No terceiro artigo dedicado às crianças e à atividade física, o Fisiologista Turibio Barros fala sobre a orientação de exercícios e a prática desportiva delas, de acordo com as fases de crescimento e desenvolvimento.
Quando pensamos na orientação da atividade física para crianças, o ponto de partida é lembrar uma frase: Criança não é um adulto pequeno! O significado desta afirmação é o respeito às limitações das crianças nas suas diferentes fases de crescimento e desenvolvimento e à necessidade de se adequar as atividades físicas a estas limitações. O curioso é que, hoje em dia, estas preocupações existem em função de que na maioria das vezes, as atividades físicas infantis são orientadas por um adulto.
Este, é até um facto relativamente recente, fruto do cerceamento do espaço disponível para a criança manifestar a sua tendência espontânea de ser ativa. Não faz muito tempo que as crianças faziam desporto por iniciativa própria. O comum era ver um grupo de crianças com uma bola, formando duas equipas, com um critério absolutamente coerente de divisão (geralmente, os dois melhores tiravam par ou impar e escolhiam as equipas). O jogo começava e terminava sem interferência de nenhum adulto. Quem se cansava, tinha todo o direito de sair e a ninguém, era exigido ou cobrado além da sua capacidade ou tolerância.
O mesmo critério valia para qualquer modalidade de jogo ou brincadeira. Todas as iniciativas eram absolutamente espontâneas e seguiam a lógica e as normas estabelecidas pelas próprias crianças. Certamente que não se cometiam exageros nem imprudências. O resultado era a socialização e a promoção da saúde.
Atualmente, nos grandes centros urbanos, as crianças praticam desporto em clubes, escolinhas e centros desportivos, quase sempre orientados por adultos. Nesta nova realidade, muitas vezes deparamo-nos com alguns problemas, exatamente frutos da presença do adulto. É claro que existem muitos profissionais educadores físicos especializados com toda a competência para orientar adequadamente a atividade.
Por outro lado, existem também muitas atitudes inadequadas. Iniciação desportiva competitiva precoce, incompatibilidade de certas modalidades com o estágio de crescimento e desenvolvimento da criança, cobrança exagerada de pais e responsáveis pelo desempenho, às vezes com resultados desastrosos gerando frustração e sentimentos de culpa.
O que não se pode de maneira nenhuma, é privar a criança de ter o direito de fazer desporto por brincadeira. A componente lúdica é fundamental para a criança ter aderência e sentir prazer nas atividades desportivas. A criança deve ter o direito de escolher qual a atividade física que quer praticar.
Uma experiência desastrosa provocada por atitude inadequada de um adulto pode afastar a criança definitivamente da prática do desporto e alimentar ainda mais o hábito de somente fazer atividade na realidade virtual dos jogos de computador.