Para quem quiser ver (ou rever) a corrida dos Redmons, o link é este:
https://www.youtube.com/watch?v=yrboO72eJKg
Nos Jogos Olímpicos de 1988 em Seoul, o britânico Derek Redmond foi um dos concorrentes na prova dos 400 metros. Após quatro anos e oito operações nos dois tendões de Aquiles – sendo a primeira após romper um dos tendões no aquecimento da sua estreia olímpica em Seoul – ele estava apurado para a meia-final dos Jogos em Barcelona.
Um anos antes, Redmond fez parte da estafeta britânica que ganhou a medalha de ouro no Mundial de 91, surpreendendo os norte-americanos. Agora em Barcelona, ele queria uma medalha olímpica. Considerado uma grande promessa do atletismo, Redmond foi muto prejudicado pelas lesões, não conseguindo atingir o seu melhor nível. Mas ele acreditava que em Barcelona seria diferente, tinha vencido as duas séries e exalava confiança para aquela meia-final.
Dada a partida dos 400 metros, Redmond sai bem, está no quarto lugar e tudo indica que ele estará na sua primeira final olímpica. Mas pouco depois da metade da prova, um estalo, o único som que Derek não queria ouvir naquele momento:
“De repente, ouvi um estalo estranho. Chega a ser ridículo o que vou dizer, mas no primeiro momento, achei que tinha levado um tiro. Um segundo depois, senti que o tendão tinha rompido e o meu coração disparou”, disse Redmond.
Ajoelhado, segurando o tendão rompido e chorando sem acreditar no que lhe estava a acontecer, Redmond viu os juízes aproximarem-se dele com uma maca e os seus rivais distanciarem-se. O sonho da medalha olímpica estava acabado. Mas o britânico, resolveu levantar-se e saltando rapidamente com a ajuda da sua única perna boa, resolveu completar a prova, mesmo com alguns juízes a tentarem impedi-lo:
“Naquele momento, eu odiava todas as pessoas do mundo, odiava os meus tendões, odiava tudo. E disse a mim mesmo que eu iria terminar aquela prova. Fiz 100 metros assim até que senti uma mão no meu ombro”.
O seu pai Jim Redmond era o seu maior incentivador e era sempre uma presença certa em todas as suas competições. E em Barcelona, estava na bancada quando viu o seu filho sucumbir mais uma vez com a dor. Ao ver o filho levantando-se e tentando completar a prova, não pensou duas vezes. Saltou a bancada, invadiu a pista, driblou os seguranças, tudo para chegar próximo do filho e ajudá-lo nos 100 metros finais. Quando Redmond vê de quem é a mão que toca no seu ombro, começa a chorar:
“Era a última coisa que eu esperava. Quando o meu pai me disse que eu não precisava de fazer isso, eu disse-lhe apenas para me ajudar porque eu precisava de ir para minha pista correta. Nesse caso, disse ele, começámos isso juntos, terminaremos a corrida juntos.”
A multidão presente no estádio (cerca de 65 mil pessoas) começa a aplaudir efusivamente a dupla, que vai lentamente completando a prova, para êxtase total do estádio. Redmond é automaticamente desqualificado por completar a prova por ter sido ajudado, mas cortar a meta, tinha um valor muito mais simbólico. Os dois saem juntos ovacionados, com Redmond ainda em lágrimas e o seu pai confortando-o até aos balneários.
A dramática cena da dupla percorrendo os 100 metros finais fez com que a irmã do atleta, que assistia a tudo pela televisão na sua cidade natal, Northampton, entrasse em trabalho de parto antes do tempo. E esse rompimento do tendão levou ao fim prematuro da carreira de Redmond aos 27 anos.
“Coisas boas aconteceram durante a minha carreira, mas sinto que nunca atingi todo o meu potencial. Definitivamente, eu poderia ter corrido mais rápido do que nunca naqueles Jogos em Barcelona. Eu sinto-me incompleto a esse respeito “, disse Redmond que afirma que foram poucas as vezes em que ele e o seu pai comentaram sobre aquele momento: “O tempo seguiu em frente. O meu velho não gosta de falar sobre a corrida, porque deve ter sido muito doloroso para ele ver-me daquela maneira”.
Redmond seguiu depois a carreira de comentarista e palestrante e o seu pai Jim, foi um dos escolhidos para transportar a tocha olímpica dos Jogos de Londres 2012. O momento dos dois completando a prova juntos é considerado um dos momentos mais emocionantes da história olímpica, sendo inclusive tema de famosos comerciais.
*As declarações de Redmond foram extraídas de uma entrevista ao jornal ‘The Guardian’ em 2007.