Universidade americana e classe internacional
Campeã e vice-campeã europeia em Amesterdão’2016 e Helsínquia’2012, sexta nos Jogos Olímpicos do Rio’2016, quarta no Mundial de pista coberta de 2014, Patrícia Mamona atingiu em 2012, e reforçou nas épocas seguintes, classe internacional no triplo. Foi o culminar, com apenas 23 anos, de um percurso marcado por vários lugares de honra nos escalões jovens e que passou também por uma universidade norte-americana.
Filha de angolanos há vários anos a residir em Inglaterra (o pai, especialista em informática, professor universitário; a mãe, enfermeira, a trabalhar num lar para deficientes e idosos), Patrícia Mamona já nasceu em Lisboa e viveu a sua juventude nos arredores da capital, no Cacém. E foi aí, na Escola Ferreira Dias, que tudo começou em 2001, tinha ela 12 anos. O prof. José Uva, seu treinador, esteve lá um dia a deixar folhas de inscrição para quem quisesse praticar atletismo no JOMA e a jovem Patrícia, que já ganhara umas corridas na escola (nessa altura pensava que atletismo era corrida…), acabou por aparecer no clube. Logo na primeira época ganhou o Atleta Completo e, como iniciada, em 2003, liderou os rankings de 80 m barreiras (12,19), altura (1,60), comprimento (5,30), triplo (11,69) e hexatlo (3515), batendo os recordes nacionais destas duas últimas especialidades. E não mais deixou de brilhar, somando depois recordes nacionais do triplo desde o escalão de iniciadas, tanto ao ar livre como em pista coberta.
Nos vários escalões, de juvenis a sub’23, somou lugares de honra em Europeus e Mundiais: 5ª no Festival Olímpico da Juventude Europeia (2005), 7ª no Mundial de Juvenis (2005), 4ª no Mundial de Juniores (2006), 5ª no Europeu de Sub’23 (2009). A única (e grande…) deceção ocorreu no Europeu de Juniores de 2007. No Mundial do ano anterior havia sido quarta e uma das primeiras era chinesa, pelo que Patrícia Mamona tinha legítimas aspirações ao pódio. Mas, na qualificação, fez dois nulos e um salto muito mau e ficou fora da final.
Os seus progressos foram contínuos naqueles anos: de 13,51 em 2008, passou para 13,89 em 2009 (o primeiro dos seus sete recordes nacionais de ar livre), para 14,12 em 2010, 14,42 em 2011 e 14,52 em 2012.
Nesse período, Patrícia Mamona passava boa parte do ano em Clemson, nos Estados Unidos (Carolina do Sul). Em 2007, depois de um semestre na Faculdade de Medicina de Lisboa, aceitou um convite da Universidade local, surgido na sequência do seu 4º lugar no Mundial de Juniores do ano anterior. Por lá esteve até 2011, fazendo um curso de “pré-medicina”, de quatro anos. Em entrevista à Revista Atletismo, nesse ano, ela conta: “Nos Estados Unidos dão muita importância aos campeonatos coletivos e por isso eu tinha que treinar para várias especialidades e só depois do campeonato é que me podia dedicar apenas ao triplo. Mas soube-me muito bem a primeira vitória coletiva, é algo muito importante para eles.” Ao longo desses anos, Patrícia Mamona sagrou-se por duas vezes campeã nacional universitária dos Estados Unidos. Enquanto na América se distinguia também nas barreiras (13,53 como melhor), no pentatlo de pista coberta (4081 pontos) e no heptatlo (5293), em Portugal centrava todas as atenções no triplo, trabalhando essencialmente a parte técnica.
Em 2012, ano olímpico, Patrícia Mamona, que na época anterior ingressara no Sporting, resolveu dedicar-se a cem por cento ao atletismo, permanecendo em Portugal e adiando o projetado curso de medicina noutra universidade norte-americana. Projeto que continuou adiado face aos excelentes resultados entretanto alcançados.
A presença na final (8º lugar) no Europeu de Barcelona’2010, com 14,12 na qualificação e 14,07 na final, foi surpreendente. E os 14,42 obtidos um ano depois, no Campeonato de Portugal, em Lisboa, ainda mais. Daí, Patrícia Mamona seguiu para as Universíadas de Shenzhen, na China, sendo vice-campeã, e para o Mundial de Daegu, onde não foi feliz: ficou-se pelos 13,59, longe da final que estava ao seu alcance.
Ainda foi melhor a época de 2012, culminada com a medalha de prata no Europeu de Helsínquia, com um recorde nacional de 14,52. Nos Jogos de Londres, com 14,11, a final ficou apenas a cinco centímetros.
2013 foi uma época menos positiva. Ainda bateu o recorde nacional de pista coberta, com 13,99, e foi finalista (8ª) no Europeu (com 13,72). Mas ao ar livre ficou-se pelos 14,02, aquém do mínimo para o Mundial de Moscovo.
Já a época de 2014 começou da melhor forma. Na data-limite para a obtenção de mínimos para o Mundial, bateu por duas vezes o recorde nacional de pista coberta, com 14,01 e 14,36, marca esta que é a sua terceira melhor de sempre (ar livre+pista coberta). No Mundial de Sopot foi quarta, confirmando as marcas anteriores, com 14,26, e ficando a escassos 13 centímetros do pódio. Ao ar livre voltou a fazer 14,36 mas não esteve feliz no Europeu, onde era candidata a nova medalha. Foi 13ª na qualificação, com 13,62, a um lugar da final.
Voltou às grandes competições no Europeu de pista coberta de Praga’2015, sendo 5ª com as suas segunda (14,32 na final) e terceira (14,26 na eliminatória) marcas de sempre em pista coberta. Problemas físicos entretanto surgidos condicionaram a sua época de pista, na qual não conseguiu melhor que 14,19, ficando depois fora da final do Mundial (16ª com 13,74).
Mas em 2016 regressou a grande plano, com os pontos mais altos no Europeu de Amesterdão (1ª com 14,58) e nos Jogos do Rio de Janeiro (6ª com 14,65), mais dois recordes nacionais e o reforço de alto nível internacional.