Jamaicano emocionou-se na despedida diante dos fãs em Londres: “Vou ser livre agora”
A organização do Mundial de Londres já havia anunciado uma homenagem a Usain Bolt para o último dia de competições. Depois da dramática lesão do jamaicano na estafeta 4×100, a distinção tornou-se providencial. Se no sábado, Bolt deixou a pista apoiado nos seus companheiros, de cabeça baixa pela deceção, neste domingo o homem mais rápido de todos os tempos surgiu sozinho, calado, mas muito emocionado. Foi ovacionado, recebendo todo o carinho dos fãs que encheram mais uma vez o Estádio Olímpico. Ainda levará para casa, de presente um pedaço da pista com o número 7, pista em que correu os 100 m e os 200 m neste mesmo local nos Jogos Olímpicos de 2012.
Na sua última entrevista coletiva, ele lamentou a derrota, mas disse sair de cabeça erguida: “Eu não acho que um Campeonato vai mudar o que eu fiz. Eu lembro que depois de perder os 100 m alguém me disse: não se preocupe, Muhammad Ali perdeu a sua última luta”.
Bolt disse que não voltará atrás na decisão de se retirar Ele comentou que a derrota, mesmo que por um lado não desejado, servirá como um dos seus legados.
– “Eu provei que com trabalho duro, tudo é possível. Só penso em trabalhar, não penso em limites. Estava sentado dando a entrevista e foi irónico. “Meu lema é ‘tudo é possível’. Ninguém sabe o que vai acontecer num Campeonato. Mesmo estando desta vez do lado errado dessa frase, é uma boa mensagem para deixar a todos. Vi muitas pessoas se retirarem e voltarem para se envergonharem, voltarem piores. Eu não quero ser esta pessoa” – comentou.
Antes da entrevista, Bolt caminhou lentamente pelo estádio, sob aplausos. A volta olímpica não foi tradicional. Foi feita em baixa velocidade, apreciando cada segundo, os mesmos segundos e milésimos que o transformaram numa lenda. Bolt andou, sem coxear, mas apreciando a onda de carinho de uma bancada repleta de fãs. Eram mais de 55 mil pessoas aplaudindo-o pelas conquistas e recordes no atletismo obtidos durante uma década. Ele acenou bastante, fez carinho na cabeça de um menino que driblou a segurança, ajoelhou-se. Quase não sorriu. Parecia realmente tocado pela atmosfera. O abraço nos pais foi um dos raros momentos de sorriso no rosto.
– “Os últimos dias no estádio com essas pessoas incríveis… Foi emocionante. Sempre dei o meu melhor. Sempre que piso uma pista, tento dar 100%. Quero entreter e apresentar uma grande performance para os meus fãs. Obrigada por mostrarem tanto amor. Realmente, agradeço”.
Bolt era a maior atração do Mundial de Londres, mas em termos de resultados frustrou tanto os fãs quanto a si mesmo. Nos 100 m, foi superado por Christian Coleman nas meias-finais e ficou em terceiro na final, atrás do próprio Coleman e de Justin Gatlin.
Na estafeta, Bolt abriu uma exceção e disputou pela primeira vez na sua carreira a eliminatória da prova num grande evento. Na final à noite, coube-lhe encerrar o 4x100m. Entrou na reta em terceiro, mas ao arrancar sentiu dores na coxa. Eram cãibras. Não conseguiu continuar e acabou caído no chão. Os jamaicanos foram desclassificados, e Bolt abandonou o Mundial com apenas uma medalha de bronze. Soube a causa das cãibras, concordou com os seus colegas da equipa e adversários. Acredita que a longa espera antes de entrar na pista, sentindo frio, contribuiu para que se lesionasse.
– “O meu técnico ligou-me e falou para ter a certeza de eu ficar quente. Quando fomos para a sala, nós aquecemos mas precisámos de ficar um tempo atrás da entrada. Aguardámos duas cerimónias no pódio de 10 a 15 minutos. Estava vento. Se soubéssemos que íamos ficar ali… Eles (organização) decidiram fazer a cerimónia das medalhas. O que posso eu fazer? Temos que seguir as regras”.
Em todos os Mundiais em que participou, Bolt tem uma história extensa e vitoriosa. Ele subiu ao pódio 14 vezes, ocupando o lugar mais alto 11 vezes.
E agora, quer deixar o atletismo um pouco de lado. “Eu vivo isto desde os 10 anos. Então a primeira coisa que vou fazer é divertir-me, sair, ir a uma festa, beber. Vou ficar um tempo com a minha família. São as coisas que estão na minha lista agora”.