Verónica Santos levava a filha aos treinos do Clube de Atletismo Mónica Rosa e ficava na bancada a vê-la treinar. Não demorou muito tempo a fazer companhia à filha e hoje, o atletismo faz parte da sua vida. Corre há apenas dois anos mas já apresenta um bonito curriculum, com frequentes subidas ao pódio. É uma atleta “todo o terreno”, correndo na pista, estrada, corta-mato, praia, dos 100 m aos 10 km.
Verónica Santos tem 39 anos e é natural de Leiria. Farmacêutica de profissão, o atletismo apareceu na sua vida de forma inesperada. Tudo começou quando a partir de Outubro de 2017, passou a levar a sua filha Bruna Silva aos treinos do Clube de Atletismo Mónica Rosa. “Muitas vezes, ficava na bancada a vê-la treinar e tinha vontade de experimentar, mas não me manifestava porque achava que com a minha idade e falta de experiência, já era tarde para começar”.
Mas nunca se é velho/a para abraçar o mundo das corridas. Em Outubro de 2018, a treinadora Mónica Rosa e dois amigos (Carla Leitão e Carlos Leitão) convidaram- na para participar num Trail. Ela acabou por aceitar o convite. “Gostei da experiência pelo convívio e participei em mais quatro provas de Trail, sempre com o objetivo de me divertir e sem qualquer tipo de treino”.
Depois e conforme ia treinando e melhorando a sua forma física, Verónica começou a pensar em entrar em provas, tendo optado pela estrada, “por serem mais curtas, mais rápidas e mais planas”.
Segundo lugar final no Circuito da ADAL
Verónica Santos é atleta do Clube de Atletismo Mónica Rosa e estreou-se na estrada em Abril de 2019 nos 10 km de Leiria, prova integrada no Circuito de meio-fundo da Associação de Atletismo de Leiria (ADAL). E saiu-se muito bem dessa sua primeira prova de estrada, tendo sido a quarta classificada do escalão F35.
A partir daí, participou nas provas do Circuito da ADAL (essencialmente provas de estrada, mas também quatro corta-matos, uma prova de areia (na praia) e duas de pista, 1.500 m e 5.000 m. Verónica foi quase sempre medalhada nas provas do Circuito, obtendo o segundo lugar final no seu escalão.
Treina cinco vezes por semana, na maioria das vezes sozinha, mas sempre orientada pelos treinadores do clube Mónica Rosa e José Barradas. “A sua ajuda/conhecimentos tem sido fundamental no planeamento do treino e na execução”.
Da pista ao trail, passando pela estrada e corta-mato
Podemos definir Verónica como uma mulher “todo o terreno”. Antes da pandemia, correu 25 provas, desde Outubro de 2018 até Março de 2020 (5 Trails, 4 corta-matos, 2 provas de pista e 14 de estrada). Depois, só participou em quatro provas de pista e uma de estrada, uma vez que a maioria das provas foi cancelada devido à Covid-19.
Dada a sua profissão, não lhe tem sido fácil conciliar o trabalho com os treinos. “Tenho pouco tempo livre. Treino quase sempre sozinha e depois das 20h00. Não tem sido fácil conciliar tudo mas tenho tido o apoio da minha família e dos treinadores”.
“A corrida faz parte do meu estilo de vida por isso, penso correr até que ainda me sinta feliz a fazê-lo”
Primeiro pódio num dia muito especial
O primeiro pódio de Verónica no seu escalão foi em Maio de 2019, na prova de rampa da Barreira. “Foi um momento muito especial, porque, para além de ser o meu primeiro pódio, era o dia de aniversário do meu filho Rafael Silva. Ele subiu comigo ao pódio e eu ofereci-lhe a medalha como presente”.
Mas curiosamente, a primeira vez que foi ao pódio como vencedora do seu escalão foi também num dia muito especial para ela. Foi na Légua do Pedrogão, no dia do seu aniversário!
A correr sempre, apesar da pandemia
O gosto pela modalidade fez com que Verónica não deixasse de treinar, apesar da pandemia e da consequente falta de provas. “O gosto pela corrida, os amigos que conheci e todo o ambiente que se vive nas provas, fizeram com que tivesse vontade de continuar”.
Duranta a pandemia, faltaram as provas de estrada mas realizaram-se algumas provas de pista, sempre respeitando as normas da DGS. Verónica resolveu experimentar e com resultados bem animadores.
Obteve o 2° lugar absoluto distrital nos 3.000 m em 22 de Novembro de 2020; o 3° lugar absoluto distrital na estafeta 4×100 m em 19 de Junho de 2021; o 2° lugar absoluto distrital nos 800 m em 20 de Junho de 2021.
Ainda em Junho deste ano, foi segunda no seu escalão no Campeonato Distrital de Estrada disputado em Pombal. Mais recentemente, em Julho, sagrou-se campeã nacional F35 na prova da milha, no Campeonato Nacional de Veteranos, realizada no estádio de Leiria.
“Gosto de todo o ambiente que envolve as corridas, do apoio do público e dos amigos que conheci”
Preferência pela pista
Curiosamente e apesar de ter corrido maioritariamente na estrada e em corta-mato, as suas distâncias preferidas são os 200 e 400 metros. Talvez por isso, a sua preferência pela pista, “por serem provas mais curtas e mais rápidas”.
Correndo há três anos, Verónica identificou três provas que lhe deixaram boas recordações. Lembra os 10 km integrados na Meia Maratona de Leiria (09/2019), “pelo percurso e por todo ambiente e apoio que envolvia a prova”. Ainda a Légua da Praia do Pedrogão (07/2019), “por ser uma prova diferente. A corrida faz-se na areia à beira-mar”. Mais recentemente, quando se sagrou na pista de Leiria, campeã nacional de veteranos na milha, adorei a experiência”.
Já as provas que lhe mereceram menos agrado foram os trails, “porque são muito exigentes a nível físico devido à inclinação. Gostei do convívio mas não tenciono repetir”.
Ainda não se estreou na maratona e embora tenha começado a correr na estrada, o seu principal objetivo foi sempre competir na pista. Mas como no distrito de Leiria, não existem muitas provas de pista para veteranos, daí ter começado a competir em provas de estrada. Estas foram canceladas quase na sua totalidade devido à pandemia e como se continuaram a realizar algumas provas de pista, ela resolveu experimentar.
Momentos mais marcantes da carreira desportiva
Verónica escolhe dois momentos mais marcantes da sua carreira desportiva. A primeira vez que foi chamada ao pódio, “porque a partir desse momento, passei a acreditar que se treinasse mais, poderia melhorar e alcançar resultados que até a essa altura, achava que eram impossíveis”.
O segundo momento foi em 17 de Julho deste ano, quando se sagrou campeã nacional F35 na prova da milha. “Também foi um momento muito importante para mim, pois deu-me motivação para continuar a treinar”.
Projetos futuros na modalidade
Para Verónica, “a corrida faz parte do meu estilo de vida por isso, penso correr até que ainda me sinta feliz a fazê-lo. Quanto às competições, penso continuar enquanto sentir que consigo fazer melhor”. Mas se não estivesse no atletismo, gostaria de ser futebolista.
No futuro, quer continuar a superar-se, participar em novas experiências e conviver com outros atletas. “Gostava também de ter alguma função ligada ao atletismo que me permitisse ajudar outros atletas a alcançar os seus objetivos, mas ainda não defini qual”.
Não dispensa os exames médicos de rotina e ainda não foi visitada pelas lesões. Tem procurado ter sempre uma alimentação saudável, mesmo antes de começar a correr.
“Durante a corrida, passamos por muitas emoções e vamos aprendendo a gerir/lidar com elas. Esse conhecimento pode ser aplicado no nosso dia-a-dia”
Faltam mais apoios para o atletismo
Na sua opinião, a modalidade deveria ter mais apoios. “Muitos jovens abandonam o atletismo a partir dos 13/14 anos porque têm que estudar mais e, nem sempre é fácil conciliar com os treinos e as competições. Acho que a partir dessa idade, só deveriam ter aulas de manhã para terem mais tempo para treinar e para recuperar do esforço físico. Muitas vezes, também abandonam porque sentem que não há muito apoio financeiro e que o futuro é incerto. Então, optam por carreiras que lhes permitam uma maior estabilidade”.
Quanto a uma melhor organização das provas, considera que elas deveriam ser mais divulgadas de modo a atrair mais atletas e mais público.
No mundo das corridas
Verónica enumera os vários aspetos que mais aprecia no mundo das corridas. “Gosto de todo o ambiente que envolve as corridas, do apoio do público e dos amigos que conheci. Também gosto da corrida em si por ser um momento de introspeção e auto-conhecimento. Permite desenvolvimento físico e mental/emocional. Durante a corrida, passamos por muitas emoções e vamos aprendendo a gerir/lidar com elas. Esse conhecimento pode ser aplicado no nosso dia-a-dia: estabelecer objetivos e trabalhar para os alcançar, lidar com a alegria e a tristeza, com as vitórias e as derrotas, superação e determinação, espírito de sacrifício, amizade”.
“Os meus filhos hoje, veem-me como um exemplo e fico feliz por ser uma inspiração para eles”
Surpreendida com Rosa Mota
Quando a estórias, Verónica participou na corrida do Bombarral em Junho de 2019. Chamada ao pódio, viu a medalha que tinha conquistado ser-lhe entregue por Rosa Mota. “Não estava à espera. Foi uma grande surpresa”.
Ela e os seus dois filhos (Bruna Silva e Rafael Silva) são atletas do Clube de Atletismo Mónica Rosa. Quando começou a correr, eles diziam na brincadeira que ela ia ficar em última. “Com o tempo, mostrei-lhes que com trabalho, conseguia obter bons resultados. Hoje, veem-me como um exemplo e fico feliz por ser uma inspiração para eles”.