São inúmeros os exemplos de superação em todas as modalidades desportivas. No atletismo, temos mais um exemplo, o do jornalista brasileiro Itamar Montalvão, de 44 anos, que depois de fazer um transplante renal há três anos e meio, quer agora correr a maratona de Chicago.
Ele encontrou na corrida, uma forma de amenizar o incómodo causado pelos inúmeros problemas renais que o acompanham desde os dois anos de idade quando enfrentou um cancro congénito no rim esquerdo. O tumor maligno obrigou os médicos a retirarem-lhe o órgão. A insuficiência renal deu-lhe novamente problemas já na fase adulta e manifestou-se no rim direito, sem uma relação direta com o problema de infância.
Montalvão passou cinco anos sem recorrer a um tratamento intervencionista para a insuficiência renal. O problema foi controlado com base numa dieta e atividade física reduzida. A corrida moderada, sem preocupações com longas sessões ou obsessão pelo ritmo, fazia-o transpirar e libertava-o para beber água.
Um dos sinais da insuficiência renal é a dificuldade em urinar. Como os rins não operam normalmente, há um represamento dos líquidos no corpo humano, podendo conduzir a um quadro de insuficiência respiratória ou problemas cardíacos.
“A corrida que eu fazia naquela época era terapêutica, tinha uma linha fisiológica e trazia um efeito positivo. Eu não urinava, a corrida era então um meio de perder líquido. Isso não me deixava tão restrito para beber água. Eu podia beber um litro de água por dia. Se eu suava na corrida, não ficava tão incomodado e permitia-me beber um pouco mais de líquido”.
O rim direito fraquejou definitivamente em 2009, ano em que os médicos introduziram a hemodiálise na sua vida. De Agosto de 2009 a Março de 2015, o trabalho que o rim direito já não fazia, foi cumprido por um procedimento através do qual, uma máquina limpa e filtra o sangue, eliminando os resíduos prejudiciais à saúde.
A hemodiálise significou um divisor de águas na vida de Montalvão. “A doença fez-me repensar muitas coisas. É algo que te limita tanto que eu mudei o meu pensamento. Decidi que, quando tudo aquilo acabasse, eu daria um novo rumo à minha carreira”. Dito e feito. Superada a fase mais delicada da hemodiálise, ele disse adeus à carreira como gerente de projetos numa multinacional de telecomunicações e decidiu estudar jornalismo.
Uma nova vida após o transplante
A espera por um novo rim acabou em Março de 2015, quando o seu médico o avisou que haviam encontrado um órgão compatível com o seu corpo. Dois meses após o transplante de rim, ele voltou a correr de maneira muito ligeira. Em Agosto do mesmo ano, correu uma primeira prova de 8 km. O que era apenas um meio para perder líquido, passou a ser visto como um novo estilo de vida.
Autorizado pelos médicos, Montalvão sentiu que “chegava a hora de procurar um programa de treino”. Disputou a sua primeira meia-maratona em Maio de 2016, a que se seguiram mais oito. Pensou então na sua primeira maratona ainda em 2016 mas a ideia não seguiu em frente porque os médicos alertaram que a ideia poderia ser perigosa.
A espera pelos 42 km acaba neste ano. Com a autorização dos médicos, ele prepara a sua estreia em Outubro na maratona de Chicago em Outubro.
Montalvão é agora jornalista num dos maiores jornais do país, O Estado de S. Paulo.
“Tudo isso que eu passei, não significa que eu não possa ter outros problemas no futuro. Mas os problemas que eu conhecia, ficaram para trás. Esse é um aspeto importante da conclusão dessa maratona. O meu único objetivo é terminar bem, concluir a prova sem estar estourado”.