Vítor Dias tem 51 anos e corre regularmente há 13 anos pelo Grupo Dramático e Recreativo de Retorta. Já correu em 15 países e completou 29 maratonas e 25 ultramaratonas e dá vida ao blogue www.correrporprazer.com, uma referência no mundo das corridas. Vai organizar a uma Corrida Virtual nos dias 12 e 13 de Setembro, gratuita e aberta a todos.
Vítor Dias nasceu na freguesia de Campo, concelho de Valongo e tem 51 anos de idade. Reside no Porto há 26 anos e é Técnico de Informática. O desporto fez sempre parte da sua vida, tendo-se iniciado no mundo das corridas há cerca de 20 anos, quando participou na Corrida de S. João do Porto. “Tudo era diferente na altura mas tudo me agradava. Ficava fascinado com a quantidade de gente que corria e em especial, com pessoas de mais idade. Foram essas pessoas que me fizeram acreditar que um dia a corrida poderia fazer parte da minha vida para sempre”.
34 mil quilómetros em 13 anos
Nos sete anos seguintes, Vítor Dias pouco treinava e raramente participava em provas. Mas em 2007, passou a dedicar-se a sério à modalidade. Nestes 13 anos, Vítor Dias contabiliza 34 mil quilómetros percorridos, representando o clube da terra onde nasceu, o Grupo Dramático e Recreativo de Retorta.
Como sucede com a maioria dos atletas populares, Vítor Dias não tem treinador. “Ao longo destes anos, fui cumprindo alguns planos de treino de algumas plataformas online e com dicas de quem corre há muito mais tempo. Com isso, fui adaptando os referidos planos e tenho neste momento, um plano adaptado às minhas necessidades que uso como preparação para as maratonas”.
O número de treinos semanais depende dos seus objetivos. Neste ano em que as provas foram suspensas em Março devido ao coronavírus, treina pelo menos 3 a 4 vezes por semana, “para manter a forma e pelo prazer que a corrida me dá”. Como tem um horário flexível, é-lhe fácil ajustar as horas dos treinos a essa flexibilidade.
“Gosto de viajar e de correr onde nunca corri, de ver coisas novas e de conhecer novas pessoas”
A paixão pelas Maratonas e Ultras
Nos últimos cinco anos, Vítor Dias tem participado numa média de 8 a 10 provas por ano. Mas não são provas quaisquer, apenas maratonas ou ultras, na estrada ou em trail.
Dificilmente repete uma mesma prova. “Gosto de viajar e de correr onde nunca corri, de ver coisas novas e de conhecer novas pessoas. As maratonas provocam-me um sentimento que pode parecer um pouco estranho que é a incerteza de que vamos ou não chegar ao fim. Como não gosto de rotinas e de monotonia, a maratona torna a minha vida mais ativa e diversificada”.
Já correu 29 maratonas e 25 ultras em 15 países. A sua distância preferida passa pela maratona, “pelo desafio e incerteza que a mesma encerra”. A maior distância percorrida foram os 60 km no Ultra Trail Medieval de Santa Maria da Feira.
Tem um recorde pessoal de 3h08m12s e estreou-se na distância na 5ª edição da Maratona do Porto. “A primeira, nunca esquecemos, é única e achamos que a partir daí, nunca nada irá ser igual. Ao terminá-la, estendi o indicador querendo dizer que seria a primeira mas não a única. Fiz o mesmo até à décima. A partir daí, os dedos já não chegaram”.
“As melhores corridas são as que são organizadas por atletas ou ex-atletas. São eles que sabem o que os corredores gostam e querem”
Maratona de Boston e Ultra Trail de Mont Blanc
Foi difícil a Vítor Dias escolher qual a prova que mais gostou de correr. Acabou por eleger a Maratona de Boston. “A organização é incrível. Somos 35 mil transportados em autocarros porque a prova começa num lado e acaba noutro. Não há ninguém que não venha para a rua ver a corrida, fazem piqueniques, são milhares e milhares de espetadores a incentivar. Ela passa pela Universidade, aí há raparigas estudantes que dão beijos aos atletas, tiram fotos com eles, é uma grande festa”.
O Ultra Trail de Mont Blanc é a outra prova eleita no mundo do trail. Fugindo à “regra” de evitar repetir uma mesma prova, já lá foi três vezes. A razão é fácil, residindo num ambiente fabuloso.
Já quando à prova que menos lhe agradou, não foi fácil a escolha. “Não me lembro de uma prova que me tenha dececionado ao ponto de não ter gostado de participar. Há provas com coisas muito boas e ao mesmo tempo, coisas más. Prefiro retirar delas as boas. Se não volto a essa prova, não é porque não tenha gostado mas, como já referi, porque não costumo repetir provas. Há tantas onde quero ainda ir que repetir provas seria comprometer esse meu desejo”.
Mas acabou de escolher a Maratona de Genève. “O percurso é lindíssimo mas a prova tem poucos participantes e quase que não há público”.
“Não há desporto mais democrático. Todos somos iguais”
Diferenças entre a estrada e o trail
Vítor Dias gosta de correr na estrada e nos trails. Claro que encontra diferenças entre os dois tipos de provas. Ei-las: “É costume dizer-se que na estrada, corremos para o tempo e no trail, para a distância. Eu concordo em parte com esta afirmação. O trail tem paisagens fantásticas e o ambiente e convívio e entreajuda entre atletas é mais notório. No trail, tudo é mais descontraído. Corres, andas ou até paras, tudo é possível e feito com mais tranquilidade. Isto para quem corre por prazer pois quem corre mais a sério, pode competir como em qualquer outra modalidade”.
“Muita gente não sabe que o custo do exame médico desportivo é cerca de 10% do valor de umas sapatilhas”
Primeira maratona, momento mais marcante da carreira
Sendo um atleta popular, Vítor Dias considera excessivo dizer-se ter uma carreira no atletismo, dando-nos até uma comparação curiosa. “Eu gosto de cozinhar e não tenho uma carreira na culinária”.
Mas há sempre um momento especial numa determinada corrida que nos leva a nunca mais esquecê-la. “Houve muitos momentos de grande alegria, fruto da superação e do concretizar de vários objetivos. O cortar da meta da primeira maratona, por ser um momento único e que exigiu muito trabalho, talvez tenha sido o mais marcante”.
“É impossível resistir à gastronomia portuguesa”
Ciclismo seria a modalidade alternativa
Como apaixonado que é pelas corridas, Vítor Dias não pensa no dia em que vai ter de parar. Há-de chegar o dia em que vai começar a correr menos mas pensa continuar até a saúde o permitir. Já o ciclismo seria a modalidade alternativa ao atletismo. “É a modalidade que também permite ter a mesma liberdade que a corrida, pedalando onde quero, à hora que quero, sozinho ou com quem quero”.
No mundo das corridas, aprecia particularmente o convívio e a alegria entre os atletas. “Não há idade, profissão ou extrato social que impossibilite qualquer um de a praticar. Não há desporto mais democrático. Todos somos iguais”.
A importância do exame médico desportivo
Não dispensa anualmente os exames médicos de rotina. “Toda a gente deveria fazê-lo, pelo menos o exame médico desportivo. Muita gente não sabe que o seu custo é cerca de 10% do valor de umas sapatilhas”.
As lesões não o têm visitado frequentemente. “As normais de quem ‘se põe a jeito’. Uma ou outra rutura, entorses e duas fraturas devido a quedas. Nada que não se recupere com o devido tratamento e respetivas paragens”.
Tem os cuidados elementares com a alimentação mas confessa não ser muito rigoroso. “É impossível resistir à gastronomia portuguesa”.
Meta dos 40 mil quilómetros e 100 maratonas
Quanto ao futuro, Vítor Dias não tem metas definidas a curto prazo. “Gosto de metas a longo prazo. Para já, será chegar aos 40.000 km corridos e se não houver mais anos como este, quem sabe, chegar às 100 maratonas”.
“O futuro do atletismo é cinzento e cada vez mais longe da era de ouro do atletismo português”
Futuro da modalidade é cinzento
Vítor Dias encara o futuro da modalidade com apreensão. Vê-o como “cinzento e cada vez mais longe da era de ouro do atletismo português. Não há incentivo aos jovens, o desporto escolar não é levado a sério e as alternativas ao atletismo são bem mais atrativas para os jovens do que correr”.
Primazia pelas corridas organizadas por atletas ou ex-atletas
Na sua opinião, as provas mais bem organizadas, são-no por atletas ou ex-atletas. E justifica porquê. “São eles que sabem o que os corredores gostam e querem. Compreendo que o fator económico é importante e fundamental para que as corridas se organizem mas em algumas provas, esse fator está a ser valorizado de mais e há provas em que o atleta se sente explorado face ao valor da inscrição/qualidade do evento”.
Blogue www.correrporprazer.com uma referência no mundo das corridas
- Vítor Dias é fundador daquele que já foi nomeado duas vezes para o melhor blogue do ano na categoria de Desporto pela TVI e Média Capital. Falamos do www.correrporprazer.com, criado cerca de um ano após ter começado a correr.
Quando apareceu, não havia a informação que podemos encontrar hoje. Lá, podemos encontrar artigos sobre corrida, nutrição, lesões, agenda de provas, crónicas, etc. Já teve quase dez milhões de páginas visualizadas, um livro e uma rubrica semanal televisiva com mais de 100 emissões.
“Ganhou posição sobre os demais dada a sua longevidade e sobretudo, pela confiança que foi adquirindo. Graças a mais de uma dezena de pessoas que escrevem neste momento, tornou-se numa referência nacional e internacional na corrida. E ideias não faltam, muitas novidades ainda surgirão”.
Vítor Dias organiza Corrida Virtual em 12 e 13 de Setembro
Após 11 anos de atividade e de muitas organizações e participações em eventos desportivos, Vítor Dias decidiu organizar uma Corrida Virtual que pode ser feita nos próximos dias 12 e 13 de Setembro. As inscrições são gratuitas.
“Será acima de tudo, uma festa para todos aqueles que fazem da corrida uma forma de estar na vida. Poderão correr sozinhos ou em grupo (com as devidas precauções devido à pandemia) e têm um fim de semana inteiro para correr a distância escolhida (5 km, 10 km ou 21 km)”.
Todos os pormenores acerca da prova, assim como o link para as inscrições, podem ser acedidas em: Corrida Virtual Correr Por Prazer.
Quando almoçou feijoada durante o Grande Trail da Serra D’Arga
Não podem faltar estórias a quem já fez mais de 50 maratonas e ultramaratonas. Uma delas passou-se numa das edições do Grande Trail da Serra D’Arga. Vítor Dias e mais três amigos resolveram fazer juntos, os cerca de 50 km da prova, do princípio ao fim. Durante o percurso, passaram por uma zona de piqueniques onde estavam várias famílias a almoçar. “Perguntámos se tinham panados. Uma senhora disse que não mas que tinham feijoada e que nos podíamos juntar a eles. Não hesitámos e sentámo-nos a almoçar em plena prova com os restantes atletas a passarem no trilho ao nosso lado. Tivemos direito a tudo, desde vinho verde, salada de frutas e até café com bolo de chocolate no final. Uma atleta de Lisboa que tínhamos conhecido momentos antes, almoçou connosco. Ainda hoje, ela acha que nós conhecíamos a referida família e que já tínhamos tudo combinado”.