Luís Miguel Rasteiro começou a correr há cinco anos. Jogou futebol até aos seniores mas não gostava de correr. Deixou de praticar desporto e de fumar. Depois de chegar aos 106 quilos, começou a caminhar e a correr. Ganhou a paixão dos trails ou não tivesse a Arrábida aos seus pés.
Luís Miguel Rasteiro tem 42 anos, é contabilista e natural de Setúbal. Tem estado sempre ligado ao desporto, durante muitos anos ao futebol. Até que o atletismo o conquistou para sempre.
Jogou futebol desde os infantis aos seniores. Mas não gostava de correr, já era assim na escola! Fumador, decidiu um dia que os cigarros iam passar a pertencer ao passado. Sem praticar qualquer tipo de desporto, chegou aos 106 quilos! Andou pelo BTT e parou. Um dia foi ao médico que lhe disse que a partir dos 40 anos, era difícil perder peso. “Dormia mal, o médico disse-me que o problema era ter peso a mais, estive então a um passo da obesidade”.
Estávamos em 2013. Luís Miguel encarou a situação de frente e decidiu começar a fazer caminhadas. “A corrida veio por acréscimo”. É sem dúvida, um bom exemplo de que querer é poder.
Estreia na Corrida do Tejo
E chegou o grande momento da estreia em corrida oficiais. A Corrida do Tejo foi a eleita. “Pensava que ia ser fácil. Mas treino é uma coisa e competição, outra. Foi-me difícil controlar o impulso inicial. Lá fui gerindo até ao fim após a dura subida da Cruz Quebrada”.
Luís Miguel nunca mais parou. Nos dois primeiros anos, dedicou-se à estrada até que em Outubro de 2015, teve o primeiro contacto oficial com o trail. Estreou-se no Duratrail da Arrábida e a partir daí, a estrada ficou para segundo plano.
“Tenho o sonho de participar no Ultra Trail de Mont Blanc”
Objetivos bem definidos
Corre pela Associação Desportiva Tãlentos Team e não tem treinador. Elabora o seu plano de treinos conforme os objetivos traçados. Treina em média quatro vezes por semana, habitualmente acompanhado aos fins de semana. Não tem sido fácil conciliar os treinos com a sua atividade profissional. “Trabalho fora de Setúbal, treino às 20/21 h, gostava de ter tempo para treinar mais”.
Este ano, Luís Miguel pensa correr em cerca de uma dezena de provas. “Há que dar algum descanso ao corpo”.
Tem objetivos bem definidos que passam pelo Campeonato Nacional de Endurance. Participou em 24 de Fevereiro nos 111 km do Ultra Trail do Sicó e vai aos 110 km do Ultra Trail das Aldeias do Xisto. Até lá, vai correr em trails com distâncias entre os 40 e 50 km.
E depois, há o grande sonho: participar no Ultra Trail de Mont Blanc. Quer fazer os pontos necessários e ir ao sorteio por uma vaga.
“Dormia mal, o médico disse-me que o problema era ter peso a mais, estive então a um passo da obesidade”
Maratona de Lisboa e Trilhos dos Reis, as suas provas preferidas
Já correu duas maratonas em Lisboa e nas suas provas preferidas, escolhe a sua estreia na mítica distância como aquela que mais gostou de fazer em estrada. “Sofri um pouco na estreia a partir dos 30 km. Mas foi uma satisfação enorme quando cortei a meta, foi muito bom”. No trail, a sua preferência vai para os Trilhos dos Reis em Portalegre.
Já a prova que lhe deixou recordações menos agradáveis foi a última edição da Meia Maratona de Setúbal que ia à estrada da Mitrena. “Foi uma péssima organização e a população não se portou bem, faltando ao respeito a quem andava a correr”.
A sua distância preferida vai para os 40/50 km. “É o que tenho mais feito ultimamente. Sofre-se e conhece-se outros sítios, dá para usufruir”.
Diferenças na estrada e trail
Na sua opinião, a camaradagem existente no trail marca a grande diferença em relação à estrada. “Aqui, cada um corre por si, mete o seu ritmo até acabar. No trail, há o espírito de camaradagem. ‘Estás mal, queres que te acompanhe?’ A filosofia da prova é diferente e desfrutamos mais do meio ambiente, da natureza”.
Quanto ao momento mais marcante como atleta popular, escolhe a sua recente participação nos 111 km do Sicó. “Corremos e andámos o dia todo, com estados psíquicos muito diferentes”.
“Nos trails, as inscrições são muito caras, deviam pensar na qualidade e não na quantidade, não tornar as corridas um negócio”
Importância da massagem desportiva
Pensa correr enquanto puder e não dispensa os exames médicos. Disse-nos que já existem algumas provas com 100 ou mais quilómetros, que exigem um atestado médico ao atleta.
Tem os devidos cuidados com a alimentação, evitando os excessos. Quanto a lesões, só o visitaram uma vez. “Rasguei um gémeo, estive parado mais de um mês. Passei a fazer massagem desportiva 1/2 vezes por mês, nota-se logo a diferença”.
Corridas a tornarem-se num negócio
Luís Miguel encara com algum ceticismo o futuro dos trails. “Houve um boom enorme mas não creio que vá durar muitos anos. As inscrições são muito caras, deviam pensar na qualidade e não na quantidade, não tornar as corridas um negócio. Ainda vamos participando mas isto não vai durar muito tempo assim”.
Mas nem todos agem desta forma crítica. Para si, algumas provas mantêm a qualidade como é o caso dos Trilhos dos Reis.
“Encontramos muito lixo na serra da Arrábida… Gostava que isso acabasse”
Chegar mesmo à hora da partida
Quanto a estórias, recorda-nos a sua primeira prova ultra que foi em Portalegre. “Estava ansioso e não podia ter corrido pior. Fomos de Setúbal para lá num autocarro alugado. O motorista levou duas pessoas extra que se atrasaram muito. Partimos tarde e chegámos mesmo à hora da partida”.
De Setúbal para Sesimbra via Lisboa
A outra estória passou-se com um companheiro de corrida. “Saímos de Setúbal a caminho do Ultra Trail de Sesimbra. Mas o meu amigo descuidou-se e quando demos por nós, estávamos em Lisboa. Ele fez a viagem como se fosse trabalhar! Lá voltámos para trás, ainda chegámos a horas”.
Apelo ao civismo
A terminar, Luís Miguel deixou um apelo. “Encontramos muito lixo na serra da Arrábida. Peço a todos aqueles que fazem caminhadas ou correm por lá, para terem outro comportamento. Gostava que isso acabasse”.