Muitas treinadoras a trabalharem no atletismo do Reino Unido tiveram encontros “negativos” com treinadores do sexo masculino e houve incidentes de “assédio sexual e degradação”, revelou um novo relatório.
A pesquisa da Leeds Beckett University, encomendada pela Female Coaching Network, revelou que havia “questões culturais e sistémicas significativas” a serem “abordadas com urgência”.
Joanna Coates, presidente-executiva da Federação Britânica de Atletismo, prometeu uma política de “tolerância zero” para o assédio.
O estudo, que analisou como a igualdade de género pode ser alcançada na modalidade, incluiu entrevistas com 17 treinadoras não identificadas.
Ainda segundo o relatório, houve nos últimos 10 anos, 207 treinadores do sexo masculino em equipas internacionais britânicas para o atletismo olímpico, mas nenhuma treinadora do sexo feminino.
Coates disse que “a visão obtida a partir do estudo vai ajudar-nos certamente à criação da nossa nova estratégia e estrutura de coaching”, e teve discussões com as treinadoras envolvidas no inquérito.
O que mostrou mais o estudo?
Fazendo parte do estudo, foi realizada uma auditoria do número e dos níveis de representação de treinadoras em diferentes níveis do atletismo no Reino Unido.
Ela descobriu que as treinadoras eram uma “parte motivada, engajada e valiosa” da força de trabalho do treinador, que estavam profundamente comprometidas com os seus papéis e nos relacionamentos com os seus atletas.
Mesmo assim, o relatório destacou uma queda acentuada no número de mulheres a conseguirem evoluir para obter as melhores qualificações. Enquanto as treinadoras representavam quase 30% de todos os treinadores no nível um, tal caiu para 18% no nível três e 11% no nível quatro.
Embora não existam treinadoras nas equipas seniores do programa olímpico britânico, no escalão júnior, 23 dos 113 treinadores na última década, eram mulheres, representando pouco mais de 20%. No programa paraolímpico, 31 dos 109 treinadores eram mulheres, 28%.
O estudo descobriu que as mulheres são muitas vezes “invisíveis” no panorama do treino e que as questões dentro da modalidade levaram a uma “desvalorização das capacidades de treino das mulheres”.
Elas disseram que tal é reforçado pelos “poucos convites” recebidos para participarem em conferências de treinadores.
“As treinadoras referiram que trabalham numa cultura em que se sentem minoritárias. É uma cultura que é sustentada por suposições de género desiguais e na qual, o poder é retido por poucos, em vez de ser por muitos”, disse o relatório.
“Isso deve-se em parte, à falta de profissionalização dentro do treino. Sem um sistema profissionalizado e regulamentado, ele está aberto a abusos de duas formas específicas: a caça furtiva de atletas e processos de nomeação não regulamentados e redes que levam à exclusão e impotência de mulheres.”
Numa secção sobre “relacionamentos desiguais e inseguros” com treinadores masculinos, o relatório disse: “Um tema recorrente e sério que emergiu das entrevistas, foi que muitas mulheres falaram de encontros negativos e relacionamentos de trabalho com treinadores masculinos. Esses comportamentos em relação às mulheres assumiram em grande parte, a forma de anulações de género, como não ser ouvida, falada, desrespeitada ou totalmente excluída (‘empurrada’). De forma preocupante, também houve incidentes de assédio sexual e degradação contra treinadoras perpetradas por treinadores masculinos. “
Precisamos de mudar o ambiente – Joanna Coates
Joanna Coates – que ingressou na Federação em Março de 2020 – agradeceu o inquérito e disse que a Federação precisa de criar uma cultura em que as pessoas se sintam seguras para apresentar as suas preocupações.
“Também acredito que não se trata de mais programas que incentivem as mulheres a serem treinadoras, porque não se trata apenas de aumentar o número.
“As estatísticas mostram que temos uma modalidade recheada de excelentes treinadoras de grande sucesso, precisamos de mudar o ambiente em que atuam e melhorar a experiência”.
“No entanto, o assédio sexual está definitivamente voltado para as mulheres. E, da mesma forma que as recentes preocupações levantadas sobre a proteção, devemos ter total e absoluta tolerância zero para qualquer coisa assim na nossa modalidade.”