Andreia Correia tem 35 anos e representa o EDV-Viana Trail. Conta no seu curriculum com várias vitórias na sua especialidade, o trail. A sua distância preferida ronda os 30/40 km e considera-se muito competitiva. Com uma vida pessoal muito intensa, investiu na sua formação na área do treino e da nutrição.
Andreia Cruz Correia tem 35 anos e é natural de Fátima. Arquiteta e Personal Trainer, representa o EDV- Viana Trail. O desporto fez sempre parte da sua vida. “Já não me lembro de mim sem treinar. No entanto, o atletismo surgiu há aproximadamente cinco anos”.
Estreou-se no mundo das corridas em 2017, nos 12 km do Leiria Run. Gostou da experiência e passou a participar em provas de pista e estrada. Um ano depois, estreou-se no trail, nos 35 km do Pisão Extreme. “Essa prova foi onde tudo começou, onde a paixão pelo trail surgiu. Foi a prova que mudou o meu ‘chip’ para distâncias mais longas e com mais altimetria”.
“Os meus treinos estão divididos em três vertentes: treino de força, corrida e natação”
Atleta e treinadora
Andreia costuma treinar todos os dias, intercalando treino de força, corrida e por vezes natação. Não tem treinador há já algum tempo pois decidiu tirar o curso de Técnica de Desporto, a melhor forma de melhorar os seus conhecimentos na área.
Com o curso tirado, passou a elaborar os seus planos de treino. “Os meus treinos estão divididos em três vertentes: treino de força, corrida e natação. Os treinos são sempre ajustados tendo em conta as provas que vão surgindo”. Para além dos seus treinos, Andreia planeia e organiza os treinos de outros corredores.
Como o dia só tem 24 horas, como é que consegue conciliar as suas funções de arquiteta e personal trainer, com os treinos e provas? “É uma pergunta que muita gente me faz. Tenho duas palavras para responder a essa questão: antecipação e organização. Para além de ser arquiteta e personal trainer, também sou mãe de um bebé com quase um ano. Por isso, tento programar os meus dias ao pormenor”.
“Quando traçamos objetivos/metas, TUDO é possível sendo que é necessário ter muita organização, espírito de sacrifício e paixão”
Organização, espírito de sacrifício e paixão
Andreia é um bom exemplo de uma boa gestão do tempo. Os seus treinos são sempre de madrugada antes de ir trabalhar como arquiteta. Após o dia de trabalho, está com a sua família antes de ir dar treinos/aulas de grupo, que são sempre em horário pós-laboral.
Claro que tem de haver alguma coisa que fica para trás. Quem fica a perder é o sono. “Como não quero abdicar da minha família, dos treinos e da minha profissão enquanto arquiteta, acabo sempre por reduzir muito nas minhas horas de sono”.
E conclui: “Não me canso de dizer que quando traçamos objetivos/metas, TUDO é possível sendo que é necessário ter muita organização, espírito de sacrifício e paixão”.
“Gosto muito mais de provas de montanha com mais altimetria e pisos mais técnicos. Acaba por ter outro espírito”
Azores Trail Run e Trail do Sicó com gostos opostos
Com várias vitórias no seu curriculum, corre cerca de 16 provas de trail por ano, uma ou duas por mês em média. “Mas gosto sempre de fazer pelo menos uma prova fora de Portugal”.
Talvez pela espetacularidade desta prova, os Açores são o seu local preferido para correr. “Sinto-me desconectada do mundo, sinto que faço parte da natureza, acabo sempre por correr vários quilómetros seguidos sem me dar conta. Fico focada nas paisagens. Gosto de tudo principalmente do clima e das paisagens incríveis”.
Já a prova que menos lhe agradou foi o Trail do Sicó, por o percurso da prova ser em grande parte em estradão. “Pessoalmente, gosto muito mais de provas de montanha com mais altimetria e pisos mais técnicos. Acaba por ter outro espírito”.
Trail sim, estrada não
A sua preferência pelo trail é bem evidente. “Existe toda uma envolvência com a natureza, trilhos completamente diferentes ao longo do percurso, o grau de dificuldade, a altimetria, o inesperado dos próximos quilómetros. Basicamente, é todo um enquadramento bonito e divertido. Mas que na minha opinião, requer mais esforço físico”.
Andreia gosta das dificuldades nos trails. Não se nega a qualquer distância mas o que lhe dá mais motivação, são distâncias com 30 a 40 quilómetros. “E quanto mais altimetria e mais técnico, melhor”.
Ainda não correu uma maratona de estrada, apenas numa meia maratona. A justificação é simples: “Acabo sempre por me cansar de correr em pisos iguais, sem altimetria ou pisos técnicos. Não me dá tanta adrenalina”.
“Eu não corro apenas por competição, mas sim, porque me dá uma sensação de bem-estar”
Momento marcante da sua carreira desportiva
Andreia elege a prova ‘Valdaran by UTMB’, na região de Lérida, como o momento marcante da sua carreira desportiva. Correu a prova numa perspetiva menos competitiva, diferente do habitual porque estava grávida. “Permitiu-me, o facto de ir fora do ritmo de competição, conviver mais, ver os pormenores dos trilhos com calma e desfrutar do momento. Estava grávida de quatro meses, então todo o cuidado era pouco, tive que ir a um ritmo confortável, ter cuidado nas descidas e levar a prova com outro espírito. Foi a única vez que aconteceu, nas restantes, não dá para apreciar nem conviver tanto, pela adrenalina e o espirito de competição”.
Natação, modalidade alternativa
Como boa parte dos atletas, Andreia pensa correr enquanto puder. “Não quero estipular um prazo de validade nem limites, vou correr até conseguir. Mesmo que não faça competição, a corrida vai fazer sempre parte da minha rotina. Eu não corro apenas por competição, mas sim, porque me dá uma sensação de bem-estar”.
Se não estivesse no atletismo, teria optado pela natação, modalidade que sempre praticou, tendo entrado em competições quando era mais nova.
“Quando praticamos desporto de competição, é importante ser acompanhado e fazer exames de rotina”
Lesão grave com recuperação rápida
As lesões já a visitaram algumas vezes. Já partiu uma costela e o tornozelo, em momentos diferentes. A fratura no tornozelo (maléolo lateral) foi a mais grave, teve que ser operada de urgência com colocação de placa e parafusos.
Teve então de suspender as suas corridas durante algum tempo. “O que me ajudou foi nunca parar de treinar, independentemente da lesão, sabia como fazer para me manter ativa. Fiz vários treinos de natação e algum treino específico de core e braços”.
Com o apoio da clínica ‘Phisiocleam’, com sessões diárias de fisioterapia e bastante reforço muscular, Andreia já estava a competir, passados três meses.
Não dispensa os exames médicos de rotina. “Quando praticamos desporto de competição, é importante ser acompanhado e fazer exames de rotina. Faço exames pelo menos uma vez por ano”.
“O espírito inicial de cada prova é de nervosismo e adrenalina e depois no final, o espirito muda para algo mais bonito como o convívio e a camaradagem”
Mudança de mentalidades na prática desportiva
Andreia mostra-se otimista quanto ao futuro da modalidade. Na sua opinião, a população está a considerar o desporto como uma primeira necessidade, não apenas para melhorar a forma física, como também a saúde mental. “A corrida é uma atividade praticada por milhões de pessoas, um pouco por todo o mundo. Esta prática desportiva junta um grande grupo de pessoas. Até os próprios ginásios estão a criar aulas de +running’ em contexto outdoor, de modo a ir ao encontro das necessidades e preferências da população.
As provas de competição são cada vez mais frequentadas pela população de forma competitiva mas também de forma recreativa e de convívio. A libertação de endorfina, somada à melhoria da autoestima proveniente da sensação de bem-estar, provoca um estado de plenitude que o praticante regular de atletismo experimenta e vê que lhe traz benefícios a todos os níveis”.
Competição/Superação
No mundo das corridas, aprecia particularmente a competição individual, a superação pessoal. “Alcançar objetivos pessoais. Queremos sempre evoluir e melhorar cada vez mais”.
Aprecia também o convívio, o poder conhecer mais pessoas. “Estamos todos na prova com a mesma paixão, a corrida. O espírito inicial de cada prova é de nervosismo e adrenalina e depois no final, o espirito muda para algo mais bonito como o convívio e a camaradagem. E apesar de todo o esforço físico e mental, no final, queremos sempre mais, ficamos viciados: para quando a próxima prova?”
“A alimentação é um dos pontos mais importantes para atingir os meus objetivos com a corrida”
Cuidado com a alimentação
Andreia leva a competição a sério, logo tem os devidos cuidados com a alimentação. Assistiu a algumas ações de formação, adquirindo alguns conhecimentos importantes que têm ajudado a equilibrar a sua alimentação. Na sua opinião, “A alimentação é um dos pontos mais importantes para atingir os meus objetivos com a corrida. A minha alimentação é normal, equilibrada e variada. Faço uma seleção dos alimentos com mais nutrientes benéficos para as minhas necessidades”.
Toma ainda alguma suplementação de recuperação no período dos treinos mais intensos. “Tenho o apoio da ‘Goldnutrition’ que permite utilizar produtos para ajudar a minha recuperação entre treinos e também durante as provas”.
Trail deve apostar mais na formação
Andreia tem ideias claras acerca do futuro do trail em Portugal.“O trail deveria apostar mais na formação, criar mais estágios para trail, formação académica para instrução de atletas de trail. Incentivar jovens atletas para a modalidade, incluir esta modalidade nas escolas para que possam vivenciar e adquirir competências desde cedo”.
Quanto à organização das provas em Portugal, não tem dúvidas de que tem-se vindo a melhorar bastante ao longo destes anos.
A quem se inicia no mundo das corridas. “Antes de mais, devemos certificar-nos junto de especialistas que estamos bem de saúde”
Correr com uma costela fraturada
Claro que não faltam estórias curiosas a Andreia. Lembra-se de algumas provas em que pensava que não conseguir participar, por estar lesionada ou com alguma incapacidade. Mas a sua força de vontade e a adrenalina da prova, faziam-lhe esquecer todas as condicionantes/dores.
Uma vez, fez uma prova com a costela fraturada, sem o saber. “Durante a prova, esqueci completamente as dores. A nossa mente tem uma capacidade enorme de superação. No final da prova, as dores voltaram e aí sim, eram muito intensas. Só depois com exames médicos, é que detetaram que estava fraturada, os médicos nem acreditavam que tinha feito uma prova assim”.
Cuidados a ter a quem se inicia na prática desportiva
A terminar, Andreia quis deixar alguns conselhos a quem se inicia no mundo das corridas. “Antes de mais, devemos certificar-nos junto de especialistas que estamos bem de saúde.
Outro ponto muito importante: ao começarmos a modalidade, devemos procurar a ajuda de um técnico de exercício físico para fazer uma avaliação das necessidades/objetivos. A avaliação é um fator bastante importante para a planificação de qualquer treino, é imprescindível avaliar a aptidão cardiorrespiratória e física.
A corrida de longa distância e de longa duração, implica ter uma capacidade aeróbica desenvolvida. Para isso, é necessário antes de chegar a esse patamar, instruir o aluno e prescrever um plano adequado, existindo técnicas que permitam a evolução do aluno para esse objetivo”.