Rui Candeias é atleta e presidente do GDR São Francisco da Serra. Correu em jovem mas parou durante dez anos. Pesava 100 quilos quando decidiu regressar às corridas. No espaço de um ano, fez a Maratona de Lisboa em 2006!É um exemplo a seguir.
Rui Candeias é alentejano de gema, nascido na freguesia de Santiago Maior, concelho de Beja. Tem 41 anos e é técnico de vendas.
O atletismo apareceu cedo na sua vida. Começou a correr aos sete anos numa prova de aldeia, influenciado pelo irmão e amigos deste, que já corriam há alguns anos. Assim se manteve até aos 19 anos, quando terminou o serviço militar. Fez depois um intervalo de dez anos e recomeçou aos 29 anos por motivos de saúde. “Derivado da longa paragem e de muitos maus hábitos alimentares, engordei 37 kg. Desde então e até à presente data, para não voltar a acontecer a mesma situação, pratico atletismo de forma regular”.
Atleta e presidente do G. D. R. São Francisco da Serra
Rui Candeias é além de atleta do G. D. R. São Francisco da Serra (concelho de Santiago do Cacém), o seu presidente e o responsável pelas inscrições dos atletas.
Treina em média quatro vezes por semana, ao final do dia e sempre acompanhado. ”Criámos um grupo no facebook com alguns atletas amigos e somos sempre entre 7 a 10 atletas nos treinos”.
Não tem treinador como acontece com boa parte dos atletas populares. Mas baseado na sua experiência, nas pesquisas na internet e na leitura de alguns livros, elabora o seu plano de treinos, de acordo com o objetivo a que se propõe.
Não considerando as “provas de aldeia” que correu entre os 7 e os 19 anos, a sua primeira prova a sério foi a Corrida do Tejo, em 2005. ” Achei a prova fantástica, nunca tinha visto tantos atletas juntos. Para quem tinha reiniciado a corrida, foi a prova ideal para me motivar para dar seguimento aos treinos”.
“Derivado da longa paragem e de muitos maus hábitos alimentares, engordei 37 kg”
Corrida da Terrugem, a prova preferida
Rui Candeias corre em média 24 provas por ano, alternando a estrada com o trail. Elege a Corrida da Terrugem, nas imediações de Elvas, como a sua prova preferida. “É uma prova que privilegia o convívio e nos proporciona um almoço convívio de excelência, não nos cobrando valores considerados elevados pela inscrição. De salientar a excelente organização da mesma”.
Já a prova que menos lhe agradou foi a Meia Maratona de Lisboa. “Além do valor da inscrição não ser apelativo, torna-se demasiado confusa para quem quer fazer bons tempos. Penso que deveriam existir caixas de partida por tempos, pois assim ficava solucionado o problema”.
“Terminar a maratona de Lisboa…um ano após ter pesado 100 kg… Nem eu próprio imaginava que tal fosse possível”
De 100 quilos de peso a uma maratona no espaço de um ano
A sua distância preferida é a da maratona. Já correu uma dezena delas, tendo desistido numa. Estreou-se na Maratona de Lisboa, em 2006. “Foi uma prova de superação, pois nunca tinha corrido uma distância tão longa e quase não treinei para ela. Consegui terminar em 4h18m”.
O momento da carreira que mais o marcou, foi precisamente a sensação de terminar essa maratona, “principalmente tendo em conta que foi um ano após ter pesado 100 kg e ter iniciado a minha fase de emagrecimento. Nem eu próprio imaginava que tal fosse possível”.
“Hoje em dia, qualquer um pensa em organizar uma prova, pois idealiza que com isso vai ganhar alguns trocos”
Diferenças entre a estrada e o trail
Para Rui Candeias, existem naturais diferenças entre correr na estrada ou em trail. Enumera algumas:
– Os trails requererem uma maior preparação física, derivado de alguma dureza dos percursos.
– Há um maior contacto com a natureza, com os percursos a não serem tão monótonos.
– Existe mais espírito de entreajuda entre os atletas.
– Como ainda não existem prémios monetários neste tipo de provas, um atleta médio pode alcançar boas classificações.
– O principal aspeto negativo tem a ver com um custo das inscrições mais elevado.
Quanto às lesões, pensa que quem só realize provas de estrada, não se lesiona com tanta frequência.
Incentivar os jovens a correr
Não dispensa os exames médicos de rotina e pensa correr enquanto puder. Não tem preocupações especiais com a alimentação mas procura não aumentar novamente o peso.
Quanto a lesões, já esteve parado 51 semanas devido a problemas de coluna, mais precisamente uma hérnia discal. Para além disso já foi visitado pelas canelites e contraturas de esforço, entre outras, mas de rápida recuperação.
Um dos seus grandes objetivos passa pela promoção cada vez maior da modalidade na região, no sentido de incentivar os jovens à sua prática.
No mundo das corridas, aprecia particularmente a facilidade com que se conseguem arranjar novas amizades.
Se não estivesse no atletismo, gostaria de ter seguido o futsal.
Mais quantidade, menos qualidade
Acerca do futuro da modalidade, Rui Candeias é de opinião que o atletismo, apesar de ter mais praticantes, terá cada vez menos atletas de topo, “daqueles capazes de marcar a diferença, como o fizeram principalmente o Carlos Lopes e a Rosa Mota”.
Pensar mais no bem-estar dos atletas e menos nos lucros
Quanto a uma melhor organização das provas, o nosso entrevistado é claro quando nos diz que as Organizações devem pensar mais no bem-estar dos atletas e menos na parte financeira. “Hoje em dia, qualquer um pensa em organizar uma prova, pois idealiza que com isso vai ganhar alguns trocos. Não basta cobrar um determinado valor por uma corrida para esta ter sucesso ano após ano. Temos que pensar em todos os aspetos para que o atleta se sinta confortável, desde a marcação do percurso, abastecimentos, classificações, escalões adequados, prémios, etc. Caso haja alguma falha em algum destes pontos, será o suficiente para não reunirmos as condições necessárias para sermos organizadores de um evento destes”.
Sapatos emprestados
Quanto a estórias curiosas, conta-nos duas. A primeira passou-se numa corrida quando teve de emprestar um par de ténis a um companheiro de equipa, pois este tinha-se esquecido dos dele em casa. “Por sorte, calçávamos o mesmo número, ficando a situação resolvida com o atleta a concluir a sua prova”.
Carro roubado e vandalizado após uma corrida
Esta passou-se com alguns atletas da equipa que foram a uma corrida a um sábado, ao final do dia. Optaram depois por jantar nas festas daquela localidade. Após o jantar e algum convívio, chegaram ao local onde supostamente estava estacionado o carro e repararam que este não se encontrava no local. Tinha sido roubado, tendo aparecido vandalizado e abandonado alguns dias depois próximo do local.