Uma estrela em ascensão venceu a Great Ethiopian Run, apesar da interrupção devido à guerra civil e à pandemia do coronavírus
Um pouco por todo o lado, os atletas têm lidado com as dificuldades criadas pela pandemia do coronavírus. Mas poucos deles, tiveram também que enfrentar uma guerra civil pouco divulgada na Etiópia. Muitos atletas sofrem com o escasso número de provas e poucos têm tido hipóteses de ganhar algum dinheiro com as competições. Muitos nem conseguem treinar, simplesmente com medo de deixar as suas casas.
A etíope Tsigie Gebreselama é uma das poucas atletas etíopes que tem lidado com a confluência de todas essas tensões. Assim, quando venceu a Great Ethiopian Run no passado domingo, a atleta sentiu uma imensa gratidão pela oportunidade. “Estou muito feliz com a corrida de hoje”, disse a medalhada de bronze no Mundial de Corta-Mato em sub-20.
“Eu nunca parei os meus treinos desde o início da COVID, mas tive que interromper um pouco os meus treinos, quando começou a guerra.”
Uma das suas primeiras grandes provas em que participou foi nas seletivas para Hengelo 2019, onde ela não se classificou para a seleção que ia participar no Campeonato Mundial, sendo nona, com 30m57s. Na sequência, o seu agente Malcolm Anderson procurou levar a etíope a provas internacionais, de forma a ganhar mais experiência.
“Ela venceu os 15 km em Istambul e Montferland, mas o foco ainda estava na pista”, disse Anderson. “2019, foi realmente um trampolim para ela. Conseguiu participar numa prova no país, no início de 2020, e foi decidido ir participar em provas nos Estados Unidos na Primavera e, obviamente, esses planos ficaram no ar.”
Gebreselama estava programada para estrear-se na distância da meia maratona em Novembro, em Nova Delhi, numa prova com muitos atletas de elite. Mas foi então que começou o conflito no seu país. Em 4 de Novembro, o governo da Etiópia atacou bases na região de Tigray, onde Gebreselama reside, enquanto aumentavam as tensões entre o governo regional e o estado central. O governo desligou simultaneamente os serviços de eletricidade, telefone e internet em Tigray, impossibilitando que as pessoas da região pudessem comunicar com as de fora.
“Não ouvimos nada durante todo o mês de Novembro”, disse Anderson. “Estávamos muito preocupados como todo o mundo.”
Após cerca de seis semanas, Gebreselama pôde vir a Adis Abeba treinar e, com sorte, ter outra hipótese de correr, mas não tem sido nada fácil desde então.
“Ainda não temos muita informação ou comunicação”, disse Gebreselama, “às vezes fico stressada pensando na minha família, mas pelo menos agora, posso treinar e estou a tentar concentrar-me nas próximas provas”.
Além do foco de Gebreselama em face do conflito, foi interessante observar o seu patrocinador. Quase todos os corredores de elite da Etiópia são apoiados pela Nike ou Adidas, e todos corriam com o Nike Next% ou o Adidas Adios Pro. Gebreselama, é no entanto, patrocinada pela ASICS, e correu com os Metaracers. Ela tem trabalhado em estreita colaboração com a marca e fornecido feedback no desenvolvimento do produto.
Apesar do triunfo no domingo, ela ainda não está a pensar mudar-se de vez para a estrada. Depois de entrar na lista de finalistas da Federação Etíope de Atletismo para os Jogos Olímpicos de Tóquio, esse será por agora, o seu principal foco, mas com os olhos voltados para mais triunfos na estrada e distâncias mais longas no futuro próximo.
Gebreselama teve um prémio monetário de 100.000 Birr etíopes (2.096 euros) pela vitória na prova de domingo. As provas são atualmente escassas na Etiópia, mas, mesmo com todos os atuais condicionalismos da pandemia e da guerra, os atletas estão aproveitando ao máximo.