José Piçarra tem 63 anos e corre há 46. É atleta do CF Os Belenenses e estreou-se no antigo Corta-Mato dos 10. Prefere provas curtas na pista e corta-mato.
José Piçarra tem 63 anos e está reformado. Nascido em Mem Martins, onde ainda reside, tem a paixão pelo atletismo desde os tempos de adolescente. Foi ver uma prova de pista e gostou. E foi assim que começou a treinar, já lá vão 46 anos.
A sua primeira prova oficial foi em 1975, no Corta-Mato dos 10. As recordações dessa prova não são as melhores. “Foi péssimo, porque saí muito rápido e a meio da prova, tive que desistir, com dor de burro. Encostei logo pois nem conseguia respirar”.
Representa atualmente o CF Os Belenenses e é treinado por Américo Brito. Treina seis vezes por semana e com um plano de treinos.
Preferência pelas provas curtas
Participa anualmente em cerca de 20 provas, a maioria delas na pista e corta-mato. As suas distâncias preferidas são a milha e os 1.500 metros. A maior distância já percorrida foi na Corrida do Jumbo, então com 25 km. Costuma participar nos Europeus e Mundiais de Veteranos.
Apesar de correr há tantos anos, nunca se aventurou numa maratona. Ainda treinou uma vez para ela mas desistiu quando fez um treino longo. “Bebi pouca água, senti-me mal. O meu treinador disse-me que não tinha fisionomia para maratonista, desisti da ideia”.
Momento marcante foi na pista
O momento mais marcante como atleta foi num Nacional de Veteranos do Inatel disputado em Lisboa, quando ao correr no escalão M45, venceu a prova de 800 m, mesmo em cima da meta.
As suas provas preferidas são a Milha Urbana da Baía do Seixal e o Corta-Mato da Amora. Já a prova que lhe deixou menos recordações agradáveis foi a Corrida das Fogueiras, em Peniche. “Ficou marcado na minha memória, nunca mais corri esta prova”. Mas a prova não teve qualquer culpa. “Comi ameixas antes da prova e tive diarreia. Mas o mais grave foi a minha filha, então com quatro anos, ter tido subitamente um problema de saúde muito grave, felizmente curou-se”.
“Estão a aparecer novos futuros atletas, mas têm que trabalhar muito, ser obedientes e ouvir os treinadores”
Convívio e fazer turismo
No mundo das corridas, aprecia particularmente o convívio e a possibilidade de conhecer outros locais.
Costuma fazer exames médicos de rotina e quanto a lesões, elas já o têm visitado, a nível muscular e nos tendões. Tem os devidos cuidados com a alimentação e deixar a modalidade não está nos seus projetos. “Até quando as pernas me deixarem correr e enquanto tiver saúde”. O andebol seria a modalidade alternativa se não estivesse no atletismo.
Há futuro na modalidade mas com muito trabalho
Piçarra acha que as provas de estrada são bem organizadas e quanto ao futuro da modalidade, diz-nos que já o viu pior. “Estão a aparecer novos futuros atletas, mas têm que trabalhar muito, ser obedientes e ouvir os treinadores. Alguns treinadores foram atletas”.
Tempos difíceis com a pandemia
Piçarra tem treinado neste período de pandemia mas sempre com os devidos cuidados no dia-a-dia. Mostra-se otimista quanto ao regresso das provas, lembrando que já recomeçaram as provas na pista, ainda que apenas até aos escalões M55 e F55, na AA Lisboa.
Recordou ainda a primeira prova de estrada disputada em Portugal após o confinamento, no Funchal. “Gostei como estavam os atletas distanciados e com máscara antes de partir. Estou certo que brevemente, vão começar a existir outras provas, aos poucos”.
Quanto aos moldes em que a provas se devem disputar nesta fase, deu as suas sugestões: “Nas corridas na pista, já existem vários moldes para competir: partidas desfasadas em alguns segundos, uma pista de intervalo entre atletas, por exemplo. Nas provas de estrada, quando existem vários atletas a competir, vou dar um exemplo: estão inscritos 500 atletas, deviam sair 50 atletas na 1ª vaga, com marcação no chão para os atletas estarem na partida e com chips; a seguir, saía uma 2ª vaga, e assim sucessivamente. No final da prova, contava o atleta que fizesse o melhor tempo de chip. E tem que haver um controle apertado, para não haver surpresas”.
Quando viu sapatos de ténis “iguais” aos seus
Estórias não faltam a Piçarra. Aqui vai uma passada numa sessão de treinos no Estádio Universitário. “Estava a fazer séries rápidas com o meu amigo Luís Rosa. No final das séries, descalcei os sapatos de bicos e fomos fazer 10 minutos de descompressão. Ao passar pelo local onde deixei os sapatos, disse ao meu amigo, ‘olha, uns sapatos de bicos iguais aos meus’. Acabámos de correr e a seguir, fui tomar banho. Quando cheguei a casa, fui tirar as roupas do treino e os ténis. Qual o meu espanto, faltava um par de ténis, que eram os sapatos de bicos. Afinal, os ténis que tínhamos visto eram mesmo os meus. Telefonei para o estádio, para confirmar se alguém tinha entregado uns ténis, mas ninguém o tinha feito. Pensei logo, já fiquei sem os ténis. Na semana seguinte, voltei lá para treinar, e encontrei o Paulo Ramos que tinha guardado os meus sapatos de bicos. Fiquei muito contente”.
Quando confortou um adversário que perdeu duas provas em cima da meta
Esta passou-se no Campeonato Nacional do Inatel de Veteranos, em Lisboa, com um adversário da região do Porto. “No Sábado, foi competir nos 1500 m e perdeu para o meu colega da equipa, o Luís Rosa (CARRIS) em cima da meta. No Domingo, fui competir nos 800 m com o mesmo atleta que tinha perdido para o meu colega e perdeu outra vez comigo em cima da meta. Estava tão triste que tive pena dele, fui dar-lhe força e dizer para olhar em frente”.
Mais escalões nos veteranos
A terminar, Piçarra deixou algumas sugestões quanto aos escalões de veteranos. “Não tentar reduzir os escalões, algumas provas só têm até aos M65 e F60. Tentar acrescentar os M75 e as F65 porque, nestes escalões já existem muitos/as atletas. Tenho verificado que algumas Associações de Atletismo, só têm um escalão. Também nas provas populares e nos Torneios na Zona de Grande Lisboa, existe até M65 e F60 em dois Torneios e noutro, até M70 e F65. Vamos ver se conseguimos ultrapassar a pandemia, para voltar às provas.