Nafissatou Thiam ganhou a medalha de ouro do heptatlo nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro e nos Mundiais de Atletismo em Londres. Com apenas 23 anos, todos lhe auguram um futuro brilhante, sobretudo depois de em Maio ter conseguido 7.013 pontos em Gotzis (Àustria), a terceira melhor marca de toda a história, só superada por Jackie Joyner-Kersee com 7.291 e pela sueca Carolina Kluft com 7.032.
O recorde de Joyner-Kersee obtido em Seoul em 1988 parece impossível de ser batido mas Nafissatou não pensa assim. O seu sonho é coroar-se um dia, não como a melhor atleta do ano mas da história. Para já, deixou para trás o medo de que não ia progredir, quando ganhou o ouro no Rio de Janeiro com apenas 21 anos e após bater a favorita, a britânica Jessica Ennis-Hill. “Estava muito surpreendida com o que havia conseguido e comecei a dar voltas à cabeça e a pensar que talvez já tivesse alcançado o máximo e que nunca mais voltaria a ser a mesma. Tive um montão de dúvidas e foi muito raro, porque até então, não me havia preocupado assim”.
A belga enganou-se nas suas dúvidas como demonstraram os resultados por si obtidos este ano em Gotzis e o ouro no Mundial de Londres.
Nafissatou, filha de mãe belga e de pai senegalês, sempre gostou de desporto. Em pequena, jogava basquetebol com uma equipa de rapazes onde ela era a única menina. Foi a sua mãe que também fez heptatlo, que a meteu no mundo do atletismo, tinha ela sete anos.
Naturalmente que Nafissatou era pior que a mãe quando começou mas pouco a pouco, foi superando-a em cada uma das provas. “Recordo-me de vê-la saltar 1,61 m e pensar que era algo realmente assombroso”. O seu melhor salto é agora de 1,98 m.
O salto em altura e o lançamento do dardo são os seus pontos fortes e sofre mais nos 200 m e sobretudo, nos 800 m, a última prova do heptatlo, que costuma deixar imagens das atletas totalmente exaustas, após o último esforço de dois dias de dura competição. No Rio de Janeiro, a sua luta com Ennis-Hill foi enorme e tudo se decidiu na última prova, onde a britânica costuma ser forte. Para ganhar, ela necessitava de cruzar a linha de meta com dez segundos de vantagem sobre a belga. Nafissatou deu o seu máximo e só perdeu sete segundos. O ouro era seu.
O ano de 2017 foi magnífico para a belga mas o êxito não parece ter-lhe subido à cabeça. À Gala do Mónaco onde foi eleita como a melhor do ano, chegou no mesmo dia porque não queria perder as aulas na Universidade e deu uma maratona de entrevistas, sempre com um grande sorriso e orgulhosa. “Digo sempre aos que começam a praticar desporto que ele vai-nos ensinar muitas coisas na vida e todas positivas. Dedicação, trabalho duro, determinação para conseguires as tuas metas e todas elas não são úteis apenas para o desporto, também na escola, no trabalho e inclusivamente na tua vida pessoal. Creio que seria uma pessoa muito diferente se não me houvesse dedicado ao atletismo. Era tão alta e tão delgada que me era difícil controlar o meu corpo e tive problemas com as articulações. O desporto ajudou-me a melhorar em todos os sentidos e faz sentir-me bem e gostar do meu corpo”.
Nafissatou já não tem medo e com apenas 23 anos, tem muito tempo pela frente para continuar a crescer como atleta e porque não, bater um dia o recorde de Jackie Joyner-Kersee.