Última edição, em Pequim, teve número recorde de tempos na casa dos nove segundos
Três décadas atrás, era possível contar nelos dedos quantos atletas tinham sido capazes de superar a barreira dos 10 segundos. Em 1987, Roma foi o primeiro palco de um Mundial de Atletismo a ter um cronómetro exibindo uma marca de apenas três dígitos nos 100 m. Desde então as provas de velocidade evoluíram exponencialmente, e o último Mundial, em Pequim, contou com um recorde de tempos na casa dos nove segundos. Para a edição de Londres, no entanto, o cenário não é tão otimista. E, na opinião de grandes velocistas brasileiros, o motivo é simples: o maior rigor no controle antidoping.
O Mundial de 2015 precedeu o escândalo de doping que resultaria na suspensão internacional da Rússia. O país ficou impedido de ser representado em competições da IAAF e apenas meses depois, os atletas que conseguiram provar que se submetem a controles rigorosos, foram autorizados a competir como neutros, sem bandeira. A rigidez desta sanção, além do aumento das reanálises de antigas amostras de urina e sangue – e a consequente punição àqueles que violaram as regras – teriam ligado o alerta.
Oito dos nove finalistas dos 100m e Pequim tiveram tempos iguais ou menores que 10s00
Num levantamento feito, podemos ver que os Mundiais costumam ter marcas mais baixas nos 100 m quando são disputados em ano pós-olímpico (conforme tabela abaixo). Seguindo este padrão, seria de esperar um novo recorde em Londres. Mas uma breve análise no ranking mundial desta temporada abre margem para dúvida. A uma semana do evento, apenas um atleta em todo o mundo correu abaixo dos 9,90 s – Christian Coleman, dos Estados Unidos, que fez 9,82 s. As provas seletivas de velocidade na Jamaica e nos EUA, assim como os meetings da Diamond League, o principal circuito de atletismo no mundo, não apresentaram nenhuma grande performance com ventos de até 2,0 m/s, marca máxima permitida para homologação de recordes.
– “Esse ano não está muito animador. E, por incrível que pareça, tem a ver com o controle antidopagem. Há muita gente com medo de ser apanhado no exame antidoping e estão travando”. Afirmou o brasileiro André Domingos, que conseguiu uma medalha de prata e uma de bronze olímpicos no 4×100 m.