Rui Pedras descobriu a corrida há 20 anos. Agora com 63 anos de idade, tem no seu curriculum desportivo “apenas” 67 maratonas e 84 ultras. Faz ainda triatlo e participa em Ironmans. A sua distância preferida tem três dígitos, 100 milhas.
Rui Pedras é um nome bem conhecido no mundo do atletismo e do triatlo. Tem 63 anos e é minhoto, natural de Barcelos. Economista e com uma vida profissional muito ocupada, praticou várias modalidades até descobrir o atletismo há 20 anos. “Cheguei à conclusão que podia fazer sozinho sem depender do ritmo dos outros. Cada um é o seu adversário. Facilidade em correr, ando sempre com sapatos e calções no carro. Sinto-me livre”.
Primeira corrida, primeira lesão!
A Corrida do Tejo foi o seu batismo no mundo das corridas, em 15 de setembro de 2003. Foi uma estreia que deixou recordações menos agradáveis pois ficou logo lesionado, tendo sido sujeito a uma operação ao menisco djoelho. “Fui operado pelo mesmo médico e no mesmo dia do Petit que jogava no Benfica”. Seguiu-se a recuperação e em Março de 2004, correu a sua primeira meia maratona na Ponte 25 de Abril. Nesse mesmo ano, estreou-se na maratona em Nova York (“experiência fantástica”). Guardou a sua primeira ultramaratona para a Serra da Freita, então com 50 km.
“Correr faz bem, não só ao corpo, à parte física, mas também à parte mental e psicológica”
Atletismo e Triatlo
Para além do atletismo, Rui Pedras começou a fazer triatlo há cinco anos, tendo um plano de treinos elaborado pelo seu treinador Hélder Milheiras. Corre como Individual e treina todos os dias. Levanta-se pelas 5h30m da madrugada e faz natação. Depois, trabalha oito horas. Ao final da tarde, faz ciclismo, ginástica ou corrida. Os treinos longos ficam guardados para o fim de semana.
Corre em média uma dúzia de provas por ano. Todas elas, maratonas ou ultras. Desde 2003, quando se estreou na Corrida do Tejo, já correu 67 maratonas e 84 ultras. E há ainda os triatlos!
“Gostava de participar no triatlo quando estivesse no escalão de + 85 anos. Lá fora, dá-se valor às pessoas mais velhas que ainda correm”
100 milhas, distância preferida
Como ultramaratonista, Rui Pedras tem nas 100 milhas a sua distância preferida. Sendo ainda um amante da natureza, tem três provas onde gosta de regressar sempre que possível: a Maratona do Gerês organizada por Carlos Sá, o Ultra Trail da Serra da Freita e as 100 milhas do “Oh Meu Deus!
Habituado a correr na estrada e em trail, gosta dos dois palcos. “Em 2021, fiz a PT281 em estrada. Correr na estrada é mais duro. Por exemplo, numa maratona quase nos sentimos na obrigação de correr sempre. No trail, é diferente, é mais livre, os ritmos são diferentes”.
Momentos marcantes
Rui Pedras já correu em muitas provas marcantes para qualquer atleta como a Marathon des Sables ou o Ultra Trail Mont Blanc (UTMB). Mas elege o seu primeiro Ironman como o momento mais marcante da sua carreira desportiva. “Foi entre Vila Real de Santo António e Ayamonte. Consegui! Mas não esqueço a Maratona de Nova York, a primeira que fiz. Até aos 44 anos, não corria”.
Com 63 anos de idade e 20 de corrida, Rui Pedras vê ainda longe o seu final desportivo. “Gostava de participar no triatlo quando estivesse no escalão de + 85 anos. Lá fora, dá-se valor às pessoas mais velhas que ainda correm”.
Os seus projetos futuros na modalidade passam a curto prazo, pelas suas participações no Ironman em Coimbra já este mês e na Badwater (135 milhas) nos Estados Unidos em Julho.
“Melhores organizações? As marcações do percurso serem bem-feitas. Chega!”
Sentir-se livre quando corre
No mundo das corridas, aprecia “a possibilidade que me dá, de horas que são minhas, a liberdade. Também as amizades que se fazem ao longo da vida”.
Quanto a sugestões para uma melhor organização das corridas, é bem simples na sua resposta: “As marcações do percurso serem bem-feitas. Chega!”
Não dispensa os exames médicos de rotina. Quanto a lesões, de grave teve apenas a primeira acima referida. Não tem cuidados especiais com a alimentação mas evita os fritos, álcool e doces.
“Lá fora, respeita-se mais a idade do que aqui. Quem organiza, não se importa de estar à espera dos últimos”
Trail só com seis participantes!
Estórias não faltam ao nosso ultramaratonista. Rui Pedras lembra um trail de 45 km em que participou com apenas mais cinco pessoas. A partida foi dada com grande pompa e circunstância, não faltou o tiro de pistola. O mais curioso é que os outros cinco participantes tinham sido “recrutados” pelo responsável da prova, senão… Rui Pedras tinha sido o único participante! “No final, o senhor da Organização pediu-me desculpa por ter chovido e o percurso ter muita lama. Respondi-lhe que trail a sério tem de ter chuva e lama!”
Exemplo de superação nas 100 milhas de Leadville
Na prova das 100 milhas de Leadville, Estados Unidos, Rui Pedras acabou mal, agarrado aos bastões e em grandes dificuldades físicas. “Fui muito bem tratado por todos no final. Tive muito apoio, considerado um exemplo para os mais novos. Houve uma jovem que no final, emocionada, veio agradecer-me o exemplo de sacrifício e superação que tinha dado. Lá fora, respeita-se mais a idade do que aqui. Quem organiza, não se importa de estar à espera dos últimos”.
A terminar, o nosso entrevistado quis deixar-nos a sua mensagem: “Correr faz bem, não só ao corpo, à parte física, mas também à parte mental e psicológica. A corrida libertou-me!”
Foram duas horas de conversa que passaram a voar. Rui Pedras é um excelente conversador e um exemplo para todos nós pela sua simplicidade, como cidadão e praticante desportivo.