O investigador canadiano Richard McLaren apresentou ontem dia 9, o seu segundo relatório independente sobre as acusações de doping institucionalizado por parte da Rússia. E as investigações prometem uma nova devastação no desporto russo.
De acordo com o segundo relatório, mais de mil atletas de 30 modalidades estavam envolvidos em casos de encobrimento de testes positivos entre 2011 e 2015. “A equipa olímpica russa corrompeu os Jogos de Londres numa escala sem precedentes”. O atletismo surge em primeiro lugar entre os casos com o maior número de atletas dopados mas no esquema, também estariam envolvidos futebolistas.
O professor de Direito da Universidade de Ontário divulgou que foi o governo russo quem patrocinou todo o esquema de dopagem dos atletas e com a total anuência de Vitaly Mutko, ex-ministro do Desporto e chefe do desporto olímpico que foi promovido pelo governo de Vladimir Putin ao posto de vice-primeiro russo.
“Mais de mil atletas russos competindo em desportos de verão, inverno e paralímpicos, podem ser identificados por terem envolvimento ou serem beneficiados das manipulações para ocultar testes positivos de doping. Uma conspiração institucional existia entre os atletas de desportos de verão e inverno com a participação de oficiais russos dentro do Ministério do Desporto e a sua infraestrutura – como RUSADA (Agência Antidoping do país, agora chefiada por Yelena Isinbayeva), CSP (Centro de Preparação Desportiva) e Laboratório de Moscovo – junto ao FSB (Serviço de Segurança Federal) com o objetivo de manipular controles de doping”, explica o professor.
De acordo o segundo relatório, o encobrimento e a manipulação do processo antidopagem foi “refinado” nos últimos anos e utilizado nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012, nas Universíadas de 2013, no Mundial de Atletismo em Moscovo no mesmo ano e nos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi em 2014.
A investigação independente aponta que a conspiração “se perpetuou entre 2011 e 2015” após os resultados indicados em testes forenses.
“Os atletas tinham amostras com quantidades de sal que eram fisiologicamente impossíveis. Amostras de jogadoras de hóquei continham DNA masculino”, conta. Até café foi utilizado para tentar manipular os resultados positivos.
Em Londres 2012, a Rússia conquistou 72 medalhas e em em Sochi 2014, 33. “O desejo de ganhar medalhas superou a moral coletiva, a ética e os valores do jogo limpo”, destacou McLaren. “É impossível saber há quanto tempo se dá esta conspiração e quantas pessoas estão envolvidas. Durante anos, as competições internacionais foram manipuladas pelos russos. Técnicos e desportistas competiram em condições desiguais. Os amantes do desporto têm direito a sentir-se dececionados”.
O primeiro relatório McLaren causou fortes sanções à Rússia, que não pôde competir no atletismo nos Jogos do Rio 2016.
Além da falsificação de amostras de urina, o relatório denuncia a existência de e-mails enviados pelo Ministério do Desporto russo a pedir instruções caso os testes de controlo de doping implicassem algum atleta russo e a existência de listas contendo o nome dos atletas cujas amostras foram guardadas. É ainda denunciada a existência de um banco de urina “limpa” em Moscovo.
Em reação à publicação do relatório, Sebastian Coe, presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), garantiu que a federação a que preside vai continuar a fazer “um trabalho de análise rigoroso para apurar a verdade”, tendo sempre em vista “a justiça”. Em comunicado citado pelo jornal britânico “The Guardian”, o Comité Paralímpico Internacional (IPC) disse que os resultados do relatório são “assombrosos” e que afetam diretamente “a integridade e a ética do desporto”. “Estamos plenamente de acordo com o professor McLaren quanto à possibilidade de trabalharmos juntos para criar um novo sistema antidoping na Rússia”, uma vez que o antigo “foi corrompido e comprometido”.