I – Supremacia genética
A propósito da supremacia genética dos negros sobre os brancos na performance desportiva, particularmente no atletismo, tanto nas corridas de velocidade como em meio fundo e fundo.
Deve ressalvar-se que a superioridade observada não se manifesta no triatlo, ciclismo e natação, desportos com afinidades ao atletismo, em que a força ou resistência também são preponderantes.
Numa análise comum e superficial, avaliam-se as vantagens genéticas não através do conhecimento e estudo do genoma mas através do resultado obtido. Se os resultados obtidos são formidáveis é porque existe uma vantagem genética, vantagem essa, que os brancos tiveram até aos anos 80.
Esta conclusão e extrapolação leva a um paradoxo chocante, deduz-se conforme os interesses e não com base em provas, logo, aplicando a mesma linha de pensamento a outras áreas da sociedade poderemos e devemos ficar chocados.
Quando analisamos pela perspectiva do resultado obtido, a atribuição de Prémios Nobel em áreas como a Física, Química, Biologia, Literatura, Medicina, a lista de galardoados com a Medalha Filds em Matemática, o equivalente ao Nobel, quando observamos a lista de galardoados com o Prémio Pritzker em Arquitectura ou com o Pulitzer em Jornalismo e ainda a lista de campeões mundiais em Xadrez, não podemos deixar de assistir a superioridade genética dos brancos sobre todos os não brancos e particularmente sobre os negros.
Com base em opiniões de alguns agentes desportivos, treinadores, “especialistas” de opinião e até de alguns atletas pode-se inferir que os negros são melhores em actividades que necessitem grande desempenho físico e os brancos em actividades que necessitem grande desempenho intelectual.
Este pequeno artigo poderia acabar aqui…podia, mas continua.
II – Que bases científicas?
Será que a ideia com que terminou o capítulo anterior tem bases científicas?
Vamos assumir que o padrão de resultados obtidos recentemente tem causas genéticas. Podemos então concluir que os negros são naturalmente melhores atletas? Bem, não. Tudo o que podemos dizer é que os africanos de leste são naturalmente melhores em corridas de longa distância, os africanos ocidentais nas curtas distâncias, enquanto os brancos algures no meio, em ambas as disciplinas. Então porque declarar que os negros são naturalmente melhores em corridas de curtas e longas distâncias? A falácia da lógica pode não parecer obvia porque estamos acostumados a pensar que “negro” e “brancos” se referem a tipos biológicos distintos.
Por que não existe “raça”?
De acordo com a Sociedade Americana de Genética Humana, a maior organização profissional de cientistas da área, “a ciência da genética demonstra que os seres humanos não podem ser divididos em subcategorias biologicamente distintas”, o que “desafia o conceito tradicional de diferentes raças humanas como biologicamente separadas e distintas”.
Por outras palavras, a raça em si é uma construção social, sem base biológica.
Em 2014, mais de 130 geneticistas condenaram a ideia de que os genes são responsáveis pela diversidade económica, política, social e comportamental em todo o mundo. Hoje em dia, há um amplo consenso científico de que, quando se trata de genes, há tanta diversidade dentro de grupos étnicos como entre eles.
O Projeto Genoma Humano também confirmou que os genomas encontrados em todo o mundo são 99,9% idênticos em todas as pessoas. Assim, a própria ideia de diferentes “raças” é um disparate.
É importante ressalvar ainda que todos os humanos modernos tiveram origem na África. A nossa espécie evoluiu no continente e depois migrou para o resto do mundo.
Os que continuam agarrados à noção de que existem coisas como “raças”, terão que primeiro fornecer uma definição científica, baseada em diferenças significativas nos genomas humanos, do que “raça” significa. Depois, terão que demonstrar claramente que existem diferenças suficientes entre vários grupos étnicos para justificar a divisão de pessoas em “raças” separadas. Boa sorte – é uma tarefa impossível.
Por último, são as nossas experiências, a nossa prática e a nossa cultura, não nosso ADN, que respondem pela maioria de nossas diferenças.
Se chegou até aqui, faça um último esforço e termine a leitura do artigo.
III – O que nos diz a ciência
Porém, a ciência através do trabalho desenvolvido por Yannis Pitsiladis, Bengt Saltin ou Shäron Moalem, só para citar alguns dos mais reputados e prestigiados cientistas ligados à investigação genética em ramos diversos, apresenta-nos, baseada em provas e evidências, uma perspectiva diferente.
Shäron Moalem, nasceu no Canadá em 1977, é um galardoado cientista e médico. Especialista de renome internacional em genética e doenças raras, a sua investigação clinica levou-o à descrição de duas novas doenças raras. Foram-lhe concedidas mais de 25 patentes em todo o mundo pelas suas invenções ligadas à saúde humana e à biotecnologia. O seu trabalho une evolução, genética, biologia e medicina. Autor do livro “A melhor metade” do qual se transcreve o seguinte extracto:
“O campo da genética é ainda hoje, um pouco como o meu sobrinho pequeno. Agora que já sabe dizer algumas palavras, está no processo de combiná-la para formar palavras curtas mas com sentido sobre o mundo que o rodeia. Tal como a compreensão vocabular do meu sobrinho, os geneticistas percebem palavras genéticas básicas e “ordens”, mas estão apenas a começar a compreender as indicações subtis do conhecimento genético, já para não falar de como todo este conhecimento poderá ser traduzido na prática clinica.
É por isso que a genética é tão dada a interpretações.
Aparecem indústrias da noite para o dia, para nos ajudarem a compreender os nossos genes. Até agora, têm surgido muitas promessas, mas poucas concretizações no que diz respeito ao sempre crescente negócio dos testes genéticos comerciais. Milhões de pessoas em todo o mundo já optaram por enviar amostras do seu ADN, na esperança de verem a sua ascendência revelada. O que a maior parte de nós não percebe, contudo, é que os resultados da nossa ascendência dependem mais do algoritmo que a empresa usa para a sua análise do que da nossa verdadeira ascendência genética. Algumas empresas vão até mais longe e personalizam dietas adequadas ao exercício físico ou prometem ajudar-nos a encontrar o parceiro perfeito, tudo com base nos nossos genes.
Porém, o nosso ADN continua a fazer o que tem feito há milhões de anos. Sozinhos, os nossos genes não ditam em pleno a nossa vida, mas estão constantemente a reagir ao mundo à nossa volta e a responder em conformidade.”
Yannis Pitsiladis, cientista australiano que não hesitou em assumir o papel de visionário anunciando que “a questão não é se as 2 horas à maratona cairiam, mas sim quando cairiam e que apostava que seria num período não superior a 5 anos” numa citação da Revista Visão em 12JAN17. Atualmente é membro da Comissão Médica e Científica do Comité Olímpico Internacional (COI), membro do Comité Executivo e Presidente da Comissão Científica da Internacional da Federação da Medicina Desportiva (FIMS). Académico, investigador em recentes investigações de análise genética a atletas de topo Quenianos e Etíopes, entre os quais Gebrselassie diz: “Até à data, apenas analisámos genes específicos e podemos demorar mais alguns anos a ver os trinta mil genes do genoma, mas podemos dizer já com confiança razoável que os fatores que tornam estes atletas tão bons, não são genéticos”.
Bengt Saltin, investigador no Instituto Karolinska em Estocolmo. Distinto fisiologista líder mundial verdadeiro pioneiro. Como médico, dedicou a sua vida a investigar os efeitos do exercício físico sobre a saúde e desempenho. O Prof. Bengt Saltin descobriu num estudo, que as crianças que tinham usado a corrida como meio de transporte para a escola, tinha um VO2 máximo 30 vezes superior as que não corriam para a escola. O que levou estas crianças correr não foi o VO2 máximo elevado mas o facto de morarem mais longe, obrigou-as a caminhar muito mais e até a correr de forma mais rápida para chegarem à escola. Os pais não escolheram morar mais longe porque os filhos eram geneticamente dotados. Pelo contrário, o que os tornou melhores foi o acaso. Quanto mais longe da escola moravam, maior a necessidade de caminhar e fazê-lo de forma mais rápida.
IV – Crença
As convicções podem dizer-nos uma coisa embora a ciência diga por vezes, exactamente o contrário.
Não é por se acreditar que a terra é plana e que está parada, por não nos apercebermos do movimento, que ela vai parar e deixar de ser redonda. Independentemente de acreditarmos ou não no heliocentrismo, a terra vai continuar a girar à volta do sol. Independentemente de acreditarmos ou não na força da gravidade na Terra, os corpos continuarão a cair com uma aceleração de 9.8 m/s2.
A ciência é um exercício na descoberta da verdade.
Citando Neil deGrasse Tyson “É a melhor coisa que descobrimos enquanto seres humanos.
A ciência não é algo com que se brinque. Não podemos dizer: opto por não acreditar que e=mc2. Não temos essa opção”.
Quando temos uma verdade cientifica estabelecida, é verdade, quer acreditemos ou não.
Quanto mais cedo entendermos isso, mais depressa poderemos avançar na forma de como enfrentar os nossos problemas.
Neste caso, a ciência diz-nos que não é a genética que faz a diferença.
Até quando resistirá esta crença.
João Junqueira