Vera Fernandes tem 32 anos mas só corre há seis. O karaté foi a sua paixão anterior desde os 12 aos 24 anos. A mudança para Portimão foi determinante para abraçar o mundo das corridas. É treinada por Rita Borralho e corre pela Associação Académica da Belavista.
Vera Fernandes é lisboeta de nascimento mas reside atualmente em Portimão onde desempenha as funções de lojista. Tem 32 anos e começou a correr há apenas seis anos. Mas sempre praticou desporto. Foi karateca federada desde os 12 aos 24 anos mas quando se mudou para Portimão, deixou a modalidade e começou a frequentar o ginásio. “Foi aí que através de um grupo de amigos, comecei a correr duas vezes por semana e participei na minha primeira meia maratona (Lisboa)”.
Foi rápida a passagem de atleta amadora a atleta federada e de atleta nacional a atleta internacional. “Correr move-me e move todo o meu mundo. As metas a que me proponho são partidas para novos objetivos! Sou focada e quando caio, levanto-me mais forte. Não tenho medo de sonhar mas acima de tudo, movo-me para conquistar os meus sonhos. Para mim, o atletismo é uma competição e um desafio internos onde a cada dia, procuro uma versão melhorada de mim mesma”.
Atleta da Associação Académica da Belavista
Corre pela Associação Académica da Belavista (AABV), um clube de Lagoa e a “culpa” é do seu namorado Sérgio Lima. “Um dia fomos fazer um treino que consistia em correr de Lagos a Sagres (30 km) e nesse treino, estava presente o Sérgio Lima que me convidou para fazer parte do clube de atletismo da Belavista. Assim conheci o meu parceiro e o meu atual clube (AABV) e subi pela primeira vez ao pódio numa milha regional”.
Vera Fernandes leva o atletismo a sério. Treina em geral 11 vezes por semana: bidiários de 2ª a 6ª e um treino ao domingo. Com companhia na parte da tarde e de manhã sozinha, exceto às quartas-feiras quando tem a companhia do namorado.
A importância de Rita Borralho na sua carreira
Foi numa fase menos boa que Vera conheceu Rita Borralho e a sua assessoria desportiva RB Running. Com a sua orientação e apoio, conseguiu recuperar e três anos após ter iniciado o treino acompanhado, bateu os seus recordes pessoais aos 3000 m (9m54s), 5000 m (16m58s), 10km (34m50s) e meia maratona (1h17m23s) e ainda representou a seleção nacional no europeu de corta-mato em Hyéres 2015.
O treino não é feito totalmente à distância, uma vez que ela se desloca com regularidade a Lisboa porque tem lá família. “A Rita faz o meu plano, no entanto, nós comunicamos regularmente. Hoje em dia, com o telefone e a internet, qualquer problema resolve-se rapidamente”.
“O descanso faz parte do treino, mas eu ainda não consegui a 100% conciliar essa parte”
A importância do descanso
A sua estreia em provas oficiais foi na Meia Maratona de Lisboa (Ponte 25 Abril) tendo terminado em 1h34m. Gostou muito da experiência e nunca mais parou.
Vera não tem dificuldades em conciliar os treinos com o trabalho. Como ela nos diz, arranjamos sempre tempo quando temos vontade. “Se não vou às 8 h, vou às 6 h e se não vou às 7 h vou às 8 h. O seu maior problema consiste em conciliar o trabalho com o descanso. “Este faz parte do treino, mas eu ainda não consegui a 100% conciliar essa parte, apesar de ter o apoio total da empresa onde trabalho”.
Ela sente essa falta de descanso que afeta muitas vezes o seu rendimento em treinos e competições. Mas é realista: “quanto a isso nada mais pode ser feito, eu não sou profissional e o atletismo não me sustenta nem à minha família. Faço o que posso com o que tenho e enquanto puder evoluir, sinto-me bem”.
“O karaté é uma filosofia de vida que nos acompanha para sempre”
O fascínio da maratona
Nunca experimentou o trail e a sua distância preferida passa pelos 10 km em estrada. Mas não esquece o desafio da maratona que a “fascina profundamente”.
Participa anualmente em cerca de duas dezenas de provas e a São Silvestre da Amadora é a sua prova preferida. “É uma corrida única”. Já quanto à prova que lhe terá deixado menos recordações positivas, dá-nos uma resposta curiosa: “Não há nenhuma que eu não tenha gostado de participar. Mesmo as que nos correm mal, ensinam-nos algo”.
Já correu duas maratonas. A primeira foi a Maratona Nacional, em Dezembro de 2012, tendo sido quinta com 3h05m29s. “Corria há cerca de um mês pelo clube e não fiz nenhum treino específico. Fui apenas com o objetivo de chegar ao fim, até porque ainda não tinha muita noção da distância que era a maratona”.
Voltou este ano a correr a distância em Roterdão, tendo sido 13ª com 2h44m15s, uma melhoria de mais de 21minutos em relação à sua primeira experiência.
A maratona de Roterdão surgiu num contexto em que Vera precisava de um estímulo de autoconfiança. “Para quem trabalha e treina com objetivos, as frustrações e o cansaço tornam-se por vezes difíceis de gerir. Eu sabia que, com o trabalho feito ao longo destes agora seis anos, um recorde pessoal na maratona era bastante provável. Por outro lado, treinar para a maratona é bastante difícil e coloca grandes desafios. Ao superar esses desafios, eu demonstrei a mim própria que posso continuar a acreditar que mais e melhor é possível, ao mesmo tempo que aproveito para sair da zona de conforto”.
É com naturalidade que os seus projetos futuros na modalidade passam por melhorar o seu recorde pessoal nos míticos 42.195 metros.
“Se a minha carreira fosse um iceberg, o atletismo seria a ponta visível, enquanto que a minha base desportiva estava escondida mas representava uma percentagem muito maior (Karate)”
Participação no Europeu de Corta-Mato, momento mais marcante da carreira
Ao fim de três anos de corrida, chegou o momento que mais marcou a nossa entrevistada. A seleção para representar o país no Campeonato da Europa de Corta-Mato, em Dezembro de 2015. “Tendo em conta que esse foi o meu terceiro ano de prática da modalidade, para mim, foi um acontecimento fascinante porque eu não tinha um quarto da experiência das minhas colegas e a minha ‘carreira’ não passava na sua maioria por esta modalidade. Por exemplo, se a minha carreira fosse um iceberg, o atletismo seria a ponta visível, enquanto que a minha base desportiva estava escondida mas representava uma percentagem muito maior (Karate)”.
“Eu não sou profissional e o atletismo não me sustenta nem à minha família”
Karaté, filosofia de vida
A forma como o espírito de sacrifício une as pessoas é o aspeto que mais aprecia no mundo das corridas.
Pensa correr enquanto se sentir bem. “Da mesma forma que o atletismo entrou na minha vida por acaso, assim ele há-de sair. Eu não tenho perspetivas para que isso aconteça. Estou no atletismo porque gosto e porque quero. Não seguiria nenhuma outra modalidade”.
Abandonou o karaté porque mudou de residência mas para si, “essa modalidade é uma filosofia de vida que nos acompanha para sempre”.
Não dispensa os exames médicos de rotina. Quanto a lesões, foi visitada por uma rotura muscular ano e meio após começar a treinar regularmente. “Depois disso, tenho sabido manter o equilíbrio entre treinos e a dar descanso ao corpo quando ele precisa”.
Segue uma alimentação saudável, evitando fritos, refrigerantes, etc. “Faço-o não só por causa do atletismo, mas porque me faz sentir bem a nível físico porque me sinto mais saudável e forte e também por uma questão de gosto alimentar”.
“Sou focada e quando caio, levanto-me mais forte. Não tenho medo de sonhar, mas acima de tudo, movo-me para conquistar os meus sonhos”
Portugal, país de talentos
Vera não tem dúvidas em identificar Portugal como país de talentos. Na sua opinião, o futuro da modalidade vai depender de outros fatores, sociais e económicos. “Se houver condições para a prática da modalidade, se houver apoio e incentivos aos atletas, não existem razões para o futuro do atletismo em Portugal não ser risonho”.
Regras para uma prova bem organizada
Reconhece que não tem experiência na organização de corridas mas sintetiza de forma simples o que é para si uma prova bem organizada. “Do ponto de vista do atleta, uma prova que cumpre o horário, cujo percurso está bem demarcado, cuja distância está correta, que atribui os prémios de forma célere, disponibiliza cabides para guardar as roupas dos atletas, é uma prova de forma geral bem organizada”.
Corrida “louca” em Marrocos
Quanto a estórias, conta-nos uma passada em Marrocos em 2016, quando foi convidada a participar nos 10 km Internacional Memorial Rahal. Já tinha sido avisada que as partidas lá são um pouco ‘loucas’ mas nunca pensou que fossem tanto. Fez o seu aquecimento junto com os outros atletas de elite e chegada a hora da partida, Vera perguntou a um membro Organização como podia ir para a partida dos atletas de elite. “Eu já não via ninguém da elite que ia correr comigo. No entanto, muitas vezes eles têm de dar a partida antes da hora da prova porque lá, todos querem partir junto da elite e por vezes furam por entre os seguranças e eles já não os conseguem parar porque são muitos. No entanto, o senhor enganou-se e disse-me para ir para a zona de partida do pelotão. Quando eu percebi que estava na zona errada já era tarde, porque tinha de andar cerca de 350 metros e não havia tempo porque já se tinha juntado muita gente e era difícil passar. Assim, eu parti junto com o pelotão e fiz mais cerca de 350 metros nessa corrida, para além de ter de me desviar e perder muito tempo na partida. No entanto, ironicamente, bati o meu recorde pessoal nessa prova (34m50s) porque o nível competitivo era alto. Senti-me bem na corrida e acredito que se não fosse o percalço da partida, teria feito ainda melhor”.
Agradecimento público
A terminar, Vera quis agradecer RB Running (Assessoria Desportiva, www.rbrunning.com) da sua treinadora Rita Borralho que “me ajudam a manter a motivação para a modalidade”.
Aproveitou ainda a oportunidade para divulgar o seu instagram (@vera_fernandes_atleta), o seu blogue pessoal (https://www.asics.com/pt/pt-pt/frontrunner/profile?key=42864) e o site do seu clube www.aabv.pt