O queniano Eliud Kipchoge, novo recordista mundial da maratona com 2.01.39 em Berlim, deu uma entrevista ao jornal brasileiro “Estado” na qual conta como chegou ao recorde e da possibilidade de superar a barreira das duas horas. Dado o seu interesse, reproduzimos a referida entrevista.
Bateu o recorde mundial da maratona. Ficou surpreso com o tempo que fez?
Eu senti-me ótimo, mas realmente fiquei surpreso ao chegar em 2h01m39s. Sabia que tinha chances de bater eventualmente o recorde mundial, mas não imaginava que seria tão rápido assim.
É a realização de um sonho?
Com certeza. Esperava bater o recorde, mas não imaginava que o cronómetro chegasse nas duas horas e um minuto. Eu apenas esperava poder correr abaixo de 2h02m57s, que era a antiga marca da prova.
Uma de suas características é estar sempre sorrindo, mesmo correndo sob pressão e fazendo esforço. Como consegue isso?
Maratona é a minha vida. E se você realmente quer ser feliz, então tem de aproveitar a vida. É por isso que sorrio, porque gosto de correr a maratona.
Qual foi a sua estratégia para a Maratona de Berlim?
Tinha um plano simples: manter um ritmo alto e correr a primeira metade entre 61 minutos e 61 minutos e 15 segundos (correu em 61m06). Fiz isso.
Todo maratonista sonha em derrubar a mítica barreira das duas horas na prova. O seu tempo ainda está acima disso. Acha que um dia vai conseguir o feito?
Não existe uma ciência de foguetes para quebrar essa barreira. Você tem simplesmente de acreditar que pode e necessita de um grande time que acha que seja possível. É preciso ter sapatos perfeitos e também precisa ser mais forte do que qualquer outro corredor. Então tudo é possível.
No ano passado, existia uma grande expectativa de que pudesse bater o recorde nessa prova, mas não deu. Dá para comparar com a edição deste ano?
Há tempos que venho gostando da Maratona de Berlim, mas no ano passado, o tempo na cidade estava mau. Este ano o clima foi ótimo. Tanto que é o meu lugar favorito para correr, pois é plano e uma prova rápida.
Como foi a reação do público ao acompanhá-lo na disputa?
As pessoas foram incríveis. Sem os torcedores aplaudindo, teria sido muito mais difícil no final. O apoio era como música para os meus ouvidos.
Logo no início, deixou os rivais para atrás, imprimindo um ritmo forte. Esperava isso?
Eu não pensava nos meus concorrentes, a única coisa em que me concentrava era no ritmo que queria correr. Estava sozinho nos últimos 17 quilómetros, mas não pensei sobre isso. O meu foco era que tinha de manter as passadas até ao último quilómetro da corrida.
Durante a maratona, em que momento se deu conta de que poderia bater o recorde mundial?
Eu tinha a certeza de que seria capaz de fazer um novo recorde depois de 30 quilómetros de prova.
Muito se comenta do ténis que foi desenvolvido com a sua ajuda. Isso contribuiu para ser ainda mais rápido?
Na verdade, o sapato serve para todos os corredores, não só para mim. Testei e a Nike aceitou o meu feedback. Contribuí para fazer um ténis mais rápido do que qualquer outro já idealizado. Mas ainda é o atleta que tem de correr rápido.
Quais são as características que um corredor precisa ter para disputar uma maratona?
Treino estável e consistente, paixão e autodisciplina, que é manter o foco e viver uma vida simples.
Acha que pode correr mais rápido ainda?
Nenhum humano é limitado. Tudo é possível, e os recordes estão aí para serem batidos.
Ganhou a medalha de ouro olímpica nos Jogos do Rio. Agora bateu o recorde mundial da maratona. Quais são os seus próximos passos?
Os meus planos são um pedaço de papel em branco. Normalmente, passo por um objetivo de cada vez. O plano era correr em Berlim. Vou dedicar um tempo para recuperar do desgaste. Tenho família, então quero passar um tempo com eles. Também gosto de ler. Isso é o que me mantém feliz quando estou em recuperação.
Você vai disputar os Jogos Olímpicos em Tóquio, em 2020?
Continuarei correndo e tentando ser bem-sucedido. Nunca pensei em me aposentar.