Depois de, nos idos anos da guerra fria, o desporto, em geral, e os Jogos Olímpicos, em particular, terem servido de arma de arremesso, na luta entre os dois blocos, os russos parecem estar interessados em ressuscitar esse clima, querendo associar a proibição dos seus atletas em participar nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro a uma retaliação política do mundo ocidental. Por isso, a Duma (câmara baixa do parlamento russo) aprovou recentemente, por unanimidade dos seus 429 deputados, uma resolução em que qualificam a proibição de competirem no Rio de Janeiro como uma violação dos direitos humanos.
Ora o que aqueles deputados esqueceram, ou parecem ignorar, são as condições que estiveram na base da proibição. Com efeito, apesar das recomendações da WADA (Agência Mundial Antidopagem), há indícios de que continuam a ser cometidas irregularidades por parte de alguns atletas russos, em matéria de utilização de substâncias proibidas, com a conivência ou mesmo incentivo das autoridades do país.
Apesar dos discursos públicos, inclusive do presidente Putin, sempre negarem qualquer envolvimento no esquema da toma de substâncias proibidas, na prática não é isso que parece acontecer e a própria WADA teve oportunidade de divulgar um relatório onde reporta situações de ameaça e intimidação dos serviços secretos, isto para além dos principais atletas terem passado a treinar em unidades militares de acesso condicionado. Pelo meio, as investigações também apontam para a destruição de mais 1,4 milhões de amostras de sangue e urina antes da chegada dos inspetores internacionais. A juntar a tudo há ainda a considerar a morte súbita e inesperada de dois ex-funcionários do laboratório russo…
É evidente que perante este conjunto de suspeitas não seria de esperar outra atitude que não a proibição definitiva dos atletas russos competirem no Rio de Janeiro. Deste modo, o Comité Olímpico Internacional reiterou aquilo que a IAAF já havia decretado em novembro do ano passado, admitindo no entanto que os atletas russos que se considerem limpos possam participar sob a bandeira do COI. O que não lhes parece agradar.
A consequência direta desta ausência dos atletas no Rio de Janeiro é aumentar as hipóteses de subirem na classificação outros atletas que se lhes seguem nos “rankings”. Um desses casos ê o da algarvia Ana Cabecinha, que ocupa atualmente a décima posição na tabela das melhores marcas do ano nos 20 km marcha e que, dada a sua habitual superação em grandes eventos, vê com mais otimismo a possibilidade de melhorar o seu quarto lugar do ano passado, nos mundiais de Pequim.
Oxalá assim seja…