O impacto é considerado um vilão da corrida. O alto impacto está relacionado com várias lesões, como a fascite plantar, a canelite e a fratura por stresse. Deve ser combatido,
ou melhor, amortecido durante a corrida, e o senso comum diz que o sistema de amortecimento do ténis tem essa função salvadora. Mas não funciona exatamente assim.
Vamos comparar duas situações: na primeira, o atleta corre tocando primeiro o calcanhar no chão na aterragem e usando uns ténis com um grande amortecedor. Na segunda, o atleta está descalço, e o meio do pé é a primeira parte a tocar no chão.
Intuitivamente, somos levados a pensar que o primeiro atleta, de ténis, está mais protegido contra o impacto, mas na verdade é o oposto. Quando medimos o impacto nas duas situações, vemos menor amortecimento no atleta descalço. O que amorteceu o impacto se a pessoa estava sem ténis? Os seus próprios músculos, principalmente os gémeos.
Os amortecedores de ténis geram conforto durante a corrida e atenuam o impacto, porém não são capazes de anulá-lo. O impacto é muito menor quando corremos aterrando com o meio do pé e ativamos os músculos da perna, estando ou não de ténis.
O amortecimento de impacto foge tanto do óbvio que existe uma experiência muito interessante: alguém salta num colchão macio e depois no chão duro. Em que situação o corpo sofre maior impacto? No colchão macio. Isso porque é o cérebro que comanda os músculos para que eles amorteçam o impacto.
Quanto mais informações o cérebro tem sobre o que está acontecendo com o corpo e com o ambiente, melhor será o comando para os músculos. O contrário é verdadeiro, com pouca informação, a ação é pior. Então, no colchão, o cérebro não sentiu bem o impacto e por isso não gerou uma boa resposta para amortecê-lo. Pode-se pensar se isso também não acontece quando corremos com amortecedores muito grandes e macios.