Marchadores e Nelson Évora salvam as aparências
O bom desempenho dos marchadores – com nota muito especial para o histórico triunfo de Inês Henriques – e a medalha (mais uma!) de Nelson Évora tornaram pelo menos regular a presença portuguesa no Mundial de Londres, embora aquém daquilo que era hábito até há poucos anos.
Embora polémica, a estreia dos 50 km marcha femininos em Mundiais redundou num êxito nacional que fica para a história, pois Inês Henriques não só ganhou (e com mais de três minutos de vantagem) como bateu o seu recorde mundial com uma marca de que só daqui a algum tempo saberemos o verdadeiro valor, embora seja de presumir que a própria Inês a possa melhorar em próximas oportunidades. Mas a marcha nacional esteve em particular evidência, já que à vitória de Inês Henriques há a juntar o honroso 6º lugar de Ana Cabecinha com a melhor marca do ano nos 20 km marcha e confirmando uma grande regularidade a alto nível: nos últimos 10 anos, ficou sempre no top’8 nas oito presenças que teve em Jogos Olímpicos, Mundiais e Europeus (falta-lhe uma medalha!). E, com não menor destaque, o 11º lugar do veterano (41 anos!) João Vieira nos 50 km marcha, com um tempo que ficou a segundos do seu recorde nacional. Aos marchadores, há que juntar o “inevitável” Nelson Évora, que soma medalhas em grandes competições – já são oito em Jogos Olímpicos (ouro), Mundiais (quatro, das quais uma de ouro) e ainda, em pista coberta, Mundiais (uma) e Europeus (duas de ouro) -, embora desta vez a marca (que neste caso até foi de importância secundária) tenha ficado aquém das expetativas (apenas na primeira edição do Mundial, em 1983, o pódio foi atingido com menos de 17,19).
Portugal conseguiu, para além de duas medalhas (a última vez fora em Helsínquia’2005), mais um lugar de finalista (três ao todo). Ao longo das 16 edições do Mundial, apenas em quatro ocasiões teve menos de três finalistas… duas das quais em 2013 e 2015 (apenas dois). Considerando as posições de semifinalista (16 primeiros), houve desta vez sete, o sexto melhor somatório de sempre, mas em igualdade com quatro outros Mundiais. Considerando a pontuação com base nos oito primeiros, esta (17 pontos) foi a sexta de sempre, mas há a considerar os oito pontos de Inês Henriques numa prova que antes não existia. Portugal classificou-se em 26º lugar, a nona melhor classificação de sempre. Considerando os 16 primeiros, Portugal somou 65 pontos. Se não houvesse 50 km marcha, Inês Henriques iria aos 20 km e, com base nas classificações dos últimos anos (entre os 7º e 11º lugares), haveria a descontar cerca de oito pontos. Os 57 pontos seriam igualmente a nona pontuação de sempre (em 16 edições). À primeira vista um saldo negativo, para mais se comparado com os 127 pontos de 2009 e os 108 de 2011. Positivo, se compararmos com os escassos 34 e 38 pontos dos dois últimos Mundiais. Portugal teve um meio-fundo muito forte no final do século passado. As especialidades ditas técnicas apareceram depois em bom plano, mas nos últimos anos a quebra havia sido notória. Desta feita, os marchadores, que somaram 33 dos 65 pontos, tornaram pelo menos suficiente a presença nacional, que teve, no entanto, demasiadas presenças (13 em 21) na segunda metade das classificações. Patrícia Mamona (14,29) e Susana Costa (14,35 – recorde pessoal) não repetiram na final do triplo as marcas da qualificação e acabaram fora do top’8 e David Lima, mal nos 100 m, fez melhor nos 200 m e, com um 13º lugar, completou o lote dos semifinalistas nacionais, no qual se esperava a presença de Tsanko Arnaudov, que ficou à beira (17º), graças a uns 20,08 bem distantes do que vinha fazendo.
OS PORTUGUESES NO MUNDIAL
PROVA | ATLETA | ELIM./QUAL. | 1/2 FINAL | FINAL | CL. | CONC. |
100 m | David Lima | 7º – 10,41 | 37º | 60 | ||
200 m | David Lima | 5º – 20,54 | 4º-20,56v | 13º | 48 | |
Vara | Diogo Ferreira | n/classif. | n/cl. | 29 | ||
Triplo | Nelson Évora | 6º – 16,94 | 3º – 17,19 | 3º | 30 | |
Peso | Tsanko Arnaudov | 17º – 20,08 | 17º | 32 | ||
Francisco Belo | 29º – 19,47 | 29º | 32 | |||
50 km M | João Vieira | 11º-3.45.28 | 11º | 48 | ||
Pedro Isidro | 32º-4.02.30 | 32º | 48 | |||
Maratona | Ricardo Ribas | desistiu | des. | 101 | ||
200 m | Lorène Bazolo | 6ª – 23,85 | 39ª | 46 | ||
400 m | Cátia Azevedo | 7ª – 52,79 | 39ª | 49 | ||
1500 m | Marta Pen | 8ª – 4.10,22 | 32ª | 44 | ||
10000 m | Salomé Rocha | 28ª-32.52,71 | 28ª | 33 | ||
Triplo | Patrícia Mamona | 4ª – 14,29 | 9ª – 14,12 | 9ª | 26 | |
Susana Costa | 3ª – 14,35 | 11ª – 13,99 | 11ª | 26 | ||
Disco | Irina Rodrigues | 21ª – 56,98 | 21ª | 30 | ||
Heptatlo | Lecabela Quaresma | 22ª – 5788 | 22ª | 31 | ||
(13,94-1,71-13,48-25,38+5,88-36,71-2.14,06) | ||||||
20 km M | Ana Cabecinha | 6ª – 1.28.57 | 6ª | 60 | ||
50 km M | Inês Henriques | 1ª – 4.05.56 | 1ª | 7 | ||
Maratona | Filomena Costa | 28ª-2.36.42 | 28ª | 91 | ||
Catarina Ribeiro | desistiu | des. | 91 |
PORTUGAL NO CAMPEONATO DO MUNDO
Ano | Local | Atletas | M+F | Titulos | Medal. | Final | ½ f | Pts | Lug. | Pts |
(1º) | (1º-3º) | (1º-8º) | (1º-16º) | (8 p) | (8 p) | (16 p) | ||||
1983 | Helsínquia | 11 | 8+3 | – | – | 2 | 6 | 8 | 27º | 43 |
1987 | Roma | 22 | 15+7 | 1 | 2 | 4 | 11 | 19 | 18º | 69 |
1991 | Tóquio | 23 | 12+11 | – | – | 4 | 5 | 10 | 28º | 48 |
1993 | Estugarda | 24 | 12+12 | – | 1 | 3 | 7 | 12 | 26º | 56 |
1995 | Gotemburgo | 23 | 13+10 | 2 | 4 | 5 | 7 | 30 | 17º | 80 |
1997 | Atenas | 30 | 20+10 | 1 | 4 | 6 | 9 | 34 | 14º | 95 |
1999 | Sevilha | 25 | 15+10 | – | – | 5 | 7 | 20 | 24º | 66 |
2001 | Edmonton | 21 | 12+9 | – | 1 | 3 | 5 | 13 | 28º | 44 |
2003 | Paris | 14 | 7+7 | – | – | 2 | 5 | 9 | 34º | 42 |
2005 | Helsínquia | 20 | 11+9 | – | 2 | 4 | 7 | 19 | 24º | 60 |
2007 | Osaca | 23 | 13+10 | 1 | 1 | 4 | 11 | 17 | 22º | 76 |
2009 | Berlim | 29 | 16+13 | – | 1 | 4 | 17 | 20 | 21º | 127 |
2011 | Daegu | 24 | 12+12 | – | – | 5 | 14 | 16 | 23º | 108 |
2013 | Moscovo | 12 | 7+5 | – | – | 2 | 6 | 6 | 40º | 34 |
2015 | Pequim | 16 | 7+9 | – | 1 | 2 | 5 | 11 | 29º | 38 |
2017 | Londres | 20 | 8+12 | 1 | 2 | 3 | 7 | 17* | 26º | 65* |
Nota: Apresentam-se sucessivamente o número de atletas portugueses presentes, a sua distribuição por sexos, o número de títulos e de medalhas e o número de atletas classificados nos oito primeiros (considerados “finalistas”) e nos 16 primeiros (finalistas e semifinalistas). Nas três últimas colunas, apresentam-se os pontos conquistados com base nos oito primeiros classificados em cada prova (8-7-6-5-4-3-2-1 pontos) e a respetiva classificação (oficiosa) e ainda a pontuação com base nos 16 primeiros classificados (16-15-14-…-3-2-1 pontos).
* em 2017 foi introduzida a prova feminina de 50 km marcha, na qual Portugal ganhou 8 pontos (8 primeiros) e 16 pontos (16 primeiros)