Oito atletas pioneiras vão correr a Maratona de Boston, em homenagem às oito primeiras participantes oficiais que fizeram história quando correram a prova em 1972.
Quando há 50 anos, Val Rogosheske se colocou na linha de partida da Maratona de Boston, ela era apenas uma das oito mulheres entre milhares de homens.
Agora, elas não vão estar sozinhas. Cerca de 14.000 outras mulheres vão estar ao lado delas, muitas das quais nunca ouviram falar da luta travada para serem autorizadas a correr a maratona.
As pioneiras
Em 1971, a Amateur Athletics Union suspendeu a proibição das mulheres poderem competir em maratonas, abrindo caminho para Rogosheske e as suas sete companheiras poderem correr a edição de 1972.
“Foi o primeiro ano, e apenas oito de nós estivemos lá e amontoadas na linha de partida”, disse Rogosheske à CBS Boston antes da edição deste ano.
Embora essas oito mulheres tenham sido as primeiras oficialmente autorizadas a correr a maratona, elas não foram as primeiras a completá-la.
Em 1966, uma mulher chamada Bobbi Gibb, a quem tinha sido recusada a entrada na prova, saltou de um arbusto perto da linha de partida e juntou-se aos corredores masculinos, disfarçada com as roupas do seu irmão. Ela terminou a prova em 3h21m40s, chegando à frente da maioria dos homens.
Em 1967, Kathrine Switzere inscreveu-se para a maratona sob o pseudónimo ambíguo KV Switzer . Quando ela começou a correr, o diretor da prova agarrou-a, tentando forçá-la a parar. A foto daquele momento foi listada pela revista Life como uma das “100 Fotografias que Mudaram o Mundo”.
Demorou mais seis anos e uma luta infernal para que as mulheres pudessem correr em Boston. Quando o fizeram, Rogosheske estava entre esse grupo restrito, terminando a prova em pouco menos de quatro horas e meia.
“O meu tempo foi 4h29m”, disse Rogosheske, agora com 75 anos.”O meu objetivo era apenas terminar. É meio louco como essa linha de chegada mudou. Os espectadores estavam muito próximos; o meu marido estava lá no final.
Uma equipa feminina honorária para celebrar as oito pioneiras
Este ano, no 50º aniversário desse evento pioneiro, Rogosheske será acompanhada na prova por um seleto grupo de sete mulheres que conquistaram nos anos seguintes, grandes coisas no mundo desportivo.
Mary Ngugi é uma das oito, uma voz muito crítica da violência doméstica que foi parte integrante da formação da Aliança Atlética Feminina, após a morte violenta da queniana Agnes Tirop no ano passado. Ngugi foi terceira na Maratona de Boston de 2021.
Manuela Schar, vencedora por três vezes da Maratona de Boston em cadeira de rodas e cinco vezes medalhada nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, também faz parte do grupo, tal como Melissa Stockwell, medalhada de bronze do Paratriathlon e que já recebeu o Coração Púrpura pelo seus serviços no Exército dos Estados Unidos no Iraque, onde foi a primeira militar norte-americana a perder um membro em combate.
As outras quatro mulheres honorárias são futebolistas, Sarah Fuller, Kristine Lilly, Jocelyn Rivas, que em 2021 completou a sua 100ª maratona depois de ter sido informada em criança de que provavelmente não seria capaz de andar, e Verna Volker, fundadora da Native Women Running, uma organização que incentiva e apoia as corredoras nativas.
Reivindicando um lugar na linha de partida
“Estou muito ansiosa para voltar a Boston este ano com as minhas filhas para comemorar 50 anos das mulheres a serem recebidas na Maratona”, disse Rogosheske.
Ninguém vai ter de saltar arbustos durante a prova da próxima segunda-feira. Tal, deve-se em boa parte a Rogosheske e a outra mulheres que como ela, lutaram pelo direito de reivindicar o que é delas por direito próprio.
Como a própria Rogosheske explicou: “Em 1972, os alunos de Wellesley gritaram ‘Certo, irmã!’ No 25º aniversário, as alunas pareciam minhas filhas, e este ano poderiam ser minhas netas! Eu celebro o progresso ao longo das gerações enquanto as mulheres reivindicam os seus lugares na linha de partida.”