O atletismo é uma modalidade com tradição no Vitória há mais de 60 anos. Carlos Silva é o presidente do clube que conta atualmente com 12.300 sócios. Com cerca de 60 atletas, o Vitória tem acumulado ao longo da sua história, muitos triunfos coletivos e individuais. Já este ano em Guimarães, Samuel Freire sagrou-se campeão nacional absoluto de corta-mato curto.
O Vitória de Setúbal foi fundado pouco depois da instauração da República em Portugal, em 20 de Novembro de 1910. Nesse dia, juntaram-se vários desportistas setubalenses constituindo um clube com o nome de Sport Vitória. Em 5 de Maio do ano seguinte, realizou-se a primeira Assembleia que decidiu que o nome do clube fosse Vitória Futebol Clube.
O atletismo no Vitória terá surgido na década de 60. Lembramo-nos então, de aos domingos, assistir aos jogos de futebol de juniores e juvenis no campo de treinos do Estádio do Bonfim. No intervalo dos jogos, era uma “romaria” de adeptos a irem ver os treinos dos atletas na então pista de cinza do estádio, já destruída. Muitos atletas saíram do Vitória para representar clubes com outras condições como o Sporting CP e o Benfica.
O Vitória foi sócio fundador da Associação de Atletismo de Setúbal em 1983. Mas já em 1979, um grupo de vitorianos ligados ao atletismo do clube, tinham dado os primeiros passos para a fundação da Associação. Entre eles, Tadeu de Freitas e a sua esposa Francelina Anacleto, ambos, antigos internacionais do Sporting CP, João Rebelo, Fidelino de Almeida, Aurélio da Conceição e Feliciano Mota.
Rica história na modalidade
No passado, o atletismo deu inúmeros títulos ao clube e alguns campeões nacionais individuais. Em 1970, a equipa feminina sagrou-se campeã nacional júnior, em campeonato disputado no Porto. As equipas masculina e feminina estiveram vários anos na 1ª divisão nacional com resultados muito agradáveis.
12.300 sócios e 60 atletas
Carlos Silva é o atual presidente do clube que tem mais de 12.300 sócios, apesar de a principal modalidade, o futebol atravessar uma fase menos positiva, no terceiro escalão nacional.
É um clube eclético, contando com uma dúzia de modalidades: futebol de 11, futebol de praia, futsal, andebol, ginástica, atletismo, kickboxing, aikido, judo, taekwondo, karaté e ténis de mesa.
Luís Cruz é o Diretor das modalidades e também da Secção de Atletismo que conta com 60 atletas, 30 deles dos escalões jovens, que participam em provas de pista, corta-mato e estrada.
Os atletas treinam na pista do Complexo Municipal de Atletismo de Setúbal, no Vale da Rosa, arredores da cidade. No entanto, Luís Cruz considera que as condições não são as ideais, dada a má rede de transportes para aquela zona. “É a principal dificuldade na prática da modalidade, a pista ser fora da cidade”.
Muitos títulos coletivos e individuais
Luís Cruz está satisfeito com os resultados dos atletas. Entre 2019 e 2021, o Vitória sagrou-se bicampeão regional de estrada e corta-mato por equipas. Ainda, campeão nacional de pista em 5.000 e 10.000 m em veteranos, obtendo ainda, inúmeros títulos individuais a nível regional e nacional.
Merecem particular destaque, Samuel Freire (campeão nacional absoluto de corta-mato curto em 2022, Andralino Furtado, João Bragadeste, Nuno Rodrigues, Jorge Robalo, todos eles, com triunfos em provas de estrada. Nos veteranos, Ricardo Paixão, João Veiga, Luís Rações, Silvestre Gomes, Gumersindo Rodrigues, Mário Cassaca, João Veiga, Jorge Parrulas, Teresa Coelho e Marco Cardoso, todos eles, com vários títulos nacionais.
Já este ano, o Vitória voltou a ser campeão regional de corta-mato. Foi sexto no Nacional de Corta-Mato Curto e oitavo no Nacional de Corta-Mato Longo.
O clube conta com dois treinadores na pista, com muitos atletas seniores e veteranos a terem o seu próprio treinador. Para Luís Cruz, o covid-19 afetou muitos atletas do clube que têm tido dificuldades em regressar à sua forma normal. “Atletas que faziam 30 minutos aos 10 km, fazem agora 32 ou 33”.
VITÓRIA FUTEBOL CLUBE
Concelho: Setúbal
Ano fundação: 1910
Presidente: Carlos Silva
Sócios: 12.300
Atletas: 60
Técnicos: 2
Orçamento: 15.000 a 20.000 euros
Orçamento entre 15 e 20 mil euros
Segundo Luís Cruz, o orçamento anual da Secção tem oscilado entre 15 e 20 mil euros. Mas as verbas angariadas são normalmente insuficientes, acabando por ser os ‘carolas’ a equilibrar as contas. Com a pandemia, desapareceram todos os patrocinadores da Secção, sendo fundamental o apoio do clube. “Não havia provas de estrada, é lá que os atletas se dão a conhecer e promovem os patrocinadores.”
A Câmara Municipal tem apoiado com a cedência da pista. Tem ainda dado algum apoio monetário mas este tarda a chegar.
Os apoios aos atletas passam pelos equipamentos, inscrições, transportes, seguros, algumas sapatilhas e subsídios a alguns atletas.
“Temos tido ainda algum apoio do ex-atleta Cavaco, agora em Alcoutim. Temos equipamentos com publicidade antiga, os atletas tapam-na com o dorsal quando vão competir”.
Corrida do Vitória em Novembro
Os objetivos a curto prazo da Secção passam por conseguir manter a equipa, dada a falta de apoios. Luís Cruz pensa ainda em reeditar a Corrida do Vitória em 20 de Novembro, data do aniversário do clube. “A Corrida do Vitória custou 10.000 euros com 400/500 atletas. Só para a polícia foram 3.000 euros”.
Quando rebentou um pneu a caminho de um Campeonato Nacional de Corta-Mato
Quanto a estórias, Luís Cruz conta-nos uma passada quando o clube foi ao Campeonato Nacional de Corta-Mato disputado em Vale de Cambra. “No caminho, rebentou o pneu da carrinha. Chamámos o reboque, todos queriam ir correr. Acabámos por comprar um pneu só para desenrascar até ao local da prova. Depois, lá fomos tentar conseguir pneus para voltar em segurança para Setúbal”.
Meter gasóleo em vez de gasolina a caminho da Escalada do Mendro
Esta passou-se quando o clube foi participar à Escalada do Mendro na Vidigueira. “Tínhamos dois atletas de Lisboa que não tinham transporte a horas para Setúbal. Vieram na véspera e dormiram na minha casa. Saímos de Setúbal às seis horas da manhã e fomos à bomba de gasolina. Metemos gasóleo em vez de gasolina, o carro andou cem metros e parou, estávamos então em Águas de Moura. Lá consegui às 6h30m que o pai de um atleta fosse levar os atletas à Vidigueira. Cheguei depois sozinho à prova, já ela tinha começado. Quem ganhou foi um atleta nosso, o Andralino”.
Apelo às entidades da cidade
A terminar, Luís Cruz deixou um apelo às entidades de Setúbal: “Vejam o atletismo como uma modalidade que precisa de apoio. O desporto traz saúde às pessoas, tira os jovens dos problemas sociais”.