ele, a preguiça de treinar, é muitas vezes muito superior à vontade de treinar.
Um dia, convidei-o a acompanhar-me numa prova de 10.000 metros, esse meu amigo referiu que não me podia acompanhar pois assim que desse o tiro de partida eu nunca mais o via. Como ele é rapaz, tem muita força e corre muito (mas não treinava).
Iniciámos a prova e eu de facto, nunca mais o vi até que chegámos ao km 5 da prova. Comecei a vê-lo ao longe e fui-me aproximando cada vez mais, ao km 7 passei por ele, quando terminei a minha prova, fiquei na linha de chegada à espera dele, passados 4 minutos lá chegou ele, vinha completamente de rastos e atirou-se para o chão, confessou que pensou nos últimos quilómetros várias vezes em desistir. A moral desta História é que sem treinos nada se consegue.
Mais algum aspeto que ache de interesse divulgar
Acho algo que é importante que todos os atletas percebam: por vezes, acordamos desanimados e refletimos sobre os percalços da vida. Questionamos se estamos a fazer as escolhas certas e se realmente as coisas nas quais apostamos são as melhores opções.
No entanto, apesar da correria diária, não devemos nunca desistir dos nossos sonhos, afinal a perseverança é a amiga da conquista: Se queremos chegar onde outros não chegam, é preciso fazer tudo aquilo que os outros não fazem.
Existem duas frases do saudoso Prof. Moniz Pereira que me marcam muito: “A sorte dá muito trabalho” e “Há treino todos os dias.”