Apesar de algumas ausências de vulto, a jornada matinal do Campeonato de Portugal, repartida por cinco pistas mas com as atenções centradas no Estádio Universitário de Lisboa e em Braga, proporcionaram alguns resultados de valia e algumas disputas interessantes. Embora, aqui e ali, a separação dos atletas por diferentes pistas tenha dado origem a algumas classificações de duvidosa justiça…
Tiago Pereira, com 16,94 no tripo (4º de sempre), e Cláudia Ferreira, com 53,27 no dardo, foram as figuras da jornada, a par da veterana Vânia Silva, que aos 40 anos de idade conseguiu o seu 19º título no martelo. Destaque ainda para as menos esperadas vitórias de Liliana Cá (61,20) sobre Irina Rodrigues no disco e de Ruben Antunes (68,85) sobre António Vital Silva no martelo; e para os bons desempenhos de Evelise Veiga no comprimento (6,49) e de Vítor Ricardo Santos (46,99) e João Coelho (47,09) nos 400 metros.
Mas vejamos o que de mais relevante aconteceu esta manhã, prova a prova.
Provas masculinas:
100 metros: Ausentes Carlos Nascimento, Francisco Curvelo e Diogo Antunes, o título foi naturalmente para José Pedro Lopes (Benfica), com 10,49 (v:+1,6), bem à frente de David Lima (Benfica), com 10,66, e de André Prazeres (Benfica), com 10,70.
Pena o jovem congolês Dorian Keletele (Sporting), que confirmou a sua qualidade (tem 10,46 como melhor), ao conseguir 10,48 (v:+1,5) na eliminatória, não ter podido ir à final por ser estrangeiro.
400 metros: Excelente prova de Vítor Ricardo Santos (Benfica), com a melhor marca nacional do ano (46,99), e de João Coelho (Benfica), com um recorde pessoal de 47,09 (tinha 47,24) – subiu a 6º sub’23 de sempre. O júnior Omar Elkhatib (Sporting) foi terceiro, mas é são-tomense, pelo que o terceiro lugar do pódio foi para Ericsson Tavares (CA Seia), com 48,56.
800 metros: O ex-júnior Nuno Pereira (Sporting) foi o vencedor de uma prova bem equilibrada, com um recorde pessoal de 1.49,21 (tinha mais 50 centésimos), derrotando em Lisboa o favorito José Carlos Pinto (Benfica), que gastou 1.49,64. Correndo em Braga, João Peixoto (SC Braga) fez apenas mais três centésimos que o vencedor de Lisboa (1.49,24), progredindo 18 centésimos. Outro exemplo negativo dos despiques à distância…
3000 metros: As quatro melhores marcas foram conseguidas em Lisboa, onde Samuel Barata (Benfica) triunfou com 8.06,30, contra 8.10,06 de Hugo Correia (S Salv. Campo), 8.14,30 do cabo-verdiano Samuel Freire (Benfica) e 8.15,11 de Miguel Marques (Sporting), que fechou o pódio. Em Braga, ganhou Luís Saraiva (SC Braga), com 8.16,80 e… três centésimos de vantagem sobre Rogério Amaral (S. Ceira). O melhor em pista coberta, Paulo Rosário (Sporting), optou pelos 1500 metros, à tarde.
100 m barreiras: Tudo normal: vitória de João Oliveira (Benfica), com 14,09, face a Rasul Dabo (Sporting), com 14,20, e terceiro lugar para Paulo Neto (J. Serra), com 14,32, todos em Lisboa (v:-0,3 m/s).
Triplo: Sem Pedro Pichardo nem Nelson Évora, a prova valeu pelos grandes progressos de Tiago Pereira (Sporting), que melhorou de 16,60 na época passada para 16,94 (v:+0,4), marca que o coloca como quarto português de sempre. Teve outro ensaio a 16,57. Bem distantes, os outros atletas do pódio, Marcos Caldeira (Maia AC), com 15,19 (+1,9), e Gil Manuel (J Vidigalense), com 15,17.
Martelo: Um dos despiques mais aguardados foi ganho pelo jovem sub’23 Ruben Antunes (Sporting), que lançou 68,85 (precisamente a um metro do seu recorde pessoal), contra 67,47 de António Vital Silva (Benfica), três vezes vencedor nos últimos quatro anos. João Venade (SC Braga) fechou o pódio 15 metros abaixo, com 52,62…
Provas femininas:
100 metros: Vitória natural de Lorène Bazolo (Sporting), com 11,52 (v:-1,1 m/s), com Rosalina Santos (Sporting) segunda (11,72) e Sofia Duarte (Sporting) terceira (12,01).
400 metros: Melhor marca nacional da época para Cátia Azevedo (Sporting), que conseguiu o seu sexto título consecutivo, com 52,70 e larga superioridade sobre Dorothe Évora (Sporting), com 55,30, e Carina Pereira (SC Braga), com 55,85. Marta Pen (Benfica), que poderia ter ganho os 800 m, optou pelos 400 m e ficou fora do pódio (57,09). Para alguns atletas, os títulos nacionais têm escasso valor…
800 metros: Triunfo claro de Salomé Afonso (Sporting), com a sua melhor marca desta época (2.07,45), em Lisboa. Em Braga, Neide Dias (RD Águeda) obteve 2.10,24, à frente de Francisca Cantante (GR Eirense), terceira da geral, com 2.12,51.
3000 metros: A primeira prova do campeonato proporcionou um curioso despique em Braga, entre a jovem Mariana Machado (SC Braga) e a veterana Sara Moreira (Sporting), com superioridade (esperada) da atleta minhota (9.13,60-9.22,81), embora longe dos 9.02,56 que conseguira este inverno, em pista coberta. Sara Moreira ainda está naturalmente longe da forma, depois de prolongada lesão. Correndo sozinha na Madeira (um dos exemplos tristes desta fórmula de disputa do campeonato…), Joana Soares (J. Serra) ficou com o 3º lugar, com 9.25,23. Susana Cunha (RD Águeda) foi a melhor em Lisboa (9.28,40).
100 m barreiras: Outra final que deixa dúvidas. Olímpia Barbosa (Sporting) foi campeã com 13,85, mas vento a +2,4 m/s, face a Catarina Queirós (J. Serra), que conseguiu um recorde pessoal de 13,91, com vento a +1,1 m/s. Embora Olímpia tenha conseguido 13,87 na eliminatória, com vento a -0,2 m/s. Fatumata Baldé (Benfica) completou o pódio com 13,99 (v:+2,4).
Altura: Sétimo título consecutivo de Anabela Neto (Sporting), mas aquém do que vale: passou 1,74 à terceira e falhou depois 1,77. Longe ficaram a segunda, Jennifer Gomes (Grecas), com 1,64, e terceira, Cláudia Rodrigues (Ág. Pena), com 1,60.
Vara: Sexto título (em nove anos) para Marta Onofre (Sporting), mas “apenas” com 3,90 (à 2ª tentativa), falhando depois 4,10. Nível geral muito modesto: Sofia Carneiro (Maia AC) foi segunda, com 3,22, e Joana Pinto (J. Serra) terceira, com 3,07.
Comprimento: Evelise Veiga (Sporting) continua em bom plano, ao conseguir a sua segunda marca da época (depois dos recentes 6,64), com 6,49 (v:+1,4) logo a abrir, com outro ensaio, mas ventoso (+2,5), a 6,47. A são-tomense Agate Sousa (GA Fátima) melhorou para 6,26 (+0,4) – com outra marca de 6,25 (v:+0,2) – e a já portuguesa Yariadmis Arguelles (Individual) obteve 6,02 (+0,6). Fechou o pódio Teresa Carvalho (Benfica), com 6,00 (-0,5).
Disco: Foi a surpresa da jornada, apesar das “ameaças” anteriores. Liliana Cá (Novas Luzes), campeã em 2009 e 2010, recuperou o título ao derrotar Irina Rodrigues (Sporting), que falhou aquele que seria o seu 11º título (e 10º consecutivo). Liliana conseguiu 58,50 ao 2º ensaio, foi ultrapassada por Irina no 4º, com 60,28, mas recuperou a liderança com 61,20 no 5º ensaio (fez nulo no último). Irina concluiu com insuficientes 60,36. Recorde pessoal para Liliana Cá (tinha 61.02 em 2018), terceira portuguesa de sempre. Jessica Inchude (Sporting) foi distante terceira, com 46,01, à frente de Ivanilda Lopes (Benfica), com 45,06.
Martelo: Vinte anos depois do primeiro título e aos 40 anos de idade, Vânia Silva (Sporting) conseguiu a sua 19ª vitória (16ª consecutiva!). Lançou 61,50, bem à frente das madeirenses do GD Estreito Mariana Pestana (53,17) e Ângela Silva (52,36).
Dardo: Com um recorde pessoal de 53,27, Cláudia Ferreira (Sporting) não só renovou o título nacional como ascendeu a segunda de sempre, apenas superada pela recordista nacional Sílvia Cruz, com ainda “longínquos” 59,76. Distantes, as duas outras atletas do pódio: Marlene Araújo (SC Braga), com 42,69, e Flávia Costa (J Vidigalense), com 42,53.
Nas provas para cadeira de rodas, o jovem Mamudu Baldé triunfou largamente, com 16,03 nos 100 metros e 29,38 nos 200 metros.
O atleta Samuel Freire tem nacionalidade portuguesa (nas mesmas circunstâncias da Jessica Inchude). Segundo o mesmo, a Federação exclui-o do pódio mas não exclui a Jessica Inchude.