Está a causar grande polémica a decisão da Federação Norte-Americana de Atletismo em marcar os trials da Maratona Olímpica para Orlando, Flórida, ao meio-dia do dia 3 de fevereiro de 2024. A marcação tardia do início da prova deve-se aos direitos de transmissão da cadeia de televisão NBC.
O horário de início tardio já causou a preocupação em muitos treinadores e atletas devido ao risco de elevadas temperaturas. Em fevereiro, as temperaturas médias em Orlando variam de um mínimo de 13ºC a um máximo de 23ºC, mas nos últimos anos, não é incomum que as temperaturas subam até aos 30ºC, o que seria prejudicial para o desempenho e potencialmente inseguro para os maratonistas.
Segundo a Runners World, o e-mail enviado aos atletas menciona que o Comité Organizador Local (LOC) de Orlando tem ampla experiência no planeamento e execução de eventos de alto nível e possui contingências para eventuais desafios, inclusive relacionados com o clima.
Acredita-se que a decisão de marcar o horário de início ao meio-dia tenha sido influenciada pelos executivos da NBC, rede que transmite o evento. O e-mail destaca que a prova será transmitida em direto pela NBC durante três horas.
A Maratona Olímpica de Paris está marcada para o dia 10 de agosto,mês onde as temperaturas costumam também ser elevadas. Mas as provas masculina e feminina estão programadas para começar às 8 horas locais.
A seletiva da maratona olímpica dos Estados Unidos serve para escolher as equipas olímpicas masculina e feminina que competirão depois em Paris. Os três primeiros classificados com mínimos de qualificação da World Athletics irão representar o país.
O renomado técnico da maratona norte-americana, Kevin Hanson, que tem atualmente 13 atletas (oito mulheres e cinco homens) classificados para a seletiva dos Estados Unidos, mostrou a sua deceção com o facto da saúde dos atletas não ter sido levada em consideração. “Não há cobertura de TV que valha a saúde dos nossos atletas”, twittou Hanson.
Também houve atletas que desvalorizaram a hora da prova. Des Linden, vencedora da Maratona de Boston de 2018, twittou: “As temperaturas mais quentes devem minimizar ligeiramente o ritmo dos super sapatos e recompensar os corredores mais inteligentes. Contem comigo!”
A ultramaratonista Camille Herron disse: “Estamos a sete meses das seletivas da Maratona Olímpica. Não há desculpas para não estar preparado para um dia potencialmente quente na Flórida.”
Esta não é a primeira vez que a Federação Norte-Americana enfrenta críticas pela forma como lida com o calor extremo durante os eventos. Nas seletivas olímpicas de 2021 em Eugene, onde as temperaturas estavam previstas para atingir máximos de 40ºC, várias provas foram remarcadas por segurança. Porém, o heptatlo não foi, e a atleta Taliyah Brooks, desmaiou na pista devido ao calor, tendo posteriormente entrado com um processo contra a Federação.
Nas seletivas da Maratona Olímpica de 2016 em Los Angeles, que começaram às 9 horas, alguns atletas apanharam um dia excecionalmente quente. Shalane Flanagan,que foi terceira em 2h29m19s, desmaiou na meta. Posteriormente, o Comité Organizador e a Federação receberam críticas por não terem garantido aos maratonistas, água adequada durante o percurso.