A neerlandesa Sifan Hassan, de 29 anos, é uma atleta que gosta dos desafios. Ela anunciou em fevereiro que ia correr a Maratona de Londres. “Vou terminar a distância ou a distância vai acabar comigo.”
Habituada a correr até 10 km na pista, o desafio será grande. Mas se há uma coisa pela qual Hassan é conhecida acima de tudo, é o seu amor por um desafio.
“Muitas pessoas dizem que sou louca”, disse ela quando decidiu correr três distâncias nos JO de Tóquio. “Acredite em mim, também acho que sou louca.”
De qualquer forma, a decisão de Hassan de correr a Maratona de Londres é uma reminiscência da sua primeira corrida de fundo em Eindhoven em 2011.
Apenas três anos depois de chegar aos Países Baixos como refugiada da Etiópia, ela disse ao seu treinador, Ton van Hoesel, que queria correr uma meia maratona, embora não tivesse treinado para aquela distância.
“Eu disse-lhe que estava bem, mas que não começasse muito fanaticamente porque podia lesionar-se. Bem, ela ganhou a prova!” lembrou Van Hoesel numa entrevista.
Com a Maratona de Londres, Hassan vai entrar mais uma vez no desconhecido. No entanto, ela é uma atleta que enfrentou e superou grandes desafios, tanto no atletismo como na vida.
Embora Hassan não fale sobre as razões pelas quais deixou a Etiópia quando era adolescente, a sua experiência depois de chegar aos Países Baixos, que incluiu ser alojada num centro para menores, durante oito meses em Zuidlaren, onde ela “chorou todos os dias”, foi um dos desafios mais difíceis da sua vida.
Logo depois, a sua entrada no mundo do atletismo, deu-lhe um novo foco. Correndo com sapatos e equipamentos emprestados do seu clube local, ela começou uma carreira que a levou ainda a mais desafios, um dos quais, está entre os mais impressionantes da história olímpica.
“Só queria desafiar-me, senão acho chato. Uma distância não é nada, então eu só queria tentar”, disse Hassan, relembrando a sua decisão de correr os 1.500 m, 5.000 m e 10.000 m nos JO de Tóquio.
Talvez que Emil Zatopek tenha sido a única pessoa na história olímpica a ter enfrentado um desafio semelhante ao de Sifan Hassan em Tóquio. Nos JO de Helsínquia em 1952, ele conquistou três medalhas de ouro nos 5.000 m, 10.000 m e maratona.
Em Tóquio, Hassan não apenas competiu nas três distâncias, como também conquistou medalhas em cada uma delas, ouro nos 5.000 m e 10.000 m e bronze nos 1.500 m, aqui depois de ter sofrido uma queda.
A atitude de Hassan em relação à vida, reflete muitas vezes o seu sucesso no atletismo. “Eu digo às pessoas, que quando a vida for difícil, você vai ver-se como nunca se imaginou”, disse ela após as três medalhas em Tóquio. “Nunca desista.”
“Eu só quero ver o que posso fazer na maratona”, disse Hassan ao anunciar que correria em Londres. Mas ela também já disse que pretende regressar à pista e estar presente nos JO de Paris.