Orlando Alves é transmontano, correndo atualmente pelo Ginásio Clube de Bragança. Aos 54 anos de idade, já leva 38 de atletismo. Tem recordes pessoais muito agradáveis para quem sempre foi atleta popular. Tal como outros atletas, onde poderia ter chegado com outro tipo de apoios?
Orlando Alves tem 54 anos de idade e é cabeleireiro. Transmontano nascido na aldeia de Valongo, concelho de Macedo de Cavaleiros, despertou cedo para o atletismo, tinha então 16 anos de idade. “Gostava de desporto e era uma modalidade que podia praticar a qualquer hora”.
A sua estreia numa prova oficial foi na Corrida do S. João no Porto. “Foi uma alegria enorme, porque na altura ir ao Porto correr, para um jovem, era um grande orgulho”.
Atleta do Ginásio Clube de Bragança
Orlando Alves é atleta do Ginásio Clube de Bragança e treina quase todos os dias. Participa em média em 30 a 40 provas por ano e costuma treinar ao final do dia. Tem um treinador e um plano de treinos mas reconhece que nem sempre o consegue cumprir.
A magia da Meia Maratona da Ponte 25 de Abril
Correndo há já 38 anos, tem naturalmente um vasto curriculum de provas. A sua preferida é a Meia Maratona de Lisboa, na Ponte 25 de Abril. Já a que lhe deixou piores recordações foi a Maratona de Sevilha. Não que estivesse mal organizada, simplesmente por se ter lesionado e desistido quando ainda estava longe da meta.
“Não vejo grande caminho para o atletismo no nosso país. Não há grandes apoios, patrocínios para os clubes e associações”
Estreia nas maratonas em Lisboa
Já correu 15 a 20 maratonas, a distância mais longa em que participou. Estreou-se na Maratona dos Descobrimentos, em Lisboa, então disputada em Dezembro. “Foi muito difícil porque não tinha noção como gerir o ritmo. Quanto à experiência, foi boa porque deu-me ânimo para continuar e sentir que para ir para uma prova destas, devia ir mais bem preparado”.
Recordes pessoais
O nosso entrevistado detém recordes pessoais muito agradáveis, tendo em atenção que foi sempre um atleta popular.
10 km: 32m30s
1/2 Maratona: 1h09m23s
Maratona: 2h40m (numa das edições da Maratona Carlos Lopes)
É assim natural que os momentos mais marcantes da sua carreira estejam ligados aqueles em que “conseguia acompanhar as vedetas até perto do fim da prova, não sendo eu profissional”.
Diferenças da estrada para o trail
Para além da estrada, Orlando Alves já participou em provas de trail. Na sua opinião, as diferenças residem: “em estrada, são mais rápidas e o trail é muito mais exigente, requere outro tipo de treino (treino de força) devido a subidas e descidas íngremes”.
Desporto dá saúde
No mundo das corridas, aprecia a possibilidade de “poder conhecer novos lugares, fazer novos amigos, conviver e o desporto no geral torna-nos mais saudáveis”.
Pensa correr enquanto puder e se não estivesse no atletismo, teria optado pelo ciclismo. Não dispensa os exames médicos de rotina e quanto a lesões, elas têm aparecido de vez em quando mas de pouca gravidade. Quanto à alimentação, evita comer processados e no geral, tudo o que seja mau para a saúde.
Futuro do atletismo carregado de nuvens
Orlando Alves vê o futuro da modalidade com pessimismo. “Sinceramente, não vejo grande caminho para o atletismo no nosso país. Não há grandes apoios, patrocínios para os clubes e associações. E sem dinheiro, os clubes não levam os atletas a participar como desejariam nas provas”. E acrescentou: “os clubes deviam ter mais apoios, pois nós, atletas, temos que suportar uma parte das despesas”.
Numa carrinha velha, de Bragança à Maratona de Lisboa
Estórias não faltam a Orlando Alves. Conta-nos uma passada numa das vezes em que veio a uma maratona na capital. ”Foi quando fomos a uma maratona em Lisboa, numa carrinha do clube já muito velhinha. Estávamos em plena autoestrada quando ficámos sem combustível, pois o ponteiro do combustível não funcionava. A nossa sorte foi que conseguimos andar cerca de 2 km e encontrámos uma área de serviço, que felizmente era a descer. Quando chegámos ao centro de Lisboa, ficámos sem bateria e tivemos de andar a pedir às pessoas para nos ajudarem a empurrá-la. O pior é que a carrinha tinha o nome do clube (Ginásio Clube de Bragança) e as pessoas diziam: ‘Então vocês veem de Trás-os-Montes para Lisboa num carro podre?’. O que é certo, é que conseguimos chegar a casa, direitinhos, mas sem nunca desligar o motor da carrinha”.