Quais os recordes nacionais de pista coberta mais duradouros? E quais os recordistas nacionais com mais tempo de “reinado”? Nesta longa pausa competitiva, é tempo para uma pesquisa curiosa à história dos recordes nacionais de pista coberta. E, através dela, pode verificar-se que, dos atuais recordes nacionais (masculinos), o de José Urbano nos 5000 m marcha é o mais duradouro (data de 1992, há 28 anos!), seguido dos recordes de Rui Silva nos 800 e 1500 m, que já vêm de 1999 (21 anos). No entanto, José Urbano já antes (desde 1988 – há 32 anos) detinha o recorde. E Carlos Calado é recordista do comprimento desde1995, há 25 anos.
Comecemos pela duração dos atuais recordes. Os 18.52,25 de José Urbano na marcha datam, como referimos, de 1992 e são os mais antigos (28 anos), seguidos das marcas de Rui Silva nos 800 m (1.46,40) e 1500 m (3.34,99), ambas de 1999 (há 21 anos). Rui Silva tem um terceiro recorde (7.39,44 aos 3000 m) que já vai em 20 anos de duração. Seguem-se-lhes os 8,22 de Carlos Calado no comprimento (desde 2002, há 18 anos). E com mais de uma década de duração (11 anos) estão os 21,02 aos 200 m de Arnaldo Abrantes em 2009. Francis Obikwelu e os seus 6,53 em 2011 para lá caminham…
Mas há recordes já batidos que tiveram igualmente longas durações. É o caso, nomeadamente, dos 46,80 aos 400 m de Carlos Silva em 1998, só batidos 21 anos depois por Raidel Acea, com 46,74 em 2019; dos 17,01 de José Luís Fernandes no peso, em 1971, melhorados 20 anos depois por Fernando Alves, com 17,16 em 1991; dos 5930 pontos no heptatlo de Mário Aníbal em 2000, batidos 18 anos depois (2018) por Samuel Remédios, com 5980 pontos; e dos 5,62 de Nuno Fernandes na vara em 1996, batidos 16 anos depois por Edi Maia com 5,64 em 2012. Bem duradouros foram também alguns dos recordes dos primórdios da pista coberta, neste caso “ajudados” na sua duração pelas escassas (ou nenhumas) provas realizadas em Portugal em vários desses anos. É o caso dos 17 anos de duração dos 6,9 (manuais) aos 60 m de António Faria, em 1977, só batidos 17 anos depois por Vítor Mano (7,08); dos 15 anos que mediaram entre os 8,7 (manuais) de Pedro Almeida nos 60 m barreiras, em 1959, e os 8,1 (igualmente manuais) de Alberto Matos, em 1974; e dos 14 anos entre os 14,04 de Eugénio Lopes (em 1959) e os 14,16 de Tadeu Freitas (em 1973), no triplo.
Outra perspetiva é procurar os recordistas (e não os recordes) mais duradouros, já que há atletas que melhoraram recordes sucessivas vezes em anos diferentes. E, neste aspeto, José Urbano também lidera. É recordista dos 5000 m marcha desde 1988 (há 32 anos), quando obteve o primeiro dos seus quatro recordes nacionais, com 19.49,3. Carlos Calado soma 25 anos como recordista do comprimento, desde 1995 (7,44), quando bateu o primeiro dos seus 14 recordes nacionais de pista coberta. Mário Aníbal chegou a 24 anos de “reinado” no heptatlo, desde os 5447 pontos que conseguiu em 1994 até aos 5980 de Samuel Remédios em 2018. José Luís Fernandes foi recordista do peso ao longo de 23 anos, entre os 15,12 de 1968 e os 17,16 de Fernando Alves em 1991. Carlos Silva somou 24 anos como recordista de 400 m, entre 1995 (47,11) e os recentes (2019) 46,74 de Raidel Acea. E Rui Silva, como vimos, detém os recordes de 800 e 1500 m há 21 anos e o de 3000 m há 20.
OS RECORDES NACIONAIS MAIS DURADOUROS
Anos | Prova | Recordista | Marca/ano | Sucessor | Marca/ano |
28 | 5000 m M | José Urbano | 18.52,25 (1992) | em vigor | |
21 | 400 m | Carlos Silva | 46,80 (1998) | Raidel Acea | 46,74 (2019) |
21 | 800 m | Rui Silva | 1.46,40 (1999) | em vigor | |
21 | 1500 m | Rui Silva | 3.34,99 (1999) | em vigor | |
20 | 3000 m | Rui Silva | 7.39,44 (2000) | em vigor | |
20 | peso | José Luís Fernandes | 17,01 (1971) | Fernando Alves | 17,16 (1991) |
18 | comp. | Carlos Calado | 8,22 (2002) | em vigor | |
18 | heptatlo | Mário Aníbal | 5930 (2000) | Samuel Remédios | 5980 (2018) |
17 | 60 m | António Faria | 6,9m (1960) | Vítor Mano | 7,08 (1977) |
16 | vara | Nuno Fernandes | 5,62 (1996) | Edi Maia | 5,64 (2012) |
15 | 60 bar. | Pedro Almeida | 8,7m (1959) | Alberto Matos | 8,1m (1974) |
OS RECORDISTAS NACIONAIS MAIS DURADOUROS
Anos | Prova | Recordista | Marca/ano | Rec.* | Última marca | Sucessor | Marca/ano |
32 | 5000 m M | José Urbano | 19.49,3 (1988) | 4 | 18.52,25 (1992) | ainda não tem | |
25 | comp. | Carlos Calado | 7,44 (1995) | 14 | 8,22 (2002) | ainda não tem | |
24 | 400 m | Carlos Silva | 47,11 (1995) | 4 | 46,80 (1998) | Raidel Acea | 46,74 (2019) |
24 | heptatlo | Mário Aníbal | 5447 (1994) | 4 | 5930 (2000) | Samuel Remédios | 5980 (2018) |
23 | peso | José Luís Fernandes | 15,12 (1968) | 3 | 17,01 (1971) | Fernando Alves | 17,16 (1991) |
21 | 800 m | Rui Silva | 1.46,40 (1999) | 1 | 1.46,40 (1999) | ainda não tem | |
21 | 1500 m | Rui Silva | 3.35,59 (1999) | 2 | 3.34,99 (1999) | ainda não tem | |
20 | 3000 m | Rui Silva | 7.45,27 (2000) | 2 | 7.39,44 (2000) | ainda não tem | |
19 | vara | Nuno Fernandes | 5,10 (1993) | 13 | 5,62 (1996) | Edi Maia | 5,64 (2012) |
17 | 60 m | António Faria | 7,0m (1960) | 2 | 6,9m (1960) | Vítor Mano | 7,08 (1977) |
17 | 60 bar. | João Lima | 8,23 (1982) | 6 | 7,96 (1989) | Rui Palma | 7,93 (1999) |
17 | peso | Fernando Alves | 17,16 (1991) | 12 | 18,98 (1997) | Marco Fortes | 20,08 (2008) |
16 | 60 m | Francis Obikwelu | 6,56 (2004) | 4 | 6,53 (2011) | ainda não tem | |
15 | 60 bar. | Pedro Almeida | 8,7m (1959) | 1 | 8,7m (1959) | Alberto Matos | 8,1m (1974) |
* número de recordes que o atleta conseguiu nessa prova
Mas vejamos, prova a prova, os recordes e recordistas mais resistentes:
60 METROS: Como vimos, os recordistas mais resistentes foram António Faria, ainda nos primórdios da pista coberta, recordista ao longo de 17 anos, e Francis Obikwelu, que já vai nos 16 anos.
200 METROS: O atual recordista Arnaldo Abrantes já vai em 12 anos (21,22 em 2008) e o atual recorde (21,02 em 2009) já dura há 11 anos. Segue-se-lhe o seu antecessor, Ricardo Alves, recordista (21,33) entre 2001 e 2008.
400 METROS: Carlos Silva foi recordista 24 anos até que o ex-cubano Raidel Acea conseguiu 46,74 em 2019. Antes, José Carvalho (49,4 em 1974 e 48,3 em 1981 – ambos tempos manuais) havia sido recordista 14 anos, até Paulo Curvelo conseguir 48,0 em 1988.
800 METROS: Rui Silva já vai em 21 anos como recordista. Antes, Rui Fernandes (1.49,81 em 1981) esteve 12 anos como recordista, até Mário Silva ter conseguido 1.49,72 em 1993.
1500 METROS: Rui Silva segue com 21 anos de recorde. Antes, Carlos Cabral (3.39,9 em 1980) deteve-o ao longo de 10 anos, sucedendo-lhe Mário Silva, com 3.39,63 em 1990.
3000 METROS: Ainda e sempre Rui Silva, neste caso recordista 20 anos. Antes, a maior duração fora de José Lourenço, 12 anos recordista, com 8.37,0 em 1967 e 8.28,6 em 1968, até surgir José Sena (8.08,5 em 1979).
60 M BARREIRAS: Como vimos, João Lima foi 17 anos recordista e Pedro Almeida 15 anos. Luís Sá somou oito anos, entre 2003 (7,86 e 7,79) e 2011, quando Rasul Dabo conseguiu o primeiro (7,78) dos seus cinco recordes (o último e atual, a meias com João Almeida: 7,66 em 2014).
ALTURA: Júlio Fernandes, que passou 1,75 em 1960 e 1,90 em 1964, foi recordista ao longo de 9 anos, até Eduardo Horta conseguir 1,91 em 1969. Depois disso, ninguém conseguiu ser recordista mais tempo.
VARA: Nuno Fernandes foi recordista ao longo de 19 anos, entre 1993 e 2012. Antes dele, Manuel Miguel fora o mais resistente: 9 anos entre 1980 (4,90) e 1989 (Pedro Palma, 4,95).
COMPRIMENTO: Carlos Calado já leva 25 anos como recordista, depois de ter batido 14 vezes o recorde nacional, entre 7,44 (1995) e 8,22 (2002). Antes, o primeiro recordista, em 1959, Eugénio Lopes, só viu o seu recorde (6,50) ser melhorado oito anos depois (1967) por Joaquim Caniços (6,70). Mas entre 1961 e 1966 não houve provas de pista coberta em Portugal…
TRIPLO: Nelson Évora, que bateu o primeiro dos seus quatro recordes em 2006 (17,19), já leva 14 anos como recordista, tendo igualado os 14 anos durante os quais o recorde esteve na posse de Eugénio Lopes, o primeiro recordista (14,04 em 1959), superado apenas em 1973 por Tadeu Freitas, com 14,16.
PESO: José Luís Fernandes (15,12 em 1968 e 17,01 em 1971) esteve 23 anos na posse do recorde, que lhe foi arrebatado por Fernando Alves (17,16). E este esteve depois 17 anos como recordista, até surgir Marco Fortes em 2008 (20,08). Ao longo de 61 anos de pista coberta em Portugal, apenas cinco atletas foram recordistas: José Galvão 9 anos (3 recordes), José Luís Fernandes 23 anos (3 recordes), Fernando Alves 17 anos (12 recordes), Marco Fortes 9 anos (9 recordes) e Tsanko Arnaudov 3 anos para já (2 recordes).
HEPTATLO: Mário Aníbal foi 26 anos recordista…para além daquele entre 1993 e 1994, que Nuno Fernandes bateu. Este já fora recordista entre 1992 e 1993 e ao longo de duas semanas em 1994. E Samuel Remédios vai em dois anos como recordista.
5000 M MARCHA: José Urbano bateu o recorde pela primeira vez em 1988 e não mais deixou de ser o recordista, melhorando-o mais três vezes. Antes dele, Luís Carapinha (1986) e Hélder Oliveira (1987) foram recordistas um ano cada.
Ver Evolução dos recordes nacionais em http://atletismo-estatistica.pt/recordes/evolucao-dos-recordes-nacionais/pista-coberta-m/
Amanhã: Recordes e recordistas femininos de pista coberta mais duradouros