Sofia Afonso tem 47 anos e é de Monção. Começou a correr há dez anos e tem subido várias vezes ao pódio, embora encare a corrida como um passatempo sem ambições competitivas. O trail é a sua paixão desde o início e valoriza as muitas amizades feitas na corrida.
Sofia Afonso tem 47 anos e é natural de Monção. Começou a correr há dez anos e o trail é a sua grande paixão desde o início. “O atletismo, mais propriamente o trail, apareceu de forma espontânea, inicialmente como forma de passatempo e contacto com o meio natural para depois, passar a ser praticado de forma mais regular e sempre que o trabalho permita. Mas será sempre um passatempo sem ambições competitivas”.
Operadora de loja, treina quando o horário laboral o permite. “Pode ser uma, duas ou três vezes por semana, nunca com uma cadência regular. Tenho sempre a companhia do meu marido que me vai orientando na medida do possível”.
“A preocupação principal é chegar à prova bem-disposta e preparada física e mentalmente”

Plano de treinos com várias condicionantes
Sofia corre pelo S & V Trail Casa Lourenço e encara o trail como uma forma de se libertar de uma semana de trabalho e uma forma de desanuviar através do exercício, de uma forma livre e sem grandes compromissos. Como tal, o seu plano de treinos é definido em função da disponibilidade e da calendarização das provas em que se inscreve, procurando integrar as diferentes vertentes da preparação. “A preocupação principal é chegar à prova bem-disposta e preparada física e mentalmente. A programação é definida por mim com o apoio do meu marido”.
Dada a sua atividade profissional, não lhe tem sido fácil conciliar os treinos e corridas. “Há meses em que corro uma vez, outros em que a disponibilidade me permite realizar mais provas. No entanto, como os meus objetivos não são e nunca serão competitivos, tento conciliar o trabalho e o exercício físico da melhor forma que posso”.
Estreia numa caminhada/corrida no “Socalcos Trail” em Arcos de Valdevez
Sofia estreou-se no mundo das corridas no “Socalcos Trail”, nos socalcos de Sistelo, em Arcos de Valdevez. “Foi a ‘mola’ para futuras participações, inscrevi-me na caminhada, mas quase não caminhei, fiz o percurso sempre a correr. O local é fantástico, de uma beleza ímpar e com condições fantásticas para a prática do trail running. Pena já não se realizar”.
“Trail do Pote. Acho que quem gosta de praticar trail deveria experimentar esta prova. Aconselho”
Trail do Pote, prova preferida
Corre em média 15 a 20 provas por ano e elege o Trail do Pote como o seu preferido. “Há um trail em que me sinto verdadeiramente feliz, O Trail do Pote” em Gondar e Orbacém, concelho de Caminha, em pleno coração da Serra d’ Arga. Para além de ser uma prova de trail, é uma festa e um hino à camaradagem entre aqueles que amam a modalidade. Mais do que ganhar, o importante é participar e conviver num ambiente de celebração. Acho que quem gosta de praticar trail, deveria experimentar esta prova. Aconselho”.

“Quando noto que não sou respeitada em alguma prova, simplesmente elimino essa prova da minha agenda”
Postura das Organizações das provas
Já quanto à prova que lhe merece menos agrado, não escolhe uma em particular. “Todas as provas são diferentes e cada uma tem as suas especificidades. Não tenho má impressão das provas em que participei. No entanto, há algumas que me deixaram menos satisfeita, principalmente devido à postura das organizações, mas nada que afete a impressão sobre as provas. Quando noto que não sou respeitada em alguma prova, simplesmente elimino essa prova da minha agenda”.
Preferência por trails curtos até 20 km
Sofia ainda não correu uma maratona e a sua distância preferida está nos trails curtos, não acima dos 20 quilómetros, embora já tenha experimentado distâncias superiores.
Não tem um momento especial da sua carreira desportiva que mais a tenha marcado. “Nenhum em especial, é evidente que o primeiro pódio nunca será esquecido porque nem eu acreditava!”
Não dispensa os exames médicos de rotina. “É fundamental e periodicamente, tenho a preocupação de saber como me encontro em termos de saúde”.
Quanto à alimentação, procura ter os devidos cuidados mas não se nega a ‘algumas tentações’.
A competição é o menos importante

Não tem sido visitada pelas lesões e pensa correr até o corpo dar-lhe sinais de quando deverá parar. E se não estivesse no atletismo, que modalidade gostaria de ter seguido? Possivelmente, nenhuma. “Porque como já referi, o trail apareceu de forma imprevisível e abracei esta modalidade por ser diferente e por permitir, para além, da competição, o convívio e a confraternização entre os seus praticantes”.
Para Sofia,a competição é o menos importante. Valoriza acima de tudo, as amizades, a festa e o convívio que as provas lhe têm proporcionado.
“Quando se fala de impor, obrigar e restringir a prática do desporto ao ar livre através de taxas e outros, está-se a começar a ‘matar’ a modalidade”
Não às taxas para os atletas populares
Sofia vê o futuro da modalidade, com apreensão. “Preocupa-me, por exemplo, não ver muitos jovens nas provas de trail, uma vez que deveriam ser eles o garante do futuro da modalidade”.
Mostra-se também crítica para com a anunciada intenção da Federação em criar uma licença para os atletas populares. “Há decisões que estão a ser tomadas, a meu ver, de forma pouco ponderada e que podem comprometer a organização de muitos eventos desportivos. Iniciei a prática do trail de forma amadora e livre e tenciono terminar a minha participação saindo pela mesma porta por onde entrei e sei que, como eu, muita gente pensa da mesma forma. Por isso, quando se fala de impor, obrigar e restringir a prática do desporto ao ar livre através de taxas e outros, está-se a começar a ‘matar’ a modalidade”.
“Louvo todos aqueles (clubes e demais) que organizam estes eventos com o principal objetivo de proporcionar a todos, um dia diferente, praticando um desporto que amam”

Devemos valorizar as organizações das provas
Na sua opinião, as provas, globalmente, são bem organizadas. “Temos que dar o devido valor a quem, durante muito tempo, trabalha na preparação destes eventos. Se não fosse a vontade popular, o trail não estaria tão divulgado como está hoje em dia, sem demérito dos clubes que também se empenham na sua expansão. Devemos continuar a incentivá-los pois se tivermos que esperar pelas associações responsáveis pela modalidade, o trail acaba”.
Quando o frontal ficou sem luz e chegou depois do marido!
Ao longo dos anos de tantas corridas, há sempre estórias engraçadas para serem contadas. Esta passou-se no verão passado, quando Sofia participou no trail noturno Gondarense, (em Gondar e Orbacém, Caminha), num total de 17 km. “Por volta do km 13, fiquei sem luz no frontal e tive de socorrer-me daqueles que ia vendo pelo percurso, acompanhando-os. Já perto do final, perdi-me no percurso e tive de fazer cerca de 2 km a mais. O meu marido entretanto, que vinha atrás, ao completar a distância antes de mim, deu o alarme pela minha falta e não fosse o telemóvel (ferramenta importante neste contexto) não sei como reagiria. Felizmente tudo terminou bem, só com mais 2 km nas pernas!
“Há alguns ‘simpáticos’ que veem no trail uma oportunidade de negócio e isso não corresponde ao espírito do trail running”

Amizades conquistadas são as suas grandes vitórias
Sofia considera-se uma praticante amadora que corre para se divertir e para se sentir feliz entre outros que vai conhecendo. Orgulha-se de ter conquistado muitas amizades graças ao Trail, essas são as suas verdadeiras vitórias. “É evidente que não esqueço os pódios mas isso, para mim, é acessório. Louvo todos aqueles (clubes e demais) que organizam estes eventos com o principal objetivo de proporcionar a todos, um dia diferente, praticando um desporto que amam. Como eu, conheço muita gente simpática que quer continuar a percorrer belos trilhos do nosso país.
Cuidado com os ‘simpáticos’ que veem no trail uma oportunidade de negócio
Mas, nem tudo é bom no mundo do trail. “Infelizmente, apercebo-me também de que há alguns ‘simpáticos’ que veem no trail uma oportunidade de negócio e isso não corresponde ao espírito do trail running. E não se esqueçam: numa prova de trail, seja ela organizada por quem for, o grosso dos participantes são amantes do desporto livre e sem imposições e se estes falharem, muitas provas ficarão comprometidas”.