Um estudo elaborado pela Universidade de Tel Aviv (Israel) colocou a hipótese de o exercício físico melhorar o humor no local de trabalho e, ao mesmo tempo, diminuir a probabilidade de desenvolvermos sintomas depressivos e até mesmo o Síndrome de Burnout (perturbação de desgaste profissional – exaustão física, mental e emocional). Os sujeitos deste estudo foram avaliados durante nove anos. O estudo foi feito com cerca de 1632 trabalhadores israelitas (sector público e privado) sem qualquer indício de problema de saúde. Estes trabalhadores foram divididos em 4 grupos: 1. Grupo de pessoas que não praticavam qualquer exercício físico, 2. Trabalhadores que praticavam entre 75 a 150 minutos de exercício por semana, 3. Trabalhadores que praticavam entre 150 a 240 minutos de exercício semanais. 4. Trabalhadores que praticavam mais de 240 minutos de exercício por semana.
Os resultados apontam para taxas de depressão e de Síndrome de Burnout claramente superiores no grupo sedentário (grupo 1.). O grupo 2 apresentou, comparativamente ao grupo 1, melhorias na auto-estima e na capacidade de trabalho. No grupo 3, já foram encontrados muitos poucos sintomas mas o grupo 4 foi o único que não apresentou praticamente nenhum dos sintomas procurados.
Uma das conclusões retiradas deste estudo foi a necessidade de praticar exercício físico, pelo menos 150 minutos por semana para conseguir melhorar a auto-estima e aumentar a produtividade no trabalho. Quanto mais ativo for o indivíduo, menor a probabilidade de desenvolver algum destes problemas.
Os benefícios físicos da prática de desporto contínuo vão muito além do objetivo de manter o corpo em forma. O melhoramento da imagem corporal, vai desenvolver melhorias do auto-conceito e da auto-estima que se repercurtirá no desenvolvimento da auto-eficácia, diminuição do stresse e ansiedade, diminuição também da tensão muscular e insónia, que por sua vez, nos leva a consumir menos medicamentos, melhorando assim o bem-estar geral e também as funções cognitivas e de socialização.
Neste contexto da prática de exercício físico associada ao trabalho, é muito importante também a prática de Ginástica Laboral nesse mesmo ambiente (também chamada de Stretching).
A base do Stretching é alongar e fortalecer os músculos do corpo de forma preventiva, preparando-os para uma sobrecarga de exercício osteomuscular e pode também ser praticado na fase de recuperação, repondo os sistemas musculares no sítio após esforço/exercício físico. Um dos grandes objetivos do Stretching é promover momentos de interação e descontração entre os profissionais.
Existe sempre associado a esta prática diária, um objetivo de promoção de espírito de equipa entre todos os colaboradores. A Ginástica Laboral é uma ferramenta para prevenir doenças ocupacionais, atuando de forma preventiva e terapêutica. A sua importância relaciona-se com a diminuição das lesões por atividades repetitivas, onde estes exercícios vão contribuir para o fluxo normal de sangue, diminuindo a acumulação de ácido lático nos músculos, promovendo uma elasticidade normal e uma lubrificação dos tendões de forma a evitar o atrito interestrutural.
O exercício físico referido no estudo anterior não se limita apenas a estes exercícios de Stretching e/ou de Ginástica Laboral. O exercício físico que vai melhorar o seu humor no local de trabalho vai para além disso. Este exercício relaciona-se com uma prática regular e contínua de uma atividade desportiva que promova um gasto energético e uma movimentação da musculatura. Regra geral, a média de prática desportiva considerada para estas investigações relaciona-se com três treinos semanais de, aproximadamente, uma hora cada.
Mas porque é que a atividade física melhora o humor no local de trabalho?
São várias as hipóteses apresentadas para explicar estes dois mecanismos, e uma dessas hipóteses (a que a nível científico tem mais fundamento) relaciona-se com a endorfina.
A nível nervoso, a prática de atividade física liberta endorfinas (neurotransmissor usado pelos neurónios na comunicação do sistema nervoso, também conhecidas como hormonas do prazer) que são as substâncias que nos vão fazer sentir prazer na prática do exercício físico, e com isso, diminuir a probabilidade de tensão, raiva, fadiga, confusão mental… que irão ter sempre repercurssões nas tarefas diárias, quer seja no trabalho, quer seja a nível pessoal.
Existem muitos estudos experimentais que mostram um efeito positivo no humor aquando da prática moderada de exercício físico. Muitos estudos longitudinais revelam efeitos benéficos do exercício regular e contínuo em tratamentos clínicos de sintomas depressivos.
Já foram feitos estudos sobre humor com atletas de corrida de longa distância (sujeitos que são denominados por “runner’s high”). Nesses atletas, após treinos/provas de exercício prolongados, foi-lhes detetado um aumento dos índices de humor, tendo estes resultados sido atribuídos à libertação de betaendorfina.
A betaendorfina é um neurotransmissor endógeno e o seu efeito principal, quando libertado na corrente sanguínea (durante a prática de atividade física, como consequência imediata após traumas físicos…), é a diminuição da sensação dolorosa e facilitação de sensações de relaxamento e bem-estar. Após 30 minutos de exercício físico, o organismo liberta betaendorfina que vai adequar o corpo ao esforço a que está a ser submetido, causando uma sensação de bem-estar e elevando a frequência cardíaca da zona de treino aeróbio.
Tratando-se todo este processo de um ciclo, a empresa em que o indivíduo está inserido também tem uma parte ativa em todos estes desenvolvimentos. As empresas dependem dos seus funcionários, e da performance destes, para obterem sucesso. Mas este sucesso só vai existir se as pessoas que estão envolvidas se sintam motivadas a atuar de forma diferenciada. Para manter uma equipa motivada, a empresa tem que oferecer diariamente motivos para estimular, quer a permanência dos sujeitos na empresa, quer o rendimento dos seus funcionários (e na maior parte das vezes, este estímulo vai muito além dos benefícios salariais).
O exercício físico, como todos tão bem sabemos, é o maior produtor de saúde, mas normalmente é um dos primeiros aspetos a ser abandonado quando há inserção no mercado de trabalho. ”Porque se trabalham muitas horas e não tenho muito tempo disponível”, “Porque o local onde há aquele desporto que eu tanto gosto, fica muito longe e vou perder demasiado tempo”, “Porque fica dispendioso procurar um bom sítio”… justificações que todos conhecemos. Cabe também às empresas incentivar a prática de exercícios físicos, como sendo uma “necessidade” perante o mercado competitivo. Ao haver menos sedentarismo por parte dos colaboradores, vão existir certamente menos situações de baixas médicas, havendo uma melhoria no desempenho dos mesmos, aumentando o rendimento dos trabalhadores (não apenas a nível físico, mas também emocional) acabando por criar um ambiente de trabalho mais humano e valorizado.
Atualmente, já existem programas de promoção de atividades físicas em diversas empresas, cujo objetivo é apresentar informação sobre a atividade física no contexto da saúde, os hábitos de uma vida mais saudável… A função destes programas é criar uma maior consciencialização sobre o trabalho, o sujeito e a sociedade. Como um todo e não como partes diferenciadas.