Foi bem animado o Campeonato de Portugal do passado fim-de-semana, que marcou o regresso das provas nacionais neste período de pandemia. Houve de tudo um pouco: excelentes provas, recordes dos campeonatos, mínimos para o Europeu, grandes despiques, surpresas, resultados fracos em algumas provas, ausências relevantes, desilusões. No computo geral, e atendendo às limitações desta época, foram uns campeonatos positivos, mesmo que inferiores em marcas aos de há um ano, exceção feita aos campeões masculinos, sete dos quais superiores aos de 2020 e mais um com marca igual (altura), contra apenas quatro piores. Já no setor feminino, apenas em três provas se fez agora melhor (3000 m, barreiras e peso) contra nove piores. Ao nível dos terceiros lugares, tanto no setor masculino como no feminino, houve cinco marcas melhores e sete piores. E nada menos de sete campeões masculinos e sete femininos (metade das provas) obtiveram melhores marcas nacionais do ano. Registo ainda para seis atletas masculinos e quatro femininos cujos novos recordes pessoais lhes permitiram subir no top’10 nacional de sempre.
RECORDES NACIONAIS
Sub’23 (M) 3000 m Isaac Nader SLB 7.57,45
RECORDES DOS CAMPEONATOS
400 m (M) V. Ricardo Santos SLB 47,04
Triplo (M) Pedro Pichardo SLB 17,36
Peso (F) Auriol Dongmo SCP 18,91
SUBIDAS NO TOP’10 NACIONAL DE SEMPRE
Masculinos:
2º Pedro Pichardo SLB triplo 17,36
5º Mauro Pereira CPTSC 400 m 47,48
8º Isaac Nader SLB 3000 m 7.57,45
9º Samuel Barata SLB 3000 m 7.57,63
9º Nelson Pinto AJS altura 2,13
10º Isaac Nader SLB 1500 m 3.41,86
Femininos:
2ª Jéssica Inchude SCP peso 18,13
3ª Francislaine Serra SCB peso 7,39
7ª Ana Oliveira GAF triplo 13,31
10ª Catarina Queirós AJS triplo 13,04
PÓDIO MASCULINO DO CAMPEONATO
1º PEDRO PICHARDO (Benfica): Na sua primeira prova da época, conseguiu um recorde pessoal de pista coberta de 17,36 m, marca que o coloca como líder do ano bem destacado e lhe abre muito boas perspetivas para o Europeu, dentro de três semanas.
2º ISAAC NADER (Benfica): só não lidera este pódio porque a marca de Pichardo é de nível mundial. Mas o jovem benfiquista, não só ganhou duas provas como em ambas, fez mínimo para o Europeu, subiu ao top’10 nacional de sempre e bateu o recorde nacional sub’23 numa delas (3000 m). Curiosamente, um recorde que desde 1999, pertencia a Rui Silva… o seu treinador!
3º VÍTOR RICARDO SANTOS (Benfica): ganhou, como se esperava, os 400 m, mas com um tempo de muito bom nível (47,04), recorde dos campeonatos e não muito distante do seu recorde nacional do início do mês (46,64).
E AINDA: Outros nomos merecem referência, a começar pela dupla dos 800/1500 m, José Carlos Pinto (1º e 3º) e Nuno Pereira (2º e 2º), ambos também com mínimos para o Europeu nos 1500 m. Também Mauro Pereira, segundo nos 400 m, e Samuel Barata, segundo nos 3000 m, conseguiram boas progressões e tempos que lhes deram acesso ao top’10 nacional e são mínimos para o Europeu. Carlos Nascimento confirmou mínimo com muito boa marca aos 60 m.
A SURPRESA/REVELAÇÃO: ANDRÉ PIMENTA (J. Vidigalense): Com 7,33 como melhor no comprimento, este ex-júnior progrediu nada menos de 34 cm até 7,67, com outros três ensaios iguais ou acima do seu anterior recorde. Derrotou o consagrado Ivo Tavares, naquela que foi a grande surpresa do campeonato.
PÓDIO FEMININO DO CAMPEONATO
1ª AURIOL DONGMO (Sporting): Sem atingir o seu melhor, conseguiu mesmo assim, a sua terceira marca de sempre em pista coberta (18,91), a quinta contando também com as de ar livre. É destacada líder mundial do ano e forte candidata ao ouro no Europeu.
2ª PATRÍCIA MAMONA (Sporting): não atingiu (por seis escassos centímetros) a marca de qualificação para o Europeu exigida pela FPA mas os seus 14,03 não deixam de ser uma boa marca atendendo até a que foi a primeira prova da época. E conquistou o seu oitavo título de pista coberta, todos no triplo.
3ª MARIANA MACHADO (SC Braga): Uma presença para não esquecer. No 1º dia, ganhou os 1500 m mas foi desclassificada por usar sapatos não autorizados. No 2º dia, ganhou os 3000 m, sem adversárias por perto, em 9.09,09, mínimo para o Europeu. Objetivo conseguido.
E AINDA: Excelente o lançamento do peso, com quatro atletas acima dos 17 metros e recordes pessoais ainda para Jéssica Inchude (18,13) e Francislaine Serra (17,39). Cátia Azevedo cumpriu a marca de referência para o Europeu na sua primeira prova de 400 m da época. E Camila Gomes foi a melhor das três juniores que ficaram entre as quatro primeiras nos 800 metros.
A SURPRESA/REVELAÇÃO: CATARINA QUEIRÓS (J. Serra): Surpreendeu ao ganhar os 60 m barreiras, progredindo de 8,60 na época passada para 8,55 na eliminatória e 8,46 na final. E, entretanto, chegou aos 13,04 no triplo, confirmando progressos da semana anterior de 12,72 para 12,95. Já está no top’10 nacional de sempre no triplo (10ª) e muito perto nas barreiras (12ª).
O POSITIVO DO CAMEPONATO
+ A sua realização (mesmo sem público) e no termos habituais (todas as provas – exceto estafetas – e numa só pista) já é um fator bem positivo nesta época de pandemia.
+ Já são 13, os atletas com “passaporte” para o Europeu (alguns em duas provas), quatro dos quais o conseguiram neste campeonato. E a utilização de “lebres” nas corridas de meio-fundo foi uma boa ajuda para os excelentes resultados alcançados.
+ A transmissão do campeonato através da internet (com algumas compreensíveis limitações) e a divulgação dos resultados em cima do acontecimento.
O NEGATIVO DO CAMPEONATO
– As ausências, justificadas umas, outras nem por isso, de vários primeiros planos, a começar por João Vieira, que iria ganhar o seu 21º título na marcha mas preferiu o Campeonato de Espanha dos 50 km, onde desistiu. Mas também Nelson Évora, Susana Costa, Raidel Acea e João Vítor Oliveira fizeram falta, para já não falar em Paulo Conceição, ainda em processo de recuperação de grave lesão há já quase um ano.
– O programa-horário de domingo, que deixou um grande intervalo sem provas entre a vara (14.15 h) e o peso (14.30 h) e o comprimento (16.15 h) e barreiras (16.30 h).
– A questão dos sapatos proibidos utilizados por Mariana Machado nos 1500 m do primeiro dia, que deu origem a desclassificação da atleta, reclamação do clube e… silêncio da Federação, naturalmente sem conseguir explicar a diferença de tratamento dos casos do Nacional de 10000 m (“semi”-fechou os olhos, mantendo o título e anulando a marca) e deste. Mas não havia alternativa que não fosse mesmo a desclassificação da atleta…