A revista Marie Claire dedicou a capa a Shelly-Ann Fraser-Pryce, na segunda edição especial “Mulheres no Desporto.” A sprinter jamaicana de 38 anos, que confirmou há algumas semanas que esta seria a sua última época, abre o texto com um longo artigo.
Ela menciona em particular, o incidente que a levou a desistir antes das meias-finais dos JO de Paris. A dez vezes campeã mundial não deu muitos pormenores sobre o que se passava na sua mente naquele dia. “O ano passado foi muito difícil para mim, mental e fisicamente“, disse ela. “Sempre defendi a bandeira e o meu país. Mas o que aconteceu em Paris foi uma decisão pessoal”.
A atleta ao chegar ao Stade de France, teve dificuldade para acessar ao estádio de aquecimento, enfrentando uma segurança hostil. Depois, uma lesão no tendão da coxa obrigou-a a desistir. “Disseram-me que o portão estava fechado e pensei: ‘Bem, a pista é logo ali, e eu usei ontem o portão‘. Disseram-me que tinham decidido não usar o portão naquela manhã”.
Ela sentiu o seu corpo “desligar”
Carregando uma mochila pesada e sem vontade de gastar mais energia para chegar a um ponto de acesso remoto, a sprinter esperou cerca de 30 minutos, na esperança de ser autorizada a entrar enquanto a equipa de segurança fazia algumas ligações. Em vão. Um autocarro com atletas chegou finalmente, e Fraser-Pryce, que foi observada, disse que se sentiu humilhada.
O incidente foi filmado, um vídeo mostrou-a no meio de uma discussão acalorada com um funcionário do estádio, e a imprensa acabou por dar continuidade à história. Fraser-Pryce, forçada a ir para a outra entrada, perdeu quase uma hora na história. O desconforto, que ela explica ter sentido no estômago, aumentou durante o aquecimento, e durante as suas duas últimas acelerações, ela sentiu o seu corpo “desligar“. Ela foi então tomada por cãibras. Entrar na pista e tentar classificar-se para a final, havia-se tornado algo para além das suas forças.
“Eu estava provavelmente a ter um ataque de pânico”, disse ela. “Senti como se a vitória estivesse diante de mim, e ela tivesse sido arrancada das minhas mãos. Sou uma guerreira, uma lutadora. Gosto de estar à altura das circunstâncias. Eu queria fazer isso pelo meu país, mas tive que me perguntar: ‘O que é bom para mim?’”
Fraser-Pryce retornou ao Airbnb, onde a sua família e o seu filho de 7 anos, Zyon, a aguardavam. Ela caiu em prantos quando ele perguntou por que não havia corrido. No dia seguinte, a sprinter voou para Nova York com a família, como qualquer turista. Levou semanas para que ela voltasse a pisar uma pista.
Apoiada pelo marido para não dar muita importância a esse incidente, ela decidiu fazer a sua última época e deixar para trás “os últimos dois anos (…) muito difíceis. Os mais dolorosos. Eu sentia-me abandonada, perdida. Não conseguia expressar-me para ninguém. Passei por tanta dor e tristeza.“
Terceira classificada nas seletivas nacionais há dez dias, ela ainda estará em Tóquio para o seu décimo Campeonato Mundial.