João Balças Silva é mais um excelente exemplo de que querer é poder. Em 2016, pesava 118 quilos quando decidiu começar a correr. Estreou-se numa prova de 10 km em Março de 2017 e em Novembro, já corria a maratona do Porto. Pesa agora 74 quilos!
João Balças Silva tem 30 anos e é natural da Figueira da Foz. Atleta federado pela ARCD Venda da Luísa, começou a treinar em 19 de Novembro de 2016. O atletismo surgiu na sua vida como forma de adotar um estilo de vida saudável, deixar o sedentarismo e baixar significativamente o seu peso que era de 118 quilos! “Sou um maratonista amador, convertido ‘à força’, porque brinquei demasiado tempo à obesidade até que bati finalmente no fundo. Há dois anos e meio que deixei de sentir pena de mim e lancei os ‘pés à estrada’ para me tornar maratonista”.
Estreias para recordar
A sua primeira prova oficial foi em Março de 2017, na Corrida 4 Estações na Figueira da Foz, na distância de 10 km. “Foi maravilhoso. Tinha sido desafiado pelos meus cunhados para participar, estava renitente no início, mas cedo percebi que tinha ficado ‘agarrado’ e que queria continuar a fazer provas e treinos de estrada. Estava muito vento, foi complicado, mas foi muito bom”.
A sua primeira meia maratona foi na Figueira da Foz, em 10 de Junho, num dia de temporal. “Já tinha feito os 21 km em treino (não poderia ser de outra forma), mas desconhecia ainda o que me esperava naquela distância em modo de prova. A componente climatérica foi um péssimo aliado, mas tudo o resto compensou na perfeição. Fiz uma gestão ao nível das melhores que poderia esperar para mim e cheguei ao fim abaixo das 1h45, fiz 1h38. Foi mágico, ainda para mais, sempre ‘debaixo’ do olhar da minha esposa. Mais especial era impossível”.
“Já sabia que adorava correr grandes distâncias mas tomei consciência de que a maratona é uma paixão”
Maratona, distância preferida
Como trabalha por conta própria – é tradutor de alemão, francês e inglês, não lhe tem sido difícil conciliar o trabalho com os treinos. Atualmente, treina seis dias por semana, habitualmente só e de manhã. Não esquece o reforço muscular, também seis vezes por semana.
João Silva é mais um dos muitos atletas que não tem treinador mas ainda assim, criou o seu plano de treinos, adaptado às suas necessidades: fartleks, treinos de séries (intervalados), rampas, etc. Correr é com ele, só no ano passado, calçou 312 vezes os sapatos de corrida para treinar ou participar em provas.
A sua distância preferida passa pela maratona. “Já sabia que adorava correr grandes distâncias, mas tomei consciência de que a maratona é uma paixão”. Já os 5 ou 10 km são as distâncias menos apreciadas.
Primeira maratona inesquecível
A maratona do Porto em 2018 foi a eleita pelo nosso entrevistado para se estrear na mítica distância dos 42.195 metros. Define a experiência como mágica. “Em treinos, já tinha feito a distância uma vez para me preparar, pelo que já sabia ao que ia. O dia estava muito chuvoso, mas o Porto ganhou uma beleza ainda maior. Aquele apoio, a comunhão que tive com a multidão e com o meu corpo, tornaram aquele momento inesquecível. Foi uma corrida perfeita para mim: pelo que vivi mas também por ter acabado com 3h33m35s”.
“Correr em trail é apaixonante mas correr em estrada, é como uma relação de amor”
Diferenças entre a estrada e o trail
João Silva é um homem da estrada mas já experimentou o trail. Para si, “correr em trail é apaixonante, mas correr em estrada é como uma relação de amor”. As diferenças que encontra nos dois tipos de prova são várias, conforme explica: “na estrada, o impacto é constante, em serra não e aqui, a parte técnica é mais exigida. Ainda assim, em estrada também é preciso ter muito cuidado, por exemplo, com a passada para que não seja muito larga, pois tal, provoca lesões. A postura é mais rígida em estrada. Faço muitas subidas, mas por estrada, pelo que não noto diferenças extraordinárias em relação aos trails (salvaguardando os trilhos técnicos)”.
“A minha sinusite passou. Fiquei mais calmo, consegui controlar mais o meu estado de stress e passei a dormir muito melhor”
Como a corrida lhe deu mais qualidade de vida
Não hesita em apontar as grandes diferenças na sua qualidade de vida desde que começou a correr. “Sinto-me muito mais leve (foi por isso que passei a correr), mas, por exemplo, a minha sinusite passou. Fiquei mais calmo, consegui controlar mais o meu estado de stress e passei a dormir muito melhor. Portanto, melhorou claramente a minha vida”.
Não esquece os exames médicos de rotina e tem conseguido fugir às lesões. Sendo um apaixonado recente das corridas, pensa correr “até muito pouco tempo antes de falecer. É algo que me faz muito feliz”.
“Estamos todos a competir, mas a maior competição é connosco e com os nossos limites e isso é algo que não se vê noutros desportos”
Muito cuidado com a alimentação
Para quem já pesou 118 kg, há que ter os devidos cuidados com a alimentação. “Obrigo-me a estar informado sobre o tipo de nutrientes que me fazem bem e que ajudam à minha recuperação e melhoram o meu desempenho. Contudo, falo de nutrientes na forma de alimentos e não na forma de suplementos ou pós. Consumo imensos legumes, muita fruta também, bebo entre 2 a 3 l de água por dia e descanso bem”.
Mas os seus cuidados não se ficam por aqui. “Cada vez ingiro menos açúcar (comecei por o eliminar no café), adoço as minhas sobremesas com fruta, como banana ou tâmaras e passei a incluir com muito mais frequência, a aveia, o abacate, a toranja, os espinafres, as romãs, a chia, a linhaça entre outros”.
Companheirismo, o melhor das corridas
No mundo das corridas, João Silva aprecia particularmente o companheirismo que se pode criar. “Estamos todos a competir, mas a maior competição é connosco e com os nossos limites e isso é algo que não se vê noutros desportos”.
Se não estivesse no atletismo, talvez escolhesse o ciclismo que nas suas preferências, ultrapassou o futebol, praticado na adolescência.
Mais apoios para a alta competição, precisam-se!
Para João Silva, o país sempre teve bons atletas que têm conseguido excelentes resultados com apoios mínimos.” Há cerca de um ano, vi uma reportagem na televisão onde atletas olímpicos admitiam receber um subsídio de 250 euros/mês. Por conseguinte, antes de mais, é importante aumentar os apoios financeiros aos atletas”.
Mas na sua opinião, é preciso mais, como a promoção da modalidade, “não a pensar apenas em vencedores mas em catalisadores sociais. O futebol começa a perder o encanto por causa das guerrilhas, pelo que o atletismo é uma boa forma de promover a competição saudável (desde logo, consigo próprio) e o lado social”. E finaliza: “para que isso aconteça, os clubes têm de oferecer condições de treino e, nesse âmbito, considero muito importante haver apoios também para eles”.
“Quero fazer o máximo possível de maratonas enquanto o meu corpo deixar”
Saber ouvir os participantes
Na sua opinião, as Organizações das provas deviam ouvir mais os verdadeiros intervenientes, os corredores e os caminheiros. Seria bom ainda que se divulgassem estórias marcantes, “porque a corrida tem isso de especial, ajuda literalmente a salvar vidas”.
Projetos futuros passam por mais maratonas
Como apaixonado que é pelas maratonas, os projetos futuros de João Silva passam por elas. Já em 2020, pretende correr três maratonas e com um curto espaço de tempo entre elas. Depois, correr uma maratona internacional, talvez na Alemanha ou Espanha. E “fazer o máximo possível de maratonas enquanto o meu corpo deixar”.
Do Trail do Sicó à Maratona de Aveiro
Quanto a estórias, João Silva conta-nos três. A primeira passou-se no Trail do Sicó, em Fevereiro do ano passado. “Foram dias anteriores mal preparados a nível alimentar e tive necessidade de recorrer a um local histórico para deixar de estar aflito”.
A segunda foi na Maratona do Porto, também no ano passado.“Chovia imenso, tinha acabado a prova, estava cheio de dores e a minha esposa teve de me cobrir com um plástico da organização para que pudesse trocar de roupa antes de entrar no carro. Escusado será dizer que fiquei nu em pleno Porto”.
Finalmente, na recente Maratona de Aveiro. “Por volta dos 30 km, ‘juntei-me’ a dois atletas e trocámos estórias de vida durante apoximadamente 6 km, tendo-nos ajudado mutuamente a passar por uma altura complicada da prova. Um belo trio: um de Gaia, outro de Bragança e eu, da Figueira”.
História de vida em blogue pessoal
A terminar, João Silva criou o seu blogue, de forma a divulgar a sua história pessoal e poder ajudar quem se encontrar numa situação de obesidade. Quem quiser, pode ir a https://exgordoatualmaratonista.blogs.sapo.pt . “Trata-se de um espaço onde falo sobre os problemas por que passei com a comida até chegar aos 118 kg, onde escrevo sobre os meus acessórios de corredor, onde reflito sobre as provas, os treinos, as organizações e sobre truques e dicas de alimentação que usei e uso para não voltar à obesidade. O mesmo se aplica ao meu Instagram: joao.cb.silva”.