Os meus parabéns a todos os atletas que estiveram em Tokyo e, em especial, àqueles que agora se juntam à família Olímpica de Portugal.
Ao assistir à fantástica vitória do Indiano Choppra no lançamento do dardo, lembrei-me de um pormenor que gostaria de partilhar com todos.
Eu estou no Atletismo desde 1980, e desde sempre que ouço que Portugal não tem condições para o treino desta complexa modalidade.
Parece que não conseguimos dar os parabéns pela conquista de uma medalha, sem lamentarmos o facto de sermos os desgraçadinhos da Europa. O país com campeões Olímpicos mas que ainda treina em pistas de cinza e corre com sapatos com pregos. Mas será mesmo verdade ou simplesmente, temos vergonha de dizer que já evoluímos?!
Durante os JO, e enquanto assistia à qualificação e depois à final do dardo, tive a oportunidade de ver na competição os seguintes atletas, que este ano estagiaram no CAR Jamor e em especial,o Indiano que estagiou em Leiria:
Neeraj Choppra- Campeão Olímpico Tokyo 2020
Keshorn Walcott- Campeão Olímpico 2012
Antes da Pandemia…
Yulimar Rojas Campeã Olímpica Tokyo 2020
Ana Peleteiro Bronze JO Tokyo 2020
Barbora Spotakova – 2x Campeã Olimpica e Recordista do Mundo do dardo.
Renaud Lavillenie – Campeão Olímpico 2012
Thiago Braz da Silva – Campeão Olímpico 2016
Fabiana Murer – Campeã Mundial do Salto com vara.
Darlan Romani – Peso 22.61. 2 vezes finalista Olímpico.
Orlando Ortega – Prata JO Río Janeiro 2016
Mauro Vinícius da Silva 8.31 – Bi-campeão do Mundo de Pista Coberta no salto em comprimento
Seleção da Holanda Antes dos JO Rio Janeiro
Seleção Inglesa – Antes dos JO Rio Janeiro
Seleção do Brasil, que esteve em Rio Maior
Seleção de Cuba, que esteve três meses em Vila Real de Santo António (VRSA)
Grupo de treino do Británico Linford Christie
…entre outros que já não me recordo.
Para além dos atletas referidos, neste último ciclo Olímpico, foram muitos aqueles que escolheram Portugal para prepararem a participação em Tokyo.
É curioso que, para além do Atletismo, há outras modalidades que procuram o nosso país para estagiar. Tudo isto pouco valorizado por nós!
O CAR Jamor, Rio Maior, Leiria e VRSA, são locais muito procurados por centenas de atletas para prepararem as grandes competições. Em VRSA, já passaram por lá outras centenas de Medalhados Olímpicos ao longo dos últimos 20 anos.
O que será que nós temos que serve perfeitamente para atletas de todo o mundo, mas que para nós não serve?
Como é possível lamentarmos as condições que temos quando os melhores do mundo procuram as nossas instalações para treinar?
E agora, também Setúbal preparou um Campeão Olímpico e na companhia de outra Campeã Olímpica no Rio de Janeiro, Caterine Ibarguen. Sim, é verdade, não me venham com a história de que o Pedro Pablo Pichardo foi formado em Cuba e nada temos a ver com esta medalha. Temos e muito! Os últimos 4 anos foram passados a trabalhar em Setúbal, por isso, para mim, esta medalha de ouro é produto Português e em especial, de Setúbal.
É provável que alguém venha responder que, em Setúbal, nem todos podem utilizar o material que o atleta utiliza. Pois…provavelmente! Mas o Pichardo durante a sua formação, também não utilizava nada do que tem à sua disponibilidade no complexo de treino de Setúbal.
Estou cada vez mais convicto de que não temos as melhores condições do mundo, mas temos excelentes condições para estarmos ao nível dos melhores.
Devemos lutar sempre para que as condições sejam as melhores, mas “cuspirmos” no melhor que temos, não contem comigo.
Não contem comigo porque há 21 anos eu fui 12° nos Jogos Olímpicos na disciplina que mais condição de treino necessita e não tinha 1/3 do que existe hoje.
Eu próprio, contagiado pelo espírito “chorão”,dou por mim às vezes a reclamar de qualquer coisa. Felizmente, passado minutos, consigo perceber o quão ingrato e parvo estou a ser e se não há células fotoelétricas disponíveis, utilizo o cronómetro.
Se queremos mais e melhor, falemos no desporto escolar que não temos e deixemos as condições de treino porque, felizmente, já são excelentes.
Desporto Escolar. Vamos manter o foco naquilo que de facto, é fundamental para sermos mais fortes e competitivos e não reclamar, só porque há 30 anos já reclamávamos!
Excelente texto Mario Aníbal, parabéns!
Neste momento falar a lenga-lenga de falta de condições, já é desculpa de quem não tem mais nada para pegar.
Portugal vive futebol e é dos paises da Europa que menos atletas federados (sem futebol) tem por habitante e que menos pratica desporto.
Os Apoios que neste momento se dão aos atletas de alta competição, já não são nada de desprezar, mas ainda pode melhorar, mas a base e o começo é onde está o cerne da questão.
Eu sou um “maluquinho” das estatisticas e de acompanhar o deporto de formação à muito tempo e ir vendo ao longo dos anos jovens que muito prometiam, e depois abandonarem o atletismo pelas mais diversas razões é muito triste, quando muitos é por motivos de falta de apoio quando passam para os escalões superiores.
O UAARE é uma excelente iniciativa, mas ainda tem muito que evoluir e se espalhar pelo país.
Mas o que tem que ser mesmo feito é uma revolução no acompanhamento universitário de atletas promissores e de alto nível, tem que ser feito sem reservas e tabus uma lei especial de benificios para estes atletas.