Diogo Simão esteve em grande destaque ao correr 752 quilómetros com 62 mil metros de desnível positivo pelos Alpes, em duas provas realizadas em alta montanha, separadas por apenas 12 dias, num total de 330h28m.
Divulgamos seguidamente o relato desta façanha apresentado pela BA&N Communications Consultancy.
- Diogo Simão finalizou a PTL e o Tor des Glaciers no mesmo ano, feito apenas alcançado por dois atletas a nível mundial.
- Tor des Glaciers é atualmente a mais longa prova de trail em alta montanha do mundo e a PTL um desafio em equipa com a maior tecnicidade na modalidade.
- Provas são non stop, sem marcações e realizadas em autonomia, implicando conhecimentos de montanhismo, escalada e orientação.
O português Diogo Simão fez história no trail running mundial ao concluir no mesmo ano duas das provas da trail mais difíceis do mundo – a PTL e o Tor des Glaciers – que estão temporalmente separadas por apenas 12 dias. No total, Diogo Simão percorreu a pé um total de 752 quilómetros e 62 mil metros de desnível positivo pelos Alpes, entre altas montanhas com dezenas de passagens a mais de 3 mil metros de altitude, glaciares, vias ferrata, progressão em gelo e neve, trilhos e terrenos rochosos e instáveis marcados pela elevada tecnicidade.
A conclusão das duas provas consecutivas, realizadas em 330h48m, é um feito histórico mundial conseguido pela primeira vez este ano, tendo sido alcançado por apenas dois atletas: o português Diogo Simão e o suíço Jules-Henri Gabioud.
O desafio de completar consecutivamente duas das provas de trail mais difíceis do mundo iniciou-se a 23 de Agosto, com a participação na PTL (Petite Trote à Léon), prova realizada em equipa que integra o evento Ultra Trail do Mont Blanc. Diogo Simão, Flávio Francisco e Jorge Serrazina, que em conjunto formaram a equipa #AdventureTeam Fleed MRT, superaram o percurso de 304 quilómetros e 25.408 metros de desnível positivo em 147h02m37s. O desafio, que não tem classificação mas em que a equipa portuguesa foi a 16ª a cruzar a meta em Chamonix, contou com a participação de 61 equipas de todo o mundo, tendo a taxa de desistência superado os 57%, fruto da elevada dificuldade técnica do percurso e da extrema exigência física.
Depois da excelente performance da equipa #AdventureTeam Fleed MRT, Diogo Simão abraçou sozinho o desafio de superar novamente o Tor de Glaciers, atualmente a prova de trail em alta montanha mais longa do mundo com um percurso de 448 quilómetros e 37.319 metros de desnível positivo pelos Alpes italianos. Depois de já ter completado com sucesso a primeira edição em 2019, Diogo Simão partiu para o desafio a 10 de Setembro, que superou ao cabo de 183h46m, com um honroso 23º lugar entre os 56 atletas à partida. De realçar que 45% dos participantes não terminaram esta prova, cuja dificuldade resulta da longa distância, da altitude e desnível acumulado, dos terrenos muito técnicos e das exigentes barreiras horárias que obrigam a ritmos de progressão elevados. Diogo Simão manteve-se também como totalista das duas edições da prova, algo apenas conseguido outros oito atletas: os italianos Luca Papi, Ruggiero Isernia e Marina Plavan, os espanhóis David Javega e Fernando Gonzalez, o francês Sebastian Ponce, o belga Christophe Traina e o polaco Pawel ściebura.
“Os desafios de ultra endurance são uma paixão, pois permitem colocar à prova todas as minhas capacidades físicas e mentais. O sonho de concluir a PTL e o Tor des Glaciers, com apenas 12 dias de diferença, ganhou uma especial dimensão, pois exigiu todos os meus conhecimentos em áreas como a escalada, montanhismo e orientação, mas também nas áreas de gestão e project planning. A tecnicidade dos terrenos, as condições meteorológicas, a privação do sono, a gestão do corpo e da mente colocam dificuldades adicionais e implicam que cada passo represente um processo de tomada de decisão, em que cada escolha tem consequências. Felizmente, tudo correu bem e o esforço e dedicação dos últimos meses foi bem-sucedido”, afirma Diogo Simão.
E acrescenta: “Nada disto seria possível sem o apoio das muitas pessoas que ao longo da preparação e das provas partilharam este caminho, como o Flávio Francisco e o Jorge Serrazina com quem tive o privilégio de fazer equipa na PTL, o Hélio Fumo que apoiou nas questões de treino ou o Fleed e a BA&N, empresa em que trabalho e que me dá a oportunidade de todos os dias procurar superar-me em todas as vertentes da minha vida, seja pessoal ou profissional”.
O Tor des Glaciers e a PTL são provas realizadas em regime de autonomia, com algumas bases de vida e pontos de abastecimento, não sendo o seu percurso marcado. Os atletas tiveram de navegar com recurso a GPS, carta topográfica e bússola para cumprir os percursos em alta montanha onde enfrentar vários cumes acima dos 3 mil metros de altitude e zonas de neve onde a progressão apenas era possível como material adequado (crampons), bem como percursos de via ferrata (progressão com o apoio de cordas, correntes e escadas metálicas, tendo de transportar capacete, arnês e dissipador), onde a experiência em escalada se demonstrou essencial.
Ambas as provas são non stop, ou seja, o tempo está a contar ininterruptamente desde o momento da partida, tendo os atletas de gerir o sono e descanso de forma a passar nas barreiras horárias dentro do tempo limite. A PTL (Petite Trote à Léon) percorreu as altas montanhas em torno do Monte Branco, levando os atletas a percorrer trilhos e glaciares da Suíça, Itália e França. Com partida na vila suíça de Orsiéres e chegada na mítica cidade francesa de Chamonix, a prova tem um tempo limite de 152h30m. Já o percurso do Tor des Glaciers desenrolou-se ao longo da região do Valle d’Aosta, nomeadamente nos maciços do Monte Branco, do Monte Rosa, do Monte Cervino e do parque de Grand Paradiso, sendo o tempo limite de 190 horas. O italiano Luca Papi e o suíço Jules-Henri Gabioud triunfaram ex-áqueo com o tempo de 138h18m, com a francesa Stephany Case a conquistar o terceiro lugar da geral em 155h06m.
“Sou uma pessoa normal, com uma vida normal, para quem o desporto é um hobby. Por isso acredito que todos podem alcançar feitos idênticos desde que acreditem e queiram efetivamente atingir objetivos ambiciosos. Claro que a participação nestes desafios implica sacrifícios familiares e profissionais, mas a vontade e o desejo de superação, bem como de deixar um legado para quem nos é mais próximo, permitem ultrapassar todos os obstáculos”, conclui Diogo Simão.
Consultor economista com historial ligado à natureza e à montanha
Diogo Simão é licenciado em Economia e trabalha como consultor de algumas das principais empresas e instituições em Portugal. É um dos mais experientes atletas nacionais em desafios de ultradistância, tendo superado inúmeras ultramaratonas e ultra trails, bem como triatlos de longa distância em Portugal e a nível internacional.
Do seu palmarés fazem parte provas de corrida em montanha, como Tor des Glaciers 2019 (450km; 32.000 D+; #22), SwissPeaks 2018 (360km; 26.000D+), Tor des Géants 2015 (330 km; 24.000 D+), 4K Endurance Trail Valle d’Aosta 2016 (350 km; 26.000 D+#87), PTL 2017 (300 km; 25.000 D+), Eufória 2017 (233 km; 20.000 D+) ou o Ultra Trail du Mont Blanc (UTMB) 2014 (168 km; 10.000 D+).
No ultra triatlo, concluiu o Iberman de 2013 e de 2014 (3,8 km natação; 180 km bicicleta; 42,2 km corrida) e em 2018, destacou-se ao organizar e realizar com sucesso o Portugal Ultra Triathlon, um desafio de triatlo de longa distância com um percurso de 11,4 km de natação, 540 km de ciclismo e 126,6 km de corrida.
Antigo escuteiro e dirigente, foi membro do departamento nacional e regional de Lisboa de Atividades Técnicas e monitor de escalada e montanhismo. Tem também formação na área da espeleologia e participou em provas de orientação.