José Ribeiro tem 67 anos e corre desde os tempos do Liceu. Já correu em 19 países e maratonas nos cinco continentes. Ganhou 11 medalhas em Europeus e Mundiais de Veteranos. De grande dinamismo, já foi treinador, juiz, dirigente, organizador, já fez um pouco de tudo na modalidade.
José Ribeiro nasceu em Braga em 1951. Reformado da sua atividade como professor de Educação Física, o desporto fez parte da sua vida desde os primeiros anos do Liceu. “Tenho dorsais em material de pano como corredor, com o ano de 1966/1967. Desde essa data, pratiquei várias modalidades desportivas, como federado no SC de Braga atletismo e futebol (Juvenis)”. Neste momento, ainda joga voleibol e futebol de salão uma vez por semana com os amigos.
Estreia na “Mãe das Meias Maratonas” em 1976
Estreou-se na estrada em 1976, na 2ª edição da Meia Maratona da Nazaré, a “Mãe das Meias Maratonas”. “Foi uma experiência única, naquele tempo era algo de anormal, de tal maneira que nunca mais deixei de realizar provas longas”.
José Ribeiro é atualmente atleta do Clube de Veteranos de Coimbra (CluVe) e treina praticamente todos os dias. Não tem treinador e treina sem um plano de treino rígido. Baseado na sua larga experiência, faz treino alternado de ritmo rápido, lento, séries na pista, longo para as maratonas etc.
Maratona, distância preferida
Participa em cerca de vinte provas por ano, contando com as de pista. Não hesita em eleger a maratona como a sua prova preferida mas reconhece: “agora demoro mais tempo e custa mesmo…” Já as provas que lhe deixaram recordações menos agradáveis, foram aquelas em que teve de desistir por lesão.
Para saber quantas maratonas já completou, teve de analisar os seus registros de treino desde a década de 80. São cerca de 40 e com algumas Ultras. A primeira foi na Foz do Arelho, no Campeonato Nacional do INATEL em 1982. Participaram 36 atletas e terminou em 2h49m50s, menos dez segundos do tempo então almejado.
“Só uma modalidade individual permite esta prolongada participação regular em competições”
Momentos mais marcantes da carreira
Como amante das maratonas, elege como suas preferidas, as dos Campeonatos Mundiais de Veteranos e a do Deserto do Sahará, esta em 2002.
Para quem corre há mais de 50 anos, deixar de correr está longe do seu horizonte. “Enquanto houver capacidade de resposta, enquanto não aparecer algo impeditivo, lesão… Vamos vendo”…E complementa: “Só uma modalidade individual permite esta prolongada participação regular em competições”.
Maratonas nos cinco continentes e 11 medalhas conquistadas
Participa desde 1996 nos Campeonatos Europeus e Mundiais de Veteranos em pista coberta, ar livre, estrada ou cross. Tem ainda uma participação nos Jogos de Masters (tipo Jogos Olímpicos). Já correu pelo menos uma maratona em cada um dos cinco continentes e correu em dezanove países.
Já ganhou 11 medalhas, sete por equipas e quatro individuais, uma de ouro, uma de prata, uma de bronze em Maratonas e uma de prata em 20 Km (Masters).
Naturalmente que as provas mais marcantes, foram aquelas que lhe permitiram subir ao pódio. Correu a Maratona na Austrália já com mais de 50 anos em 2h44m50s. “Foi um excelente tempo, mas não o melhor na distância”.
Por vezes, não é o facto de ganhar uma medalha que nos deixa melhores recordações. Foi o caso da sua participação numa maratona na Turquia. “Sem medalha mas com uma temperatura de quarenta e tal graus que permitiram completar uma Maratona nos cinco Continentes, ficou também marcada”.
Diferenças na estrada e no trail
Sendo um habitual participante nas provas de estrada e Trails, José Ribeiro transmite-nos as diferenças que encontra entre ambas: “Na estrada, a competição é/ será mais premente, permite aferir tempos, resultados. ‘Obriga’ a um esforço mais contínuo e a um ritmo certo, no final vamos ao limite ou quase. No Trail, não permite comparar tempos, tem dificuldades diversas, com pisos e desníveis inesperados. Nunca sabemos quanto falta para finalizar, logo temos que guardar reservas para algo que surja no fim… Não permite um ritmo contínuo, muitas vezes até deixamos de correr pela dificuldade do percurso, o que até permite um recuperar de energias (?)”
Evitar as operações
Ao contrário do que mandam as boas regras, José Ribeiro não é adepto de “visitas regulares” ao médico, só mesmo em último caso.
Com tantos quilómetros nas pernas, as lesões vão aparecendo inevitavelmente. De mais complicado, o aparecimento de calcificações nos dois calcanhares, tendão de Aquiles, o que o impede, quando acumula com a inflamação, um treino e uma participação consequente. “Torna-se muito custoso, mas já me ‘habituei’ às dores… Até hoje, preferi não arriscar as operações”.
Quanto à alimentação, tem os cuidados que todos os cidadãos devem ter com a mesma. “Alimentação variada, sem repetir o mesmo, sem fritos, poucas gorduras, sem pisas e afins, enfim comida portuguesa”.
“Tão cedo não haverá atletas em quantidade com a qualidade que já tivemos no final do século passado”
Futuro da modalidade: nas corridas populares e nas provas técnicas
José Ribeiro encara de forma diferente o futuro da modalidade nas corridas populares e provas técnicas. Na sua opinião, teremos cada vez mais participantes nas corridas mas boa parte deles nunca serão federados. Já as provas de pista, continuarão a ter um número reduzido de praticantes.
Considera ser necessária uma maior cooperação entre a Federação e os organizadores das provas populares. “Se as inscrições tivessem um preço mais reduzido para os federados, talvez se cativasse muitos participantes nas provas de estrada”.
Para aumentar o número de federados, pensa que as provas de pista deviam ter algo mais motivador para atrair atletas, como Provas Abertas a não federados ou as pistas estarem abertas aos treinos sem custos.
“Mas penso que tão cedo não haverá atletas em quantidade com a qualidade que já tivemos no final do século passado. Nas provas técnicas, poderemos também não ter uma quantidade significativa, mas na qualidade em termos internacionais, poderão aparecer atletas com mais frequência”.
“No essencial, as provas atingiram patamares muito aceitáveis
Tantas coisas boas no mundo das corridas
Enaltece vários aspetos positivos no mundo das corridas. “A festa, o convívio, o ambiente entre os participantes, a alegria da participação dos milhares de atletas e dos que atingem o seu objetivo, que é muitas vezes, simplesmente, completar os quilómetros da prova. Ver os grupos de amigos que se ajudam mutuamente e completam a prova. Ver as diferentes idades, homens, mulheres, com profissões díspares, as multiculturas presentes, participantes com origens de todos os cantos do mundo e todos em igualdade, que sem quaisquer preconceitos, participam e ajudam a essas grandes festas que se tornam as corridas populares”.
Melhorou o nível das organizações na estrada
Para José Ribeiro, o facto de as organizações das provas estarem cada vez mais entregues a empresas da especialidade, permitiu melhorar o nível. “Poderá haver uma ou outra com aspetos a corrigir mas no essencial, as provas atingiram patamares muito aceitáveis. Reparo que nalgumas com milhares de participantes, o espaço da partida não será o melhor, mas por conveniência de ser no centro da localidade, a alternativa será escassa”.
As críticas mais frequentes que vai ouvindo têm a ver com o preço das inscrições, particularmente das provas com mais participantes. Já nos trails, o nível não será tão elevado como na estrada: “Nos trails, existem inúmeros com organizações menos experientes, que exigem cuidados especiais. Algumas vezes têm falhas mais gritantes, mas cada prova tem as suas características próprias”.
Organizador do “Braga a Correr” todas as segundas-feiras
José Ribeiro é um cidadão bastante empenhado na vida social e desportiva de Braga, tendo já recebido a medalha da cidade. Também faz parte do grupo que organiza o “Braga a Correr”, desde Maio de 2015. Evento que se realiza todas as segundas-feiras, com encontro marcado às 21 h, no centro da cidade, faça calor, frio, trovoada ou chuva.
“Todos correm em grupo, quando existe alguém a deslocar, a malta da frente dá volta(s) a praças até recolocar todos no grupo.”
Para tornar as corridas mais agradáveis, todas as semanas existe um tema, com visitas a locais especiais, monumentos, instituições etc, onde se tira uma foto de grupo. “Temos rituais, para começar e acabar, damos uma volta à fonte, fazemos a onda em plena corrida. Cantamos, etc. Num raio de aproximadamente 3,5 km já passámos em todas as avenidas, ruas, praças, ruelas, escadas, caminhos da cidade. Nunca passamos passadeiras com sinais vermelhos e vamos preferencialmente por passeios. No fim, temos sempre alongamentos e por vezes, paramos a meio para fazer alguns exercícios”.
O grupo já atingiu o bonito número de 317 participantes e muitos deles, já participaram em maratonas.
Projetos futuros na modalidade
Sendo um homem de grande dinamismo, José Ribeiro tem desempenhado mil e uma funções no mundo das corridas. Para além de ter sido um dos fundadores da antiga Volta ao Minho com a duração de 10 dias, já foi treinador, juiz, dirigente, organizador de provas de estrada e trail, atleta e pertenceu ao CNEC (FPA). “Será difícil repetir isto tudo. Como atleta, quero continuar a ter o gosto de participar e tudo o que aparecer a mais, será bem-vindo. Vou continuar a dar apoio nalgumas provas, como a Geira Romana, atenção às Voltas Pedestres ao Minho que se realizam anualmente em Setembro por esse país fora”.
Partir atrasado numa prova
Estórias não faltam a Zé Ribeiro. Uma delas passou-se numa das muitas corridas “caseiras”. O seu objetivo era apenas participar na festa e nem sabia bem a hora da partida. “Vou no meu carro e quando chego ao local, vejo os meus amigos com umas dezenas de metros já percorridos. Claro que deixo o carro, quase no meio da rua, nem tranquei as portas, tiro o fato de treino e levanto o dorsal e toca a ir atrás dos demais atletas. Apesar da prova ser curta, apenas 6 km, ainda consegui passar os mais atrasados e não foi dessa vez que fiquei em último…”
Correr no campo com uns “croques”
Esta passou-se numa corrida de orientação, com muitos trilhos e caminhos pelos montes e campos. “Quando vou calçar as sapatilhas, elas tinham ficado em casa. Como não havia ninguém com sapatilhas para mim, tive que ir com o que tinha calçado, que era uns ‘croques’, que devido às minhas calcificações nos tendões, não podia colocar a alça atrás. Resultado, perdi a conta ao números de vezes que tive que voltar atrás para calçar as ditas que se perdiam pelo caminho. Resultado final, alguns picos dos ouriços como medalhas”.