Cláudia Pereira é aos 42 anos, uma das melhores atletas nacionais nas provas de estrada. Corre atualmente pelo Gabinete de Fisioterapia no Desporto onde é massagista em part-time.
Foi muito fustigada pelas lesões que a impediram de ir mais além na alta competição. Foi treinada por alguns dos melhores treinadores nacionais e é dona de um curriculum assinalável.
Cláudia Pereira é minhota nascida em Joane, concelho de Vila Nova de Famalicão. A sua paixão pelo atletismo começou cedo. Aos 13 anos, já corria no Sporting de Braga. “Comecei a correr com amigas da escola e vizinhas. Todas desistiram depois, fiquei eu”.
A sua primeira corrida foi um corta-mato em Famalicão que lhe deixou boas recordações. “Era uma miúda e ganhei. Gostei do ambiente, havia muito público a assistir, muitos atletas e estavam presentes os nossos ídolos”.
Representou também o FC Porto, o JOMA, o Salgueiros e o GFD Running, seu atual clube.
Destacou-se desde cedo, tendo-se sagrado campeã nacional universitária de Corta-Mato pela AAU Minho, e campeã nacional de Corta-Mato Curto por equipas. No seu palmarés, tem ainda o título de campeã nacional de Pista Coberta nos 1.500 m, uma medalha de ouro nos 10 km estrada dos Jogos da Lusofonia de 2014 disputados em Goa e foi vice-campeã nacional de estrada em 2014. Na maratona de Amesterdão disputada em 2014, foi a melhor atleta europeia com 2.37.13.
Esta é a parte mais saliente do curriculum de Cláudia Pereira que aos 42 anos, continua a vencer inúmeras provas de estrada.
“Temos muitos bons treinadores, pena a Federação e as Associações não os aproveitarem devidamente”
Treinadores de elite
Foi treinada por alguns dos melhores técnicos nacionais como Alfredo Barbosa, Sameiro Araújo e António Ascensão. “Estive um ano com o Ascensão, depois quis treinar sozinha. Mas se não se tem uma obrigatoriedade, anda-se ao sabor do vento”. Atualmente, é treinada por Pedro Ribeiro, marido de Sara Moreira.
Cláudia não tem dúvidas acerca da qualidade dos nossos técnicos. “Temos muitos bons treinadores, pena a Federação e as Associações não os aproveitarem devidamente. Alfredo Barbosa e Sameiro do Araújo foram dos melhores que tive”.
“O entusiasmo dos novos runners inspira-me!”
Muito competitiva
Cláudia é muito competitiva. “Com um dorsal ao peito, somos competitivos, há a adrenalina, a competitividade”. Pensa correr enquanto as pernas a deixarem e a cabeça querer mas reconhece que a alta competição não dá saúde a ninguém.
Relativamente à atual “fornada” de atletas populares, Cláudia tem uma opinião curiosa: “Deparo-me com runners que querem bater os seus recordes pessoais em todas as provas, o que não pode ser. Eles são mais competitivos e determinados que os atletas da alta competição. O entusiasmo dos novos runners inspira-me!”.
Participa em média em duas provas por mês e treina seis vezes por semana, habitualmente de manhã com os “companheiros da madrugada”. Trabalha no GFD – Gabinete de Fisioterapia no Desporto em part-time o que lhe possibilita ter as manhãs livres. “Tenho uma excelente equipa a trabalhar comigo e que me apoia”.
As pessoas são o que Cláudia mais aprecia no mundo das corridas. “Somos rivais nas corridas mas amigas fora delas. Já me ajudaram e também já ajudei muitas nas provas”.
- Silvestre da Amadora, prova rainha
A nossa entrevistada é perentória em escolher a S. Silvestre da Amadora como a sua prova favorita. “Tenho participado nela nos últimos anos, é das melhores provas em Portugal. Ambiente extraordinário e com muito carinho do público, a incentivar quem corre. Amadora compete com as provas internacionais”.
Já convidada a dizer-nos qual a prova que menos gostou, deu-nos uma resposta curiosa: “A que não atingi os meus objetivos. Essa é para mim, a pior prova”.
“Somos rivais nas corridas mas amigas fora delas”
Maior tristeza foi em 2007
A sua grande mágoa é não ter ido aos Jogos Olímpicos de Pequim 2008. Estava então no Sporting de Braga e era treinada por Sameiro de Araújo que se propôs prepará-la para a maratona em Pequim. “Em 2007, determinei-me para aquele objetivo e preparei-me para alcançar os mínimos na maratona de Berlim, em Setembro. Mas a duas semanas da prova, lesionei-me e tive uma lesão gravíssima. Foi muito duro, depois de três meses a treinar no duro. Segundo a Sameiro, tudo apontava para conseguir o objetivo”. Esta lesão foi o momento mais negativo da sua carreira.
Mas os momentos positivos suplantam os negativos. Pela positiva, elege a maratona de Nova York que marcou a sua estreia na distância. “Pude correr em todos os cantos do mundo, as pessoas que eu conheci, pessoas que fazem parte da minha vida”.
“Com um dorsal ao peito, somos competitivos, há a adrenalina, a competitividade”
10 km, distância preferida
Os 10 km são a sua distância preferida mas não “foge” a distâncias superiores”. Ainda em Maio, venceu destacada a dura Meia Maratona de Setúbal com passagem pela Serra da Arrábida.
Correu duas maratonas, a de Nova York em 2013 e a de Amesterdão no ano seguinte. Aqui, logo que terminou, pensou dedicar-se mais à distância. “Treinei pouco para Amesterdão, fiquei convicta de que se treinasse mais, conseguia um melhor resultado. Mas fiz uma rutura na maratona e quando retomei os treinos, perdi a vontade de me dedicar mais à distância”.
Os trails ainda não a seduziram. Mas reconhece que têm outro ambiente. “Parecem ser um mundo muito agradável pelo convívio e pelo contacto com a natureza. Pode ser que experimente quando me retirar da alta competição”.
Se não estivesse no atletismo, era capaz de ter escolhido o ténis. “Quando era miúda, passava horas a ver os jogos na televisão”.
“Quando se anda no topo, andamos no limite. Para chegar uma lesão, é um instante”
As malditas lesões
Cláudia podia ter ido mais longe no atletismo mas as lesões não a deixaram. “Sempre que treinava mais para atingir um objetivo, tinha uma lesão”. E acrescenta: “Quando se anda no topo, andamos no limite. Para chegar uma lesão, é um instante”.
Não dispensa os exames médicos de rotina e não tem cuidados especiais com a alimentação. “Como de tudo, o segredo é o equilíbrio, não sigo muito as modas alimentares de hoje”.
“Somos rivais nas corridas mas amigas fora delas”
Faltam mais provas para os mais jovens
Cláudia não tem dúvidas de que as organizações das provas melhoraram muito. “São agora mais profissionalizadas”. No entanto, considera que devia haver mais provas para os mais jovens. “Todos fazem falta, desde os benjamins aos veteranos”.
Projetos futuros
Cláudia não é exigente quanto ao seu futuro: “Quero continuar como tenho andado nos últimos dois anos, com prazer, com o meu clube e os meus amigos. Sei o meu limite. O que me dá prazer agora é poder acompanhar os meus e sentir que eles me acompanham”.
“Como de tudo, o segredo é o equilíbrio, não sigo muito as modas alimentares de hoje”
Desorganização total na S. Silvestre em Luanda
Quanto a estórias, relata-nos duas passadas no estrangeiro, uma em Luanda e outra em Goa. A primeira passou-se na S. Silvestre de Luanda em 2007. No ano anterior, tinha lá ido correr a Fernanda Ribeiro e as impressões trazidas não foram as melhores. Mas Cláudia Pereira aceitou o desafio e foi. “Era uma desorganização total. Havia milhares de pessoas a correr de forma desorganizada. Uns por cima dos jardins, outros entravam a meio, outros saíam a meio da prova. Fui terceira e adorei correr lá, foi dos sítios que mais adorei. Fui sempre bem tratada, adorei a alegria das pessoas”.
A rir no pódio dos Jogos da Lusofonia em Goa
Cláudia venceu os 10 km de estrada dos Jogos da Lusofonia em 2014. Havia depois a cerimónia da entrega das medalhas e Cláudia não sabia como iria reagir quando tocasse o hino nacional. “Estava apreensiva porque as minhas colegas choravam quando iam ao pódio. Mas acabei por passar a ouvir o hino só a rir-me de felicidade. Chorei tanto pelas outras quando tocava o hino mas quando chegou a minha vez, só me deu para rir!”
“Um dos grandes problemas dos atletas de alta competição é acabarmos a carreira e não sabermos fazer nada”
Agradecimento à Xistarca
Como atleta de alta competição, Cláudia soube acautelar o seu futuro. A terminar, não quis deixar de fazer um agradecimento público. “Quero agradecer à Xistarca a oportunidade que me deu em tirar lá o curso de massagista. Um dos grandes problemas dos atletas de alta competição é acabarmos a carreira e não sabermos fazer nada. Estamos então numa idade em que é difícil arranjar trabalho. Estes cursos da Xistarca na área do desporto são importantes. Também tenho tido a ajuda do Gabinete de Fisioterapia no Desporto. Gostava de ficar ligada à modalidade e sempre gostei da parte da massagem”.
Joane pertence ao Concelho de Vila Nova de Famalicão, o Distrito é que é Braga
Caro Arlindo,
Muito obrigado pela chamada de atenção.
Cumprimentos,
Manuel Sequeira