Há pelo menos uns vinte anos que não se assistia a um período de transferências tão agitado como aconteceu desta vez, particularmente no que diz respeito a mudanças entre os dois grandes – Benfica e Sporting – que, por junto, devem ter protagonizado perto de umas três dezenas de trocas, com vantagem tanto em quantidade como em qualidade para os lados de Alvalade.
As mudanças mais surpreendentes foram as de Nelson Évora e Rui Silva, os atletas masculinos mais medalhados de sempre do atletismo português (com 9 e 12 medalhas, respectivamente) e verdadeiros símbolos dos seus anteriores clubes que, numa fase já bem adiantada das suas carreiras, decidiram mudar de camisola, rumando precisamente ao adversário direto. Neste caso, os “leões” ficaram a ganhar, pois Nelson, com 32 anos, parece estar em condições de dar um melhor contributo desportivo ao seu novo clube que propriamente Rui Silva, cujos 39 anos e um historial recente de lesões o levarão a dedicar-se mais às funções de treinador.
A razão de toda esta movimentação prende-se com o presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, que depois da vitória da sua equipa feminina na Taça dos Clubes Campeões Europeus de pista, no ano passado, se entusiasmou com o atletismo e deu indicações ao “staff” do clube para que fossem feitos todos os esforços no sentido de que também a equipa masculina passasse a ter condições para vir a discutir o titulo nacional e, posteriormente, o europeu.
Ora esta decisão veio agitar o mercado das transferências quebrando todo o tipo de acordos tácitos que em tempos foram existindo entre os dois clubes, particularmente na época de Moniz Pereira, que se traduziram nos últimos anos num verdadeiro ”tratado de Tordesilhas”, com o Benfica a dominar nos homens e o Sporting nas senhoras, isto para além de uma enorme poupança nos orçamentos de ambos os lados, fator muito importante, numa altura de vacas magras…
Agora, com esta ofensiva sportinguista, a parada aumentou e os valores das contratações dos atletas dispararam em flecha, com muitos deles a assinarem contratos por verbas iguais ou superiores ao dobro daquilo que auferiam anteriormente. Entretanto, é precisamente à figura dos contratos existentes – cuja validade levanta algumas reservas -, que o Benfica se está a agarrar para tentar impedir a saída de alguns dos seus atletas, invocando os acordos plurianuais como garante da sua continuidade no clube.
Para isso, apelou à intervenção da Federação que, em vésperas de eleições, não se tem querido pronunciar de forma perentória sobre o assunto, tudo apontando para que o mesmo só venha a ter desfecho nos tribunais e daqui por muito tempo. Até lá, se for esse o caminho, os grandes prejudicados serão os atletas, os clubes e a própria Federação, que em caso de suspensão ficarão impedidos de competir, como poderá acontecer já no próximo Campeonato da Europa de Corta-Mato, a 11 de Dezembro, onde alguns reúnem condições para serem selecionados.
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