Domingos Pão Duro é um dos mais antigos atletas populares. Tem 75 anos de idade e corre há 38. Estreou-se nos 20 km de Cascais e ainda agora, corre 1/2 maratonas por ano. Encara com otimismo o futuro do atletismo popular.
Domingos Pão Duro é um alentejano nascido em Barrancos, terra de Paulo Guerra, aquele que foi considerado o “Queniano branco”.
Com 75 anos de idade, está naturalmente reformado da sua atividade profissional. Mas há 38 anos que se mantém bem ativo na prática desportiva. Pão Duro sempre gostou de fazer desporto. “Quando era miúdo, tinha de andar 5 km para ir à escola e outros cinco para regressar a casa. Mas lá na terra não havia hábitos de desporto”.
Já no final do serviço militar, tirou um curso de Educação Física em Mafra. Foi o clique que lhe faltava para começar a correr. Durante algum tempo, apenas fazia um ou outro treino. Aos 37 anos de idade, começou a ir treinar ao Estádio Nacional onde encontrou outros companheiros irmanados no mesmo gosto desportivo.
“Os horários das provas são tardios, elas deviam começar mais cedo”
Estreia nos 20 km de Cascais
A sua primeira prova oficial foi os 20 km de Cascais. Gostou e nunca mais parou. “Foi fundamental, gostei imenso. Mas não estava preparado para a distância, custou-me um pouco acabar a prova. A partir daí, ia correr quase todos os fins de semana”.
49 maratonas + 2 ultras
Treina quatro vezes por semana, sem um treinador ou um plano de treinos. Ainda 1/2 maratonas por ano, uma dezena de meias maratonas e inúmeras provas de 10 km. Atualmente, representa os Papagaios de Cascais e os Amigosdacorrida.com
Já completou 49 maratonas e duas ultras. Estreou-se na distância rainha em 1990 e tem como recorde pessoal, 3h17m50s.
“Acabar uma maratona foi sempre o momento mais marcante”
Noturna da Malcata
A corrida que mais prazer deu a Pão Duro foi a Noturna da Malcata, a ligar Penamacor a Sabugal, então com 51 km. Já a prova que menos boas recordações lhe deixou foi uma Maratona que terminava na Praça do Comércio. “Lesionei-me e tive de andar a passo na parte final”. É com orgulho que Pão Duro lembra nunca ter desistido nos 42.195 metros. “Acabar uma maratona foi sempre para mim o momento mais marcante”.
“O trail oferece outro tipo de motivações, podemos gerir melhor o esforço e não chegamos à exaustão”
Da estrada ao trail
Tendo começado a correr há 38 anos, Pão Duro define-se como um homem da estrada. Mas já se aventurou nos trails e gostou da experiência. “A estrada é muito competitiva e agressiva em termos físicos. Gosto muito da montanha, corro melhor em corta-mato”. E complementa “O trail oferece outro tipo de motivações, podemos gerir melhor o esforço e não chegamos à exaustão”.
Basquetebol
Aprecia particularmente a camaradagem no mundo das corridas. Se não estivesse no atletismo, teria optado pelo basquetebol. Costuma fazer exames médicos de rotina e não tem grandes cuidados com a alimentação. “Mas procuro não abusar”.
Quem tem 75 anos de idade e corre há 38, não pode pensar em desistir. “Hei-de correr enquanto tiver saúde”. Os seus projetos na modalidade passam por “manter-me tanto quanto possível junto a esta gente e apoiando-a”.
As lesões não o têm castigado demasiado. Lembra-se apenas de uma mais complicada, uma lesão ciática com artrose num dedo do pé direito que o impediu de participar numa das edições da maratona do Porto.
“Nunca houve tantas condições como hoje. Há apoios de todo o lado…”
Corridas deviam começar mais cedo
Quanto a sugestões para uma melhor organização das provas, considera ser natural haver aspetos que se possam melhorar. “As Organizações deviam ter mais respeito pelos atletas. E os horários das provas são tardios, elas deviam começar mais cedo”.
Pão Duro encara com otimismo a evolução do atletismo popular. “Nunca houve tantas condições como hoje. Há apoios de todo o lado, no início havia apenas meia dúzia a correr”.
“Devia-se fazer um estudo à longevidade dos atletas”
Correr antes acompanhado do que sozinho na Noturna da Malcata
Estórias não faltam ao nosso entrevistado. Algumas, com uma lição de vida como na Noturna da Malcata, então com um reduzido número de participantes. “Combinei fazer a prova com o Chico Cruz que fumava muito. Por volta dos 15 km, ele quis fumar um cigarro e foi pedi-lo a um bombeiro. Ele ficou e eu continuei a correr. Antes da aldeia da Malcata, encontrei o António Belo que estava sentado, muito mal disposto. Ele queria continuar mas eu segui sozinho. Cheguei à Malcata e já não havia abastecimentos. Cortei a meta e mais tarde, chegou o Belo. Nunca mais deixei ficar alguém sozinho e eu seguir sem companhia”.
Estudo a Veteranos com mais de 70 anos
A terminar, Pão Duro deixou uma sugestão: “devia-se fazer uma análise à longevidade dos atletas. Temos agora muitos atletas com mais de 70 anos a correr, mais do que havia antigamente. Devia-se fazer um estudo”.