Ricardo Parada tem 44 anos e reside em Sesimbra. Começou a correr há nove anos, depois de ter deixado o hóquei em patins. Adepto do trail e das longas distâncias, conta com várias vitórias no seu curriculum. Ganhou recentemente o Golfinho de Ouro do concelho de Grândola, atribuído pelo jornal ‘O Setubalense’.
Ricardo Parada nasceu em Sesimbra onde ainda reside e tem 44 anos. Trabalha numa Empresa de Produtos Alimentares e sempre fez desporto. “Joguei hóquei em patins dos 4 aos 28 anos no Sesimbra. Aí, abdiquei por causa do trabalho e da vida familiar. Estive a trabalhar no estrangeiro. Até que em 2016, comecei a correr, mais por brincadeira com o meu irmão. Num desses treinos de 7/8 quilómetros, encontrei uns amigos que faziam treinos de séries. Eles convidaram-nos para as fazermos com eles. Fiquei com pena de só fazer uma série, fiquei muito ofegante.”

A partir daí, Ricardo Parada começou a levar as corridas mais a sério, treinando também com os amigos das séries.
“Com a minha idade, não se justifica ter treinador para aquilo que quero fazer”
Estreia na sua terra natal
A sua estreia na estrada deu-se nos 10 km de Sesimbra. “Fiquei um bocado desanimado, fiquei nos 60 primeiros com 44/45 minutos. Amigos meus ficaram bem à minha frente, fui sempre muito competitivo”.
Ricardo Parada começou então a treinar mais a sério. Faz questão de estar sempre presente na prova de Sesimbra, a sua prova de eleição, sempre com o objetivo de melhorar o seu tempo.
Treina 5/6 vezes por semana, habitualmente só. Não tem treinador. “Com a minha idade, não se justifica ter treinador para aquilo que quero fazer”.

Corre em média, uma dezena de provas por ano. “Este ano, dediquei-me mais às provas de endurance”. A sua distância preferida passa pelos cem quilómetros.
Concilia facilmente os treinos com a sua vida profissional. “Tenho um bom horário que o permite”.
“No trail, há outro tipo de competitividade, olha-se mais uns pelos outros, as pessoas são mais amigáveis”
Relação amor/ódio com a Ultra da Serra da Freita
Ricardo Parada tem uma relação de amor/ódio com a Serra da Freita. “Fiz há dois anos, os 65 km do Ultra Trail com uma dureza extrema. Estavam 42 ºC, saímos às seis horas da madrugada já com 26 ºC. Nunca desejei tanto chegar ao fim como naquela prova. Muita perigosidade que é exagerada. A Freita é duríssima”.
Competitividade no trail é diferente da estrada
Ricardo Parada tem corrido muitas ultras em trail mas só correu três maratonas de estrada. “Fui a convite do meu irmão, é a distância preferida dele. A primeira foi no Porto, fiz 3h04m. Também corri as Maratonas de Berlim e Valência, aqui fiz 2h50m. Para o ano, quero ir a Sevilha”.
Começou na estrada mas reconhece que o ambiente no trail é diferente. A sua preferência vai naturalmente para o trail. “O cheiro no mato é completamente diferente. Há outro tipo de competitividade, olha-se mais uns pelos outros, as pessoas são mais amigáveis. Existe ainda muita competitividade na estrada”. E completa: “Os treinos na estrada são muito exigentes”.
“Tenho amigos de norte a sul criados com o mundo do trail”
Momento marcante em Monsaraz

Ricardo Parada elege a sua vitória nos 100 km em Monsaraz como o momento marcante da sua carreira desportiva. “Estava à procura da vitória há dois anos. Dos 10 aos 80 km, já ganhei muitas provas”.
Amizades de norte a sul do país
No mundo das corridas, Ricardo Parada aprecia particularmente as amizades. “Tenho amigos de norte a sul, criados com o mundo do trail”.
Pensa correr enquanto “as pernas deixarem”. Atendendo ao seu passado desportivo, elege o hóquei em patins como modalidade alternativa à corrida.
Não dispensa os exames médicos de rotina e não tem sido muito visitado pelas lesões. “O hóquei em patins deu-me uma boa estrutura. Tive uma fasciste plantar que me incomodou”.
Na alimentação, come um pouco de tudo, não bebe nem fuma. “Não como porcarias”.

“O que se dá aos atletas, a medalha, é pouco para o esforço que fazem. Uma prova de 100 km e só uma medalha… podiam dar equipamentos desportivos”
Licença da Federação vai implicar quebra do número de praticantes
Quanto ao futuro da modalidade, considera que “há muita gente que se vai aproveitar dos lucros do atletismo. Antes, havia mais atletas de fundo com qualidade”.
“O que se dá aos atletas, a medalha, é pouco para o esforço que fazem. Uma prova de 100 km e só uma medalha… podiam dar equipamentos desportivos. Há provas da terrinha muito agradáveis”.
Já acerca da licença de inscrição que a Federação quer impor aos atletas populares, considera que tal vai implicar uma quebra no número de praticantes.
Backyard na agenda
Sendo adepto das provas longas, Ricardo Parada gostava de experimentar um dia correr uma Backyard, prova onde os competidores devem correr consecutivamente, num circuito fechado, a distância de 6.706 metros (4,167 milhas) em menos de uma hora, até só haver um competidor.

Golfinho de Ouro do concelho de Grândola
Ricardo Parada foi o vencedor da “Figura do Ano 2024”, atribuído pelo jornal O Setubalense no concelho de Grândola. Vencedor da 9ª edição dos 45 km do Ultra Trail da Serra que decorreu na Serra de Grândola, o atleta sesimbrense arrecadou o Golfinho de Ouro.
Para o nosso entrevistado, o prémio foi uma surpresa. “Já foi uma vitória ser nomeado, quanto mais ganhar”.
“Que as pessoas façam desporto, seja atletismo ou outra modalidade, natação, ciclismo, etc. Que tenham prazer naquilo que estão a fazer”
As bolhas nos 183 km do Estrela-Açor
Estórias não faltam a Ricardo Batista. Nos 183 km do Estrela-Açor, ele sentiu-se muito cansado aos 140 quilómetros. “Fui com um amigo, nesse abastecimento, pedi-lhe que me limpasse os ténis que estavam cheios de areia. Ele trocou tudo, os ténis e as meias. Arranquei mas continuei a sentir um desconforto. Quando acabei a prova, fui ver os pés, estavam numa lástima com bolhas. O meu amigo viu isso na altura mas não quis dizer-me”.

Quando o irmão chegou à frente dele no Trail do Mirante
Esta estória passou-se no Trail do Mirante. “Fui com o meu irmão. Não me senti bem, ele chegou à minha frente. Andou à minha procura por todo o lado, cheguei meia hora depois dele, estava muito preocupado comigo”.
Façam desporto!
A terminar, Ricardo Parada apelou à prática do desporto. “Que as pessoas façam desporto, seja atletismo ou outra modalidade, natação, ciclismo, etc. Que tenham prazer naquilo que estão a fazer. Os portugueses ainda são sedentários. Gosto do desporto em geral”.