Modalidade de saltos é a única prova em que o continente sul-americano é potência no atletismo
Bastaram dois escassos centímetros para interromper uma série de manchetes negativas quando se fala da Venezuela. Yulimar Rojas recebeu a sua primeira medalha de ouro da história do país em Mundiais de Atletismo, após uma emocionante final do salto triplo feminino. Um brilho que contrasta com a maior crise económica e humanitária de todos os tempos no país natal da saltadora, que torce por dias melhores também fora do desporto.
Apoiada pelo governo e residindo há dois anos na Espanha para treinar com o cubano Iván Pedroso e colega de treino de Nelson Évora, Yulimar evitou dar a sua opinião sobre a gestão de Maduro por tratar-se de um tema “delicado”, nas suas palavras. Preferiu agradecer o apoio que recebe do Estado e disse esperar que o seu feito se reflita em oportunidades para outros jovens compatriotas.
– “Fico um pouco triste por tudo o que o meu país está passando. É um país maravilhoso. Sei que vamos sair de tudo isso e vão acabar as disputas, as guerras entre irmãos venezuelanos. Quero dar felicidade, orgulho ao meu país. Fico feliz em poder participar num campeonato e dar alegria. (…) Agradeço todo o apoio e espero que sigam apoiando o atletismo. Não só o futebol, o basquetebol ou o beisebol, mas o atletismo também tem potencial e garra para levar a Venezuela adiante. Espero que possam construir mais pistas. É algo que necessitamos para poder desenvolver o desporto e que haja mais atletas com valor mundial”.
Rojas era forte candidata a uma medalha, mas a favorita ao ouro era a colombiana Caterine Ibarguen, atual campeã olímpica da prova. As duas dominaram a disputa desde o primeiro salto. Ibarguen começou melhor e ainda melhorou a sua marca nas duas tentativas seguintes até chegar a 14,89 m, que seria a sua melhor marca na competição. No quinto salto, porém, Rojas brilhou ultrapassando a rival em apenas dois centímetros. Como ninguém conseguiu superar-se no sexto e último salto, o título ficou na posse da venezuelana.
Na cerimónia da entrega das medalhas, as bandeiras dos dois países foram hasteadas no Estádio Olímpico. O salto triplo feminino é a única prova de todo o programa em que a América do Sul é potência. O único outro pódio do continente até agora em Londres, foi conquistado por outra venezuelana, Robeilys Peinado, que surpreender ao ser bronze no salto com vara feminino.
– “É bom ver que nesta prova, o nível da América do Sul é tão alto. Se seguirmos trabalhando podemos ter muito mais provas em que o atletismo sul-americano esteja no topo. Creio que vai haver grandes resultados. Yulimar é muito jovem e creio que pode levar o bastão muito longe, seguir reinando por muitos anos. Considero que temos muitos talentos para levar o atletismo sul-americano acima” – disse Ibarguen, hoje com 33 anos.