Ainda não estão marcadas as eleições na Federação Portuguesa de Atletismo, as quais deverão ser realizadas perto do final do ano. Mas já há candidatos anunciados (António Nobre e Luís Jesus) e tudo leva a crer que Jorge Vieira se venha a recandidatar.
Embora esta questão não tenha diretamente a ver com as eleições, estas não poderão deixar de ser recordadas na diferença de opiniões resultante da questão dos duodécimos a atribuir pela Federação às Associações e que motivaram uma carta de Luís Jesus, enquanto presidente da Associação de Lisboa, a Jorge Vieira, presidente federativo, com cópia para as Associações Regionais.
Na base do diferendo, o facto de a Federação ter remetido para as Associações a elaboração de um documento que determinará a distribuição das verbas federativas pelas Associações. Luís Jesus questiona Jorge Vieira em vários pontos:
– “Passar para as Associações a total responsabilidade de um documento que compromete todo o atletismo nacional é dar-nos a oportunidade de perguntar então para que serve a eleição do Presidente da FPA”, refere Luís Jesus no início da carta, acrescentando: “Ele foi eleito para tomar decisões de gestão no apoio à qualidade dos nossos atletas”.
– Luís Jesus contesta depois a tabela apresentada pela comissão encarregada de estudar o assunto e que reunirá o apoio da maioria das Associações. E recorda que Jorge Vieira, em 2017, em entrevista ao “Diário de Notícias”, salientou, a propósito do milhão de runners que existiria em Portugal, que “a relação entre a base e o topo da pirâmide funciona numa direção: de cima para baixo. São os bons resultados dos nossos atletas que têm contribuído para o aumento da quantidade. De baixo para cima, a relação não existe.” O presidente da Associação de Lisboa afirma compreender o ponto de vista dos colegas das outras associações regionais que apoiam essa tabela de distribuição de duodécimos, baseada essencialmente na quantidade de atletas filiados, mas salienta que nela “não está suficientemente espelhada a defesa da referida qualidade por si sempre defendida.” E dá um exemplo: “Organizar um evento com 200 atletas, onde os mesmos não fazem marcas de nível nacional e que a este evento seja atribuído o mesmo valor que numa outra prova com os mesmos 200 atletas, onde se obtêm 15 ou 20 mínimos nacionais e um mínimo internacional, não é nem pode ser aceitável. Atletas de qualidade exigem e necessitam de muita qualidade organizativa, alocar muitos meios e recursos.” E acrescenta: “Temos dificuldade em entender que dois eventos com resultados desnivelados na sua qualidade tenham o mesmo apoio só porque têm o mesmo nº de participantes.” E cita o exemplo do Meeting da Guarda, o mais pontuado em 2019. “Foi pelo nº de participantes? Claro que não, foi sim pela qualidade dos seus resultados.” Luís Jesus fala ainda no (não) apoio às Associações que têm clubes de primeira linha.
– O presidente da AAL contesta depois o facto de a Federação sugerir a possibilidade de acréscimo dos valores a atribuir às Associações Regionais (de 800 para 850 mil euros), desde que estas aceitem o aumento das taxas de filiação, o que elevaria os encargos de clubes e atletas. Escreve: “Mais uma vez a FPA passa para as AR (associações regionais) a responsabilidade do seu financiamento sem que a FPA sofra qualquer belisque no seu orçamento. Quem vai mais uma vez dar a cara aos clubes e atletas são as AR que voluntariamente trabalham para que esta direção da FPA continue o seu percurso passando entre os intervalos da chuva.” E acrescenta que a Federação, nos últimos cinco anos, tem recebido cada vez mais verba do IPDJ (Instituto Português do Desporto e da Juventude), por ter mais atletas filiados (“as AR são as responsáveis deste êxito”, salienta), sem que isso se reflita nas verbas que lhes são distribuídas.
– Na parte final da sua longa carta, Luís Jesus sugere que os praticantes não federados que se inscrevam em provas de trail passem a pagar uma taxa à Federação. Considerando as mais de 500 provas anuais com uma média superior a 500 participantes, uma taxa de apenas 25 cêntimos por atleta daria um total de 62.500 euros no final do ano.
– Finalmente, mais duas propostas: que os eventos de cada AR sejam também avaliados pela qualidade de resultados e não só pelo nº de participantes; que sejam valorizadas as AR pelo nº de atletas que integrem as seleções nacionais. E Luís Jesus, enquanto presidente da AAL, salienta mais uma vez: “Entendemos a posição das AR que defendem os seus pontos de vista, mas não podemos exigir à FPA medidas que beneficiem praticamente a quantidade e abdiquem da qualidade.”