Vera Bernardo tem 42 anos e é militar da GNR. É atleta da ARCD Venda da Luísa e apresenta um rico curriculum na área do trail: campeã nacional de Trail Ultra Endurance em 2023 e 2024, vencedora da final da Taça de Portugal de Trail em 2022 e 2023 e campeã mundial de Veteranos W40.
Vera Bernardo é natural de Alverca da Beira, concelho de Pinhel. Tem 42 anos e é militar da GNR. Desde cedo que o atletismo fez parte da sua vida, participando nas provas do Desporto Escolar. Mas depois, deixou-o de lado, até que há 8/9 anos, foi desafiada por alguns colegas de trabalho a participar na Meia Maratona de Coimbra. “Comecei a treinar e nunca mais parei”.
Vera representa a ARCD Venda da Luísa e treina normalmente 5/6 vezes por semana, quase sempre só. Tem treinador, “tento seguir o plano de treinos à risca, mas nem sempre assim foi”.
Difícil gerir carreira profissional com o atletismo
Como militar da GNR, nem sempre tem sido fácil gerir a vida profissional com os treinos e as provas. “Aproveito para treinar na minha hora de almoço ou então, acordo mais cedo para às 9 horas já ter o meu treino feito, dependo dos dias e da duração do treino. Como trabalho alguns fins-de-semana, tenho que me organizar e por vezes, fazer uma data de trocas para estar de folga no dia da prova”.
“As maiores diferenças entre as provas de Trail e de Estrada, são os ritmos”
Preferência pelas ultradistâncias
Como já referimos acima, a sua estreia no mundo do atletismo foi em 2015, na Meia Maratona de Coimbra. “Achei a prova duríssima, não estava preparada para tantos quilómetros”.
Atualmente, corre 12 a 15 provas por ano mas antes, fazia muitas mais. A sua distância preferida passa pelos 80/90 quilómetros. “É a distância onde me sinto mais confortável”. Correu apenas uma maratona de estrada, a de 2019 do Porto, mas não gostou da experiência. “Detestei, provavelmente não devo voltar a correr mais nenhuma”.
Prova especial no CCC de 100 km em Mont Blanc
Vera elege a final dos 100 km do CCC, uma das distâncias do Ultra Trail Mont Blanc que terminou em Chamonix, como a prova que mais gostou de participar. “Para além das paisagens deslumbrantes, do ambiente da prova à organização, gostei de tudo. Mas em Portugal, também temos provas muito bonitas e bem organizadas, a Serra da Lousã é fantástica e o meu local preferido para correr”.
Já a prova que lhe deixou piores recordações, foi a do Garmin Epic Trail Vall de Boí. “A prova estava mal marcada, a organização falhou por completo, andámos perdidos no meio dos Pirenéus, foi uma confusão”.
“As inscrições nas provas de estrada são muito mais baratas e normalmente, atribuem prémios monetários”
Diferenças entre a estrada e o trail
Sendo uma especialista no trail, Vera assinala as diferença que encontra relativamente à estrada: “As maiores diferenças entre as provas de Trail e de Estrada, são os ritmos. Na estrada, corre-se muito rápido, não são ritmos para mim e no Trail, há um espírito de entreajuda e companheirismo que não vejo nas provas de estrada”
Rico curriculum desportivo
Vera é dona de um rico curriculum desportivo. Foi campeã nacional de Trail Ultra Endurance em 2023 e 2024, vencedora da final da Taça de Portugal de Trail em 2022 e 2023 e campeã mundial de Veteranos W40.
De todos estes títulos, lembra particularmente o Campeonato Nacional em 2023. “Nunca mais me vou esquecer da emoção que senti ao chegar a Condeixa, fartei-me do chorar”.
“ Não nos podemos lembrar só do desporto no mês dos Jogos Olímpicos. Prepararmos um campeão do mundo leva muitos anos, envolve muito trabalho e um grande esforço financeiro”
Correr quando puder mesmo que a outro ritmo
Com a paixão da corrida bem entranhada, Vera pensa correr enquanto as pernas e o coração aguentarem. “Mas não vai ser sempre a este nível, qualquer dia vou correr só para poder apreciar as paisagens e conviver com o pessoal”.
Cuidadosa com a sua saúde, costuma fazer exames extra ao coração, para além dos exames médicos obrigatórios para a inscrição na FPA.
As lesões não a têm visitado muito “Nunca tive uma GRANDE lesão, umas entorses e umas roturas, mas nada de especial, não sei se é sorte ou é graças ao trabalho de reforço e dos treinos de Crossfit”.
Quanto a cuidados com a alimentação, considera-se ‘um bom garfo’, comendo de tudo e bem. Evita os fritos e pouco mais.
Campeonatos militares de BTT
Como modalidades alternativas ao atletismo, Vera escolhe o ciclismo ou a orientação. Participa sempre que possível, nos Campeonatos de BTT da GNR e das Forças Armadas. “Gosto muito, embora não esteja na minha zona de conforto, mas às vezes é importante desafiarmo-nos e pormo-nos à prova em outras modalidades”.
“No Trail, tem que haver um maior envolvimento da FPA, da ATRP, das próprias organizações e dos atletas”
Falta outra política desportiva no país
Quanto ao futuro da modalidade, Vera pensa que o atletismo e o desporto em geral, deviam receber mais apoios por parte do Estado. Lembra as escolas, onde devia haver mais horas de Educação Física. “Isso era muito importante, não nos podemos lembrar só do desporto no mês dos Jogos Olímpicos. Prepararmos um campeão do mundo leva muitos anos, envolve muito trabalho e um grande esforço financeiro”.
O prazer de correr sozinha na serra
No mundo das corridas e do trail em particular, Vera aprecia particularmente a liberdade. “São as horas que passo sozinha na serra, onde posso meter as ideias no lugar, libertar-me dos problemas do trabalho e da vida em geral”.
“Para mim, o mais importante numa prova é que esteja bem marcada e que no fim possa tomar um banho quente”
Provas bem organizadas em Portugal
Na sua opinião, as organizações das provas em Portugal têm vindo a melhorar muito, estando cada vez mais preocupadas com os atletas. Considera mesmo, que há algumas organizações que estão ao nível das melhores da Europa. “Mas o português tem o mau hábito criticar o que é nosso e dizer que só lá fora é que fazem as coisas bem. Para mim, o mais importante numa prova é que esteja bem marcada e que no fim possa tomar um banho quente”.
Objetivos para esta época
Vera definiu para a época de 2024/25, objetivos idênticos aos da época passada: participar em todos os Campeonatos Nacionais (do Sprint ao Endurance, passando pela corrida de montanha) e tentar voltar à seleção nacional. Gostava ainda de fazer uma ou duas provas no estrangeiro, “mas para isso, era necessário que o calendário nacional já estivesse fechado, e os critérios para a seleção definidos, por isso acho que já vai ser difícil”.
“Um obrigado especial a todas as pessoas que torcem por mim e me mandam mensagens de apoio e incentivo”
Quando a confundiram com outra atleta
Quanto a estórias engraçadas, Vera recorda uma tida numa prova de 100 quilómetros. “Um senhor que estava a acompanhar a prova e que eu não conhecia nem conheço, passou a prova toda a confundir-me com outra atleta. Ele puxava por mim, batia palmas, mas nunca acertou no meu nome. Quando chego ao quarto ou quinto abastecimento, comento com a minha equipa de apoio, eles fartaram-se de rir e ainda hoje, quando se lembram, ‘gozam’ comigo e não me tratam pelo meu nome”.
Agradecimentos finais
A terminar, Vera quis agradecer à Revista Atletismo, o convite para esta entrevista. Também um agradecimento especial à sua equipa, ARCD Venda da Luísa, que sempre a tem apoiado, aos seus patrocinadores, que a têm ajudado muito. “Sem eles, não conseguia fazer as provas que faço, isso é certo. Um obrigado especial a todas as pessoas que torcem por mim e me mandam mensagens de apoio e incentivo. Sabe muito bem saber que há pessoas que gostam de nós e que de alguma maneira, as inspiramos…”