Luís Sousa Pires é aos 61 anos de idade, um dos ultramaratonistas portugueses a caminho das 150 maratonas/ultras. Corredor do mundo, já correu em Havana, Tóquio, Reiquiavique, Rio de Janeiro, Telavive, Chicago, Boston, Ultra Trail de Mont Blanc e a Comrades, entre muitos outros locais. Correu sete maratonas de estrada em dois meses e duas ultras de 100 e 52 km em dois dias seguidos!
Nascido em Vila Nova de Gaia, começou a correr desde 2002. A “culpa” foi do ténis e de uma lesão que lá arranjou. Na recuperação, só foi autorizado a correr. Gostou da experiência e nunca mais parou.
Foi um dos fundadores do Porto Runners em 2003 e está atualmente inscrito pelos “Cães d’Avenida”, clube da cidade do Porto, e na Associação Académica de São Mamede, esta enquanto praticante de triatlo.
Estreia para recordar na Meia Maratona em Lisboa
Estreou-se no mundo das corridas na Meia Maratona da Ponte 25 de Bril, escassos meses depois de começar a treinar. “Foi uma prova com muito boas sensações (1h42m). Adorei todo o ambiente, apesar da enorme confusão na partida. Logo percebi que seria a primeira de muitas”.
Voltou depois em Setembro à capital para correr a Meia da Ponte Vasco da Gama e fez depois a Meia da Nazaré. Com três meias maratonas, sentiu-me preparado para a estreia na maratona e em 1 de Dezembro, ainda em Lisboa, concluiu os 42.195 metros em 3h49m26s. “Foi inesquecível e senti-me, nesse dia, o homem mais feliz do mundo. Recordo o enorme respeito e a muita ansiedade pelo desafio de percorrer a mítica distância. Fui com um grupo de três amigos, e fizemos juntos, quase toda a prova, num ritmo tranquilo e com o único objetivo de chegar ao fim. Treinava na altura, uma média de três vezes por semana e cerca de 40 km. Na semana anterior, fiz perto de 60 km, dos quais 31,6 no domingo. Como facilmente se vê, não tinha nenhuma noção de como se devia treinar para uma maratona!”
Não havia plano que resistisse ao volume de maratonas e ultras maratonas que passei a realizar
7 maratonas de estrada em 2 meses!
Não tem treinador e corre sem um plano de treinos. “Sempre fui bastante ‘indisciplinado’ e, apesar de reconhecer os seus benefícios, deixei de os fazer. Até porque, não havia plano que resistisse ao volume de maratonas e ultras maratonas que passei a realizar. Durante 2012 e 2013, por exemplo, foram 36 maratonas e ultras. Tive sequências de provas em dias seguidos (100 km de Portalegre a 18/05/2013 – 16h03m e 52 km da Geira Romana no dia seguinte – 5h36m) ou em 2016, sete maratonas de estrada em dois meses (02/10 Lisboa; 09/10 Budapeste; 16/10 Amesterdão; 06/11 Porto; 13/11 Atenas; 20/11 Havana e 04/12 Gerês).
Confessa que não é muito regular nos treinos e que exagera por vezes. “Lembro que em 2010, a treinar para a Comrades, ter feito 171 km numa semana em 5 dias, andando de bicicleta nos outros dois. Nesse fim-de-semana, fiz 48 km no sábado e 46 no domingo. Os meus treinos sempre estiveram associados a objetivos e participação em provas. Para me motivar, tinha de me inscrever numa maratona ou ultra e aí sim, aplicava-me nos treinos. Caso contrário imperava a balda”.
“Como sempre digo, a verdadeira maratona, para mim, é a de estrada”
De lesão grave no joelho à maratona de Reiquiavique
Neste momento, a sua forma está longe da ideal pois contraiu em Fevereiro uma lesão grave no joelho (Condropatia Grau II). “Estou a ser muito bem acompanhada pelo corpo clínico do Centro de Medicina Desportiva do Porto, onde destaco, a super dedicada e competente fisioterapeuta Bárbara”.
Esteve seis semanas sem correr e agora com dois treinos por semana, só estava autorizado a treinar até hora e meia.
Dizemos “só estava” porque Luís Pires acompanhou a sua filha a Reiquiavique no passado dia 18. Enquanto ela correu a meia maratona, ele não fez a coisa por menos. Correu a maratona em 3h59m18s e foi o 546º da geral entre 1323 classificados e 19º do escalão entre 60.
Totalista das maratonas do Porto e do Gerês
Luís Pires tem uma profissão liberal, mediador de seguros, situação que lhe facilita bastante a gestão do tempo e lhe permite correr no estrangeiro sem dificuldades. “É claro que me obriga a ter muita disciplina e trabalho fora das horas normais, que incluem noitadas e fins-de-semana”.
Homem das grandes distâncias, tem o hábito de correr uma dúzia de maratonas/ultras por ano. A lesão no joelho prejudicou-lhe a média deste ano mas depois de Reiquiavique, já tem mais duas ou três em perspetiva até Dezembro.
A sua distância preferida é a da maratona. Já correu 107 e ainda 36 ultras. Já quanto à sua prova preferida, não hesita em eleger a maratona do Porto onde é um dos totalistas com 14 participações. “A organização, de alto nível, é das melhores que conheço. Num percurso muito bonito, e numa cidade que está na moda, espero nela continuar a participar”.
Outra maratona que merece a sua preferência é a do Gerês, onde também é totalista com quatro participações. “Pelas suas características, onde incluo a enorme beleza do percurso, e grau de dificuldade”.
Alucinação no Ultra Trail Mont Blanc
Com tantas provas no estrangeiro, o mítico Ultra Trail Mont Blanc tinha de fazer parte do seu curriculum. Foi em 30 de Agosto de 2013 que Luís Pires partiu de Chamonix, enfrentando o desafio de 168 km e quase dez mil metros de desnível positivo acumulado. Não foi fácil, pois esteve dois dias e duas noites sempre a correr ou a caminhar. “Foi a prova mais difícil e exigente da minha carreira. Após a segunda noite completa e depois de chegar ao topo da última subida em La Tete aux Vents, já em pleno dia, tive uma alucinação. Aproximei-me da ingreme descida, com enormes rochas, e quando olhei para baixo, preparando o salto para a primeira rocha, vi-me calçado com chuteiras de pitões de alumínio (!) – Joguei futebol durante muitos anos – e, desesperado, pensei que não iria ser possível terminar a prova. Foram breves instantes, e algo que já tinha sido referido por outros atletas mas nunca me tinha acontecido”.
O gosto dos novos desafios
Afinal, o que faz Luís Pires correr tantas maratonas e ultras? Diz-nos que gosta de ir à procura de novos desafios e, nesta fase da vida, aproveitar para também conhecer novos destinos. “O novo conceito de ‘maraturismo’ seduz-me. Face à minha lesão recente do joelho, vou (tentar) focar-me nas maratonas e dificilmente voltarei a participar em ultras”.
Parar é morrer e eu não tenciono parar tão cedo. Espero que vontade e motivação nunca me faltem
Muitos momentos marcantes da carreira
Com tantas “aventuras” bem-sucedidas, é natural que não eleja apenas um momento marcante na sua vida de atleta popular. “O UTMB foi algo extraordinário pela dimensão e organização da prova, e pelos locais percorridos. Mas tantos países e cidades visitadas, têm-me enchido a vida de momentos únicos. Desde a Maratona de Tóquio, à de Chicago, Boston ou Miami. Desde a Maratona do Sol da Meia-Noite no norte da Noruega, à Ultra Comrades, ou a “Big Five Marathon” ambas na África do Sul, esta última em plena savana. Passando por outras cidades como o Rio de Janeiro, Havana ou Telavive, Paris, Londres ou Berlim. Em Espanha, em quase todas as principais cidades (Madrid, Barcelona, Valência, Sevilha, Saragoça, Bilbau, Corunha, entre outras) e muitas outras cidades e países da Europa ocidental e de leste. É mesmo muito difícil destacar um momento. A última edição da Maratona do Gerês, onde completei a 100ª Maratona oficial de estrada, encheu-me de orgulho e marcou-me, é verdade!”
Diferenças entre a estrada e o trail
Atleta do pelotão experimentado nas duas vertentes, encontra muitas diferenças entre correr na estrada e na montanha. “Como sempre digo, a verdadeira maratona para mim, é a de estrada. Já participei em muitas provas de montanha, com a distância da maratona e superiores, e o grau de dificuldade não é comparável. Tenho consciência de ser um assunto controverso mas, ao meu nível, e atendendo a vários factores, não é assim tão difícil ser finalista numa prova de trail com um grau de dificuldade média, comparado com a maratona. Não é possível comparar provas de 100 km de estrada (asfalto) como por exemplo Millau (França), Florença ou Salzburgo, com os 100 km de montanha, como por exemplo Portalegre, ou os “101 Peregrinos” em Ponferrada (Espanha)”.
Dá-nos alguns exemplos de um grau de exigência muito diferente na montanha. “ Quem tem a sorte, por exemplo, de apanhar numa prova de trail, o Pedro Amorim (médico e meu grande amigo), fica a perceber melhor o meu ponto de vista. É dos atletas mais experientes de Portugal e um excelente conversador. Chega a mandar parar quem o acompanha para contar uma história, seja sobre uma recôndita aldeia que se vislumbra ao longe ou sobre uma espécie de cogumelo que nasceu num qualquer trilho”.
Abastecimentos nos trails – da bifana à sopa
Os abastecimentos são outro pormenor onde a diferença entre a estrada e o trail é bem visível. “Na montanha, são em locais normalmente privilegiados e propícios ao descanso e a uma conversa com os nossos companheiros de caminho e amigos. Podemo-nos sentar a desfrutar da paisagem, comer uma boa bifana e até, se for possível, repetir uma sopa. Nada de semelhante com os abastecimentos nas provas de estrada, onde na maior parte das vezes nem se pára. Acho piada aliás, aos muitos comentários e avaliações sobre uma qualquer prova de montanha. ‘Imagina tu, nem uma sopa tinham… não volto lá mais!’ É este o espírito destas provas, ou seja, um bom repasto, uma boa paisagem e não é para se fazer, é para se ir fazendo (…) porque temos muito tempo. Da minha parte nada contra, antes pelo contrário!”
“O mundo das corridas abriu-me novos horizontes, mudei muito a minha mentalidade e a forma de estar na vida”
Malditas lesões
Não dispensa os exames médicos de rotina e quanto a lesões, elas têm-no visitado nos últimos três anos. Foi uma queda violenta de bicicleta num treino de triatlo, com uma luxação acrómio-clavicular grau IV; também um grande esporão no calcâneo. Já este ano, e depois de ter participado na Maratona de Telavive, apareceu-lhe a condropatia Grau II que o obrigou a parar e regressar há apenas meia dúzia de semanas.
Quanto à alimentação, não tem nenhum cuidado especial, embora procure ser equilibrado nos seus hábitos alimentares. “Nunca fui de exageros, tanto na comida como na bebida, e também nunca fumei”.
Novos desafios pela frente
Como apaixonado das corridas, Luís Pires só podia pensar em correr até morrer… “É o que eu espero. Se não fosse a minha lesão no joelho, diria que gostava de fazer uma maratona com 80 anos, nem que fosse no tempo limite, normalmente seis horas. Gostando também de andar de bicicleta ou nadar, abrem-se outras oportunidades de exercitar o corpo. Porque não, recriar uma etapa da volta a França?! Ou fazer uma qualquer travessia de mar?! Parar é morrer e eu não tenciono parar tão cedo. Espero que vontade e motivação nunca me faltem e que a saúde não me pregue uma partida”.
Condicionado pela lesão no joelho, e mais limitado fisicamente, está a alterar progressivamente o paradigma das suas provas. A sua primeira decisão foi de abandonar as provas de trail. “Pensando muito em concreto nas descidas muito técnicas, e na sobrecarga em todas as articulações, foi uma decisão que nem me custou assim tanto”. No futuro, pensa não repetir provas, com exceção da “sua” maratona do Porto. Pretende ainda participar na Maratona de Nova Iorque, para fechar as seis “majors”. Mas aqui, não vai ser fácil pois Nova Yorque é no mesmo dia da do Porto. “O facto de ser aqui totalista, tem inviabilizado tal desiderato”.
Triatlo como modalidade optativa
Luís Pires jogou futebol federado durante duas décadas até aos 39 anos de idade (era defesa central). Como gosta muito de correr e também de andar de bicicleta e nadar, pensa que o triatlo seria a modalidade ideal para si e onde podia ter conseguido bons registos. “Iniciei-me muito tarde, em 2013 com 56 anos. Logo nesse ano, lancei-me nas distâncias mais longas estreando-me no Ironman. Nesse mesmo ano, fui vice-campeão nacional, no meu escalão etário, na distância half Ironman”.
Mais gente a correr mas menos valores a despontar
Não tem uma opinião muito formada sobre o futuro da modalidade. Reconhece que há mais gente a correr. “A subida exponencial do número de provas, de estrada, mas ainda mais, julgo eu, de montanha, tem contribuído para incrementar significativamente o número de participantes”.
Na parte federada e particularmente nas distâncias mais longas, Luís Pires lamenta a falta de novos valores com o nível de António Pinto, Carlos Lopes, Fernando Mamede, gémeos Castro, Rosa Mota ou Fernanda Ribeiro, entre outros.
“…A oportunidade de conhecer novas pessoas, que passam, não raras vezes, a amigos, é um aspeto que muito me agrada”
Mundo das corridas na base da mudança de mentalidade e forma de estar na vida
Apesar de só ter começado aos 46 anos, Luís Pires não tem dúvidas da importância que as corridas têm tido na sua vida. “Para além de me ter proporcionado manter-me bem fisicamente, abriu-me novos horizontes, mudei muito a minha mentalidade e a forma de estar na vida. Lembro-me muito bem da Maratona de Cracóvia, por exemplo, que me deu a oportunidade de visitar Auschwitz e de perceber o quão pequeno é o nosso sacrifício numa maratona, comparado com o sofrimento de seres humanos indefesos durante o holocausto. Também a oportunidade de conhecer novas pessoas, que passam, não raras vezes a amigos, é um aspecto que muito me agrada. Neste particular, a vertente trail proporciona com mais facilidade, sem dúvida, essas amizades, até pela entreajuda que sempre existe neste tipo de provas. E as longas caminhadas convidam à conversa, é indiscutível”.
Mais diálogo entre as Organizações, precisa-se!
Considera que devia haver mais diálogo entre as organizações. Dá o exemplo das maratonas de Lisboa e do Porto, separadas por poucas semanas. “Tratando-se das duas maiores cidades do país, não faz qualquer sentido e ficam, na minha opinião, ambas a perder”.
Em hipotermia na maratona de San Sebastian
Com tantas maratonas e ultras, estórias não faltam a Luís Pires. Eis a primeira passada na maratona de San Sebastian, em 2003.
Após completar a prova debaixo de um dilúvio, entrou em hipotermia, num estado de gelidez extrema. Ainda conseguiu tirar a t-shirt e as meias ensopadas mas depois, já não se conseguiu mexer. Até que houve um atleta espanhol que lhe fez sinal para esperar. Foi buscar o seu automóvel, ajudou-o a levantar-se, meteu-o no seu carro e ligou o aquecimento no máximo. Levou-o depois ao hotel. Uma das mágoas de Luís foi não ter ficado com o seu nome e contacto para lhe poder agradecer devidamente. “O espirito do atletismo é isto!“
António Pinto venerado pelo diretor da maratona de Fukuoka
Esta passou-se em 2004, na Maratona de Londres. Luís Pires foi jantar na véspera ao restaurante dos atletas de elite, tendo ficado na mesa de António Pinto, a seu convite. “Como homem do norte que se preza, foi um regalo vê-lo comer e beber… nem parecia que tinha uma maratona no dia seguinte. Mas o que quero realçar é a reação do director da Maratona de Fukuoka do Japão quando viu o nosso grande atleta português. Incrível como ficou longos momentos a venerá-lo. E que diferença para o que se passa em Portugal, desconhecido de quase todos, mesmo de quem pratica esta modalidade”.
Aterrorizado numa corrida na África do Sul com um “poio” a fumegar!
Em 2010, Luís Pires participou na “Big Five Marathon”, prova disputada na África do Sul. “Foi uma prova diferente que me proporcionou momentos empolgantes e de muita adrenalina. Percurso de trilhos em plena savana africana, habitat de muitos animais bonitos, mas que preferimos ver à distância. Escoltados por seguranças ao longo da prova e quando estava a correr sozinho a poucos km da meta, vi mesmo à minha frente, um enorme ‘poio’ ainda a fumegar. Pensando que, pelo volume, se tratava de um elefante – comem 300 quilos por dia – fiquei aterrorizado e a fazer contas à vida”.
Experiência fascinante na maratona de Tóquio
Correu a maratona de Tóquio em 2016, tendo ficado muito admirado com o elevado número de atletas de idade a completar a prova. “O Japão é considerado por muitos, o país que vive com mais intensidade esta mítica distância. O tempo limite para completar a prova é de 7 horas, algo que será muito raro e que julgo até ser único no mundo. Isto para permitir, julgo eu, que haja mais atletas de idade a participar. São largas dezenas com mais de 75 anos e alguns com mais de 80, a esmagadora maioria nipónicos”.
Correr maratonas no dia de aniversário
Para quem tem a paixão das corridas, correr no dia do seu aniversário, é sempre especial. É o que tem feito Luís Pires. Correu o seu 50º aniversário em Palermo e o 60º, em Havana. “Fui sozinho. Anunciei à família a minha presença em Cuba cantando ao telefone uma cantiga dos “Buena Vista Social Club”. Informo, para que não haja mal entendidos, que lido muito bem com o avançar da idade e estou feliz com a vida”.
Em 2017, também no dia dos seus anos, correu a maratona de Valência, a sua 99ª de estrada. “Durante o almoço e após a prova, fui surpreendido com um bonito e prático presente do grupo que foi desde o Porto, composto por oito atletas. A maior surpresa foi no entanto, durante o voo de regresso, quando foi anunciada a minha presença na instalação sonora da Ryanair, informando o número de maratonas realizadas e o meu aniversário. Um aplauso de todos os passageiros e tripulantes, bem como o grupo que me acompanhou, vir ao meu lugar e cantar-me os parabéns, deixou-me orgulhoso e comovido. É este o espirito que nos acompanha em muitos desafios e que os tornam únicos”.
Três pontos negativos, de dimensão muito diferente
A terminar esta longa entrevista, Luís Pires quis referir-nos três aspetos negativos na sua vida de atleta popular.
1º Falhar menos de 3 horas à maratona por 44 segundos
É uma das “mágoas” que lhe ficou. O seu recorde pessoal está em 3h00m43s, conseguido em 2012, em Barcelona. “Estive várias vezes em condições para conseguir esse objectivo mas, por razões várias, também falta de pernas, nunca o consegui. Nesse início de 2012, já no escalão M55, tive a seguinte sequência:
– 19/02 Sevilha – 3h03m26s. Depois dos 30 km, calmamente com o balão das 3 h, e a pensar que já não fugia, tive uma queda aparatosa seguida pouco depois de ida à ‘casa de banho’. Perdi de vista o dito balão que, soube depois, rebentou entretanto… só azares.
– 25/03 Barcelona – 3h00m43s, que já referi.
– 15/04 Corunha – 3h02m40s. Debaixo de temporal de chuva e ventos fortes.
– 22/04 Madrid – 3h08m49s. Uma semana depois da Corunha e numa das maratonas mais difíceis, com muitas subidas sendo a última de um grande desnível.
Tive outros tempos próximos, como em 2006 em Chicago com 3h03m02s. Sem qualquer noção do tempo que vinha fazendo, pois só muito mais tarde, passei a usar relógio com GPS. Nessa prova, como vinha de 3h08m em Londres, e como sabia que o recorde ia cair, fiz uma segunda metade sem forçar nada. Com GPS e com companhia durante a prova, era certo que baixava das 3 horas. E comecei depois a fazer sequências que deixaram de permitir grandes tempos. Mas enfim, dou-me por muito satisfeito com tudo o que tenho conseguido concretizar”.
2º Morte recente da sua irmã Isabel
“Foi a pessoa que, desde sempre, mais me apoiou… nas corridas e na vida. Falo da minha irmã Bé (Isabel) que me acompanhou em muitas provas e a quem muito devo, a todos os níveis. Em todas as provas que fiz, tinha de imediato de lhe ligar quando terminava, para a sossegar. Ainda cá estava (fisicamente) quando completei a 100ª maratona e a Ela dedico tudo o que tenho conseguido”.
3º Falta de um registro dos batoteiros
Finalmente, Luís Pires deixa a sua crítica aos batoteiros. Na sua opinião, devia ser criado um registro com todos aqueles que não olham a meios para atingirem os fins. “Estou-me a referir, em concreto, aos que cortam caminho nas provas ou ainda aos que entregam os dorsais a terceiros para correrem por eles e depois aparecerem nas classificações. Deviam ser banidos para sempre e impedidos de se inscreverem em todas as provas. Os exemplos sucedem-se, muitos são conhecidos e há, inclusive, quem se vanglorie. Chegam ao ponto de, ao arrepio de princípios éticos e até de caráter, se intitularem totalistas de uma prova. Infelizes e pobres de espirito quem assim procede!”