Numa caminhada em ritmo lento, cada pé aguenta uma massa equivalente ao seu peso multiplicado por 1,19. A cada passo, uma pessoa de 80 kg suporta 95,2 kg. Na corrida, com movimentos mais intensos, o impacto sobre as articulações aumenta entre duas a três vezes. Assim, o corpo passa a suportar uma carga que vai de 160 a 240 kg. Em média, um corredor toca o solo com os seus pés entre 160 e 180 vezes por minuto.
Responsáveis por diminuir esse grande impacto entre o solo e o corpo, os ténis, apesar de todos os avanços tecnológicos, nem sempre são os salvadores da pátria. Modernidade no design, leveza e sistemas de amortecimento amplamente divulgados em campanhas publicitárias das fabricantes de ténis, não garantem que os sapatos não vão prejudicar o desempenho ou até mesmo a saúde do corredor.
Escolher uns sapatos de corrida inadequados representa um perigo para os corredores que, muitas vezes, associam a leveza do sapato à possibilidade de melhorar os tempos nas provas. Forma de pensar que pode significar um tiro no pé.
Nalgumas situações, uma parte dos sapatos de corrida, principalmente os de performance, com entressola mais baixa, interferem negativamente na performance do atleta, mais por culpa da pessoa do que do próprio sapato. Alguns corredores acabam por optar pela compra do sapato de competição quando sentem a leveza do mesmo, acreditando que um sapato extremamente leve terá influência muito positiva na sua performance, o que não corresponde à verdade.
Nalguns casos, o atleta não tem a estrutura corporal adequada para utilizar os sapatos de performance – se estiver acima do peso, por exemplo -, além de não fazer a adaptação adequada para conhecer e entender a resposta desse tipo de modelo, colocando-o direto numa prova. Isso pode gerar não só desconforto durante a competição, mas também alguma lesão.
No “uso indiscriminado” dos sapatos com entressola mais baixa e, portanto, mais leves, há estudos que comprovam que os sapatos minimalistas (aqueles que simulam a sensação de estar a correr com os pés descalços), quando utilizados corretamente, ajudam a amenizar o impacto sobre o corpo e auxiliam na ativação muscular.
Utilizá-los, no entanto, não depende apenas da vontade do corredor. É preciso fazer uma transição antes de partir para esse tipo de sapato. Numa situação testada, os atletas mantiveram nos dois primeiros meses, os seus treinos habituais com sapatos de entressolas mais altas. A partir do terceiro mês, passaram a treinar três vezes por semana com sapatos minimalistas intermediários, mais baixos que os primeiros, porém sem todas as características dos minimalistas puros. Entre o quinto e o sexto mês, o grupo, já com os minimalistas puros, com solas de 2 ou 3 cm no máximo, apresentou uma maior eficiência na absorção de impacto. A progressão cautelosa fez com que o corpo fosse menos castigado pela corrida.
Os efeitos para o corpo
Para suavizar vícios posturais, o ideal seria que o pé do corredor passasse por um processo semelhante ao que as grandes estrelas do desporto são submetidas pelas fabricantes de material desportivo: a criação de um sapato moldado especialmente para o corpo de uma pessoa. Inviável para os padrões atuais, o sistema vem sendo trabalhado numa parceria entre a Adidas e a Carbon. Um scanner fará a leitura do pé, além de outras medições, trazendo uma entressola e um cabedal personalizados para o comprador.
Enquanto a novidade não chega para, talvez, revolucionar o universo da corrida, alguns problemas ainda fazem parte da vida dos corredores. Um dos contratempos mais comuns é a fascite plantar, geralmente provocada por sapatos duros, que castigam a planta do pé. Desgastes no quadril, lesões no joelho e ruturas no tendão de Aquiles, também são recorrentes.
O uso de equipamento é tão importante como a escolha do tipo de atividade que deve ser feita pela pessoa. A forma como a pessoa corre e os vícios posturais, devem interferir na escolha do sapato que se adapta melhor ao corredor.
Mas nem todos os problemas são ortopédicos. A pele também pode sofrer com um sapato inadequado. A pele tem diferentes características, dependendo do local do corpo e da sua função. A pele da planta dos pés possui uma camada de queratina muito mais grossa que a do rosto, já que está submetida constantemente a cargas e atritos. Essa espessura varia de acordo com o peso de cada um, assim como com o tipo de atividade exercida pelo indivíduo. O sofrimento da pele será pior dependendo do impacto e do tempo de uma prova.
Calos, rachaduras, bolhas e o escurecimento de unhas, são possíveis complicações do sistema tegumentar após uma prova. O espessamento da pele do pé já tem como intuito a proteção contra as agressões sofridas. Áreas de maior pressão, podem produzir um aumento excessivo da camada de queratina, formando calos e gerando dor durante a corrida.
É recomendável escolher sapatos mais folgados para provas e treinos mais intensos, já que os pés incham durante a corrida. Sapatos apertados ou costuras inadequadas, podem levar ao surgimento de bolhas. O escurecimento da unha – ou até mesmo a sua queda – pode ocorrer devido a hematomas diante de atrito intenso.
Dicas para escolher o sapato adequado
1– Procure lojas em que os vendedores tenham realmente conhecimento sobre o mundo da corrida. Há profissionais que têm contato com fabricantes e maior acesso às tecnologias desenvolvida pelas marcas. Se estiver com dúvidas técnicas e sentir que o vendedor quer apenas atingir a sua cota de vendas, procure informações e o seu novo par de sapatos noutro local.
2– Realize um teste de pisada, que lhe possibilite conhecer as dimensões reais do pé numa análise estática. Além de receber um “raio-x” com as características dos seus pés, o corredor corre numa passadeira e as suas passadas são analisadas por especialistas. Um equipamento de alta definição capta imagens em câmara lenta, trazendo com riqueza de detalhes o estilo do corredor. Ao fim do processo, os profissionais do teste de pisada indicam um modelo que otimize o rendimento do corredor.
3– Os sapatos mais caros podem ser mais badalados e talvez até impressionem mais os seus companheiros de corrida, mas nem sempre são os mais propícios para o corredor. Leve em consideração pares que estão mais em conta e talvez tenham características semelhantes.