Longe vão os tempos em que as crianças passavam o dia a brincar. Hoje, a realidade é bem diferente, as razões são várias mas a verdade é que diminuiu significativamente a prática desportiva por parte das crianças.
Por outro lado, quando as crianças praticam desporto de forma organizada, elas incorrem muitas vezes em excesso de treino com exigências desmesuradas de pais e treinadores.
Publicamos cinco artigos dedicados às crianças, um por dia. Hoje, temos o do brasileiro Turíbio Barros, mestre e doutor em Fisiologia do Exercício.
A prática regular da atividade física é uma necessidade para as crianças. Entretanto, a vida nos grandes centros urbanos impõe enormes restrições à atividade física espontânea das crianças. Essas restrições acabam por induzir a hábitos extremamente sedentários.
Esta tendência é alimentada pela verdadeira sedução das maravilhas oferecidas pelos vídeo jogos e computadores. Assim, torna-se eminente o risco de graves consequências para a saúde física e mental.
Como interferir neste quadro?
A providência que sem dúvida revelará a preocupação e, sobretudo o bom senso por parte dos pais será sempre o de estimular a criança para a prática da atividade física. Devemos oferecer condições para a criança manifestar a sua tendência natural e espontânea de libertar a sua vontade de correr, saltar, chutar, etc.
Infelizmente, nas grandes cidades são cada vez mais raros, os grandes quintais, os “campinhos” de futebol e os terrenos baldios de antigamente. Quantos de nós, não temos lembranças inesquecíveis de uma infância de intensa atividade proporcionada pelo espaço físico adequado?
Este facto leva à necessidade da interferência dos pais para proporcionar um local e ambiente social adequados à prática da atividade física. Cabe aos pais, a iniciativa de encontrar alternativas para substituir o que a grande cidade não oferece mais. Os centros desportivos, as praças, os parques, escolas de desporto e outros locais adequados, deveriam estar ao alcance das crianças.
No entanto, tal interferência nunca poderá ser uma imposição, uma vez que o aspeto mais importante a ser respeitado para que o hábito seja adquirido é a vontade da criança. Com certeza, sempre haverá uma proposta que será bem recebida. A preferência da criança deve ser respeitada. Se por alguma razão, por exemplo, ela não gosta de nadar, apesar de todos os benefícios da natação, devemos oferecer outras opções.
É oportuno também destacar os problemas eventualmente decorrentes da iniciação precoce em atividades competitivas. Não há, na verdade, contraindicação para a prática desportiva de natureza competitiva para a criança, mesmo em fase mais precoce. Os problemas aparecem quando programas de treino com exagero de sobrecarga são impostos, com objetivos de melhoria do desempenho em prejuízo da saúde.
Deve também ser preservado o aspeto psicológico, evitando-se a transferência para a criança de uma carga de responsabilidade quanto à obtenção de resultados. Nada pior do que o chamado “paitrocínio” levado às últimas consequências. Assim como o adulto, a criança deve fazer desporto com prazer, desenvolvendo a sua coordenação motora, a sua saúde física e mental e propiciando a sua melhor integração social.