O atletismo português tem um rico historial, desde o início do século passado. Apresentamos seguidamente um trabalho de Arons de Carvalho, do que mais importante aconteceu no atletismo português, prova a prova. Começamos hoje pelos 100 metros.
Francis Obikwelu é, de longe, a principal figura da história dos 100 metros em Portugal. Nascido e iniciado no atletismo na Nigéria, ficou em Portugal aquando do Mundial de Juniores de 1994, para o qual foi selecionado com apenas 15 anos de idade. E tornou-se português em final de 2001, a tempo de se sagrar campeão europeu em 2002 (após desclassificação, anos mais tarde, de Dwain Chambers) e em 2006 e vice-campeão olímpico em 2004, colocando o recorde nacional em “inacessíveis” 9,86. Obikwelu detém as 11 melhores marcas nacionais, quatro das quais abaixo dos 10 segundos.
Daí a tendência para salientar o melhor tempo conseguido por um atleta nascido em Portugal. Carlos Calado, com 10,11 em 1999, foi o “recordista” até 2017, quando David Lima, nascido em Lisboa mas a viver em Inglaterra, melhorou esse tempo para 10,05.
Mas a história dos 100 metros é rica. António Stromp, em 1912, foi mesmo o primeiro atleta olímpico português. E Mário Porto, em 1934, foi o único português na estreia nacional em Campeonatos da Europa. Antes, em 1932, Sarsfield Rodrigues fora o primeiro português a correr os 100 metros em 10,6s, recorde que perdurou ao longo de 32 anos, sendo 11 vezes igualado por outros cinco atletas: Prata de Lima em 1933; Tomás Paquete em 1946 e 1950; Nuno Morais duas vezes em 1948; Jorge Soares em 1961, 1962 (duas vezes) e 1963; e José Rocha duas vezes em 1963. Até que este mesmo José Rocha conseguiu 10,5 em 1964, ano em que por três vezes igualaria o recorde. António Fonseca e Silva em 1969 e 1971, Carlos Calado (outro que não o mais conhecido saltador/velocista do final do século) e António Manso em 1975 e Vítor Mano em 1977 e 1979 também igualaram esses 10,5. Até que, em 1983, com 10,52, e 1985, com 10,50, Luís Barroso bateu o recorde e abriu a era dos tempos eletrónicos.
Ao atleta alentejano que fez furor à época, sucederam Arnaldo Abrantes (pai de outro velocista internacional com o mesmo nome), com 10,44 em 1986, Pedro Agostinho, com 10,36 em 1988, Carlos Calado e Luís Cunha, com 10,34 em 1996, e, depois, Carlos Calado com 10,16 (1997) e 10,11 (1999). Até que Obikwelu se naturalizou e não mais deu hipóteses, fazendo sucessivamente 10,09, 10,06, 10,01, 9,93 e 9,86 entre 2002 e 2004. Obikwelu que, entretanto, representou por duas vezes a Europa na antiga Taça do Mundo, sendo terceiro em 2002 e segundo em 2006.
Mas os 100 metros tiveram mais quem se destacasse a grande altura. António Faria continua a ser, de longe, o atleta mais vezes campeão (nove consecutivas, entre 1953 e 1961) e o segundo mais vezes internacional (17). Luís Cunha soma 14 internacionalizações em 100 metros. Yazaldes Nascimento foi, para além de Obikwelu, o único português finalista em grandes competições (8º no Europeu de 2014). Ricardo Alves, ainda detentor do recorde nacional de juniores, foi quem mais se distinguiu nos escalões jovens (6º no Europeu de sub’23 e no Mundial de juniores).
Mas recordemos uma série de dados curiosos.
RECORDES NACIONAIS
Absolutos Francis Obikwelu Sporting CP 9,84 2004
Sub’23 Carlos Calado Sporting CP 10,16 1997
Juniores Ricardo Alves Tramagal SU 10,39 2000
Juvenis Luís Barroso Zona Azul 10,52 1983
OS + CAMPEÕES DE PORTUGAL
António Faria 9 (1953-1961)
Francis Obikwelu 5 (2004-2010)
António Sarsfield 4 (1929-1933)
Mário Porto 4 (1930-1936)
Tomás Paquete 4 (1946-1951)
Vítor Mano 4 (1976-1979)
Luís Barroso 4 (1983-1987)
Pedro Agostinho 4 (1988-1993)
Yazaldes Nascimento 4 (2011-2015)
OS + INTERNACIONAIS
Francis Obikwelu 19 (2002-2014)
António Faria 17 (1955-1963)
Luís Cunha 14 (1984-1998)
RECORDES DOS CAMPEONATOS NACIONAIS
Absolutos Francis Obikwelu Sporting CP 10,20 2006
Sub’23 Carlos Calado CN Rio Maior 10,43 1996
Juniores Ricardo Alves Tramagal SU 10,39 2000
Juvenis Ricardo Alves Tramagal SU 10,77 1998
PRINCIPAIS CLASSIFICAÇÕES NAS GRANDES COMPETIÇÕES | ||||||
JO | 15 | 2º | Francis Obikwelu | 9,86 | Atenas | 2004 |
CM | 10 | 4º | Francis Obikwelu | 10,07 | Helsínquia | 2005 |
CE | 18 | 1º | Francis Obikwelu | Munique | 2002 | |
1º | Francis Obikwelu | 9,99 | Gotemburgo | 2006 | ||
4º | Francis Obikwelu | Barcelona | 2010 | |||
8º | Yazaldes Nascimento | Zurique | 2014 |
Nota: a seguir à competição (J. Olímpicos, C. Mundo, C. Europa), indica-se o número de atletas portugueses presentes no conjunto de todas as edições, as classificações no top’16 (JO, CM) ou top’8 (CE), os melhores tempos nacionais na prova e os locais e anos dessas classificações.
PORTUGUESES NA TAÇA DA EUROPA/EUROPEU DE SELEÇÕES
Mais presenças:
Francis Obikwelu 9 (2004-2014)
Vítor Mano 5 (1977-1983)
Melhor marca: Francis Obikwelu 10,12 (2007)
Melhores classificações:
– Na Superliga: 2º Francis Obikwelu 2009
– Na I Liga: 1º Francis Obikwelu 2004-05-06-07-08
PORTUGUESES NO TOP’8 DE OUTRAS COMPETIÇÕES
Campeonato da Europa de Sub’23:
2º Carlos Calado 1997
6º Ricardo Alves 2001
8º Ricardo Alves 2003
8º Carlos Nascimento 2015
Campeonato do Mundo de Juniores:
6º Ricardo Alves 2000
7º Carlos Nascimento 2012
Campeonato da Europa de Juniores:
6º André Biveti 2011
7º Paulo Neves 1993
8º Ricardo Pacheco 2001
Festival Olímpico da Juventude Europeia:
7º Paulo Neves 1991
Jogos Mundiais Universitários/Universíadas:
6º Arnaldo Abrantes 2007
A seguir: 200 metros (M)
(Este artigo ficará igualmente arquivado no site www.atletismo-estatistica.pt)